Capítulo 6

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Encarei meu reflexo no espelho enquanto terminava de me arrumar, ajeitando o meu cabelo em um rabo-de-cavalo alto, pegando meu pequeno kit de maquiagem e pousando o mesmo sobre a pia do banheiro, pegando os mais básicos de produtos e aplicando em meu rosto. Me maquiei rapidamente, passando o rímel e o lápis de olho preto, esfumando o pó rosado em minhas bochechas, criando uma coloração que contrastava com o meu tom de pele.

Minha pele branca deixava as pequenas manchas pintadas em meu rosto de cor marrom claro, típicas de qualquer pessoa que seja ruiva como eu. Meus lábios rosados continuaram puros e naturais, já que eu simplesmente detesto passar qualquer coisa nos meus lábios, e queria parecer o mais natural possível, para que Payton não pensasse que eu me arrumei por inteira só para contar míseras histórias para ele.

Becky me observava, encostada na porta do banheiro ao canto, de braços cruzados e com um olhar pensativo sobre a minha pessoa, como se estivesse julgando mentalmente as minhas roupas e a minha aparência em geral. Ela tem cabelos loiros brilhantes, olhos azuis cristalinos e corpo esbelta, uma garota definitivamente bonita, e não foi por acaso que se tornou uma jovem modelo em Nova York, e mesmo que não queira admitir isso, tem os mesmos sonhos e medos de qualquer outra em sua profissão.

Ela continuava a me encarar com a cabeça de lado, e acompanhou os meus passos pelo nosso pequeno apartamento compartilhado até o meu quarto, que era claramente o menor cômodo do espaço, mesmo sendo suficiente para todas as minhas coisas e, principalmente, todos os meus livros que trouxe de Nova Jersey. Becky sempre reclamou da quantidade de livros que eu tenho, e acha que eu posso usar o espaço das prateleiras para colocar araras de roupas, que certamente seriam só mais uma espaço para as incontáveis peças de roupa dela.

"Megan, será que eu posso saber onde você vai vestida assim à essa hora?" Ela perguntou com sua voz fina e irritante, e a primeira resposta que veio á minha cabeça foi 'não'. Becky e eu jamais nos demos bem, talvez pelo simples fato de sermos totalmente diferentes ou apenas por não concordarmos com a maioria dos assuntos que nos aparecem. Eu estudo muito e trabalho quando posso, já ela dorme até o meio-dia e trabalha durante a tarde e a noite, sem nenhum estudo além do Ensino Fundamental e o Médio, ganhando algum dinheiro extra com as noites que recebe com os executivos dos eventos.

"Bem, eu vou trabalhar. Eu sei que parece estranho, mas eu meu novo chefe exige que eu chegue depois das dez da noite." Expliquei brevemente, pegando a minha bolsa com o meu celular e a minha carteira dentro, apoiando-a em meu ombro e checando o horário no relógio, vendo que faltava meia hora para as dez da noite, sabendo que eu ainda tinha tempo para pegar o metrô e ainda chegar no apartamento de Payton no horário, já que ele mora no centro de Manhattan, perto do Central Park.

"Um trabalho, em um sábado à noite?" Ela questionou com ironia, olhando-me de cima à baixo. "Não acha que é essa roupa é meio inapropriada para o tal trabalho?" Disse ela, e logo voltei a me irritar com Becky, mesmo que evitasse essa situação ao máximo.

"Escute, eu não vou me prostituir, se é o que está pensando, tenho coisas melhores e mais honesta para fazer." Revoguei com irritação, vendo a loira fechar o sorriso irônico de seu rosto. "Meu trabalho é o mesmo de sempre, vou contar histórias para um...garotinho, filho de um amigo do Tayler." Menti, não querendo escutar as desconfianças iludidas do meu emprego. Se Becky soubesse que vou contar histórias para um rapaz já adulto, certamente desconfiaria ainda mais do meu trabalho.

"Tayler? Aquele seu ex namorado loiro com quem você transa às vezes?" Ela questionou, provando que não me conhece nem um pouco, ou até demais.

"Uh, esse mesmo." Confirmei timidamente, apressando-me para sair logo e pegar o metrô. "Eu preciso ir, devo voltar até a meia noite." Informei, indo até a porta do apartamento, mais uma vez ouvindo os passos da loira logo atrás da minha pessoa.

"Não se preocupe com o horário, leve sua chave porquê eu vou sair e devo voltar só pela manhã." Avisou ela, com um sorriso em seu rosto.

"Ótimo, mas por favor não traga ninguém para cá. Eu tenho que trabalhar amanhã logo de manhã e não quero acordar e ver um cara qualquer nu, no sofá. " Reclamei ríspida, e antes que ela pudesse responder à altura, eu fiz questão de sair do apartamento, fechando a porta e trancando a mesma e seguindo escadas à baixo.

Havia uma estação de metrô no mesmo quarteirão do meu apartamento, e por mais que eu apressasse os meus passos, ainda tinha medo de andar durante à noite pelas ruas escuradas do bairro, um dos menores de toda a cidade, do lado do Brooklyn. Cheguei na estação e comprei a passagem, estando em poucos segundos dentro do vagão, razoavelmente vazio. Eu sei que seria mais seguro pegar um táxi do que o metrô vazio, mas a ideia de andar mais dois quarteirões para conseguir um táxi por sorte me assustava um pouco. Além do mais, posso me cuidar perfeitamente bem sozinha.

Em poucos minutos, eu já me encontrava a descer do vagão, em uma estação que ficava bem na frente do prédio onde Payton mora, me impressionando com o mesmo assim que me encontrei em seu frente. Voltei a confirmar o endereço e respirei fundo antes de entrar no saguão do edifício, me identificando na recepção e pegando o elevador até o penúltimo andar do prédio.

Assim que as portas do elevador se abriram, fiquei ainda mais surpresa em me encontrar já dentro do apartamento, o mesmo é com certeza o maior apartamento que eu já estive em toda a minha vida. Entrei no ambiente com passos hesitantes, olhando para o espaço à minha volta e ficando boquiaberta com cada detalhe. Um apartamento de piso escuro, tal como a maioria dos móveis, que contrastavam com as obras de arte claras e coloridas bem distribuídas pelas paredes, e davam grande destaque às janelas de vidro que ocupavam a faixada do prédio, dando vista para toda Nova York, focando no Central Park e na Ponte do Brooklyn.

Eu dei alguns passos para frente para encarar a vista com mais precisão, soltando um ar pesado e casando ao encarar as luzes da cidade, que acendiam e apagavam no mesmo horário todos os dias, sem dar o tempo certo para as pessoas descansarem no escuro por míseros segundos, e muitas preferem às luzes artificiais e macabras da noite do que a boa e saudável luz do sol durante o dia. Se tivesse uma vista como essa, certamente passaria horas incontáveis a pensar durantes as noites de insônia, que estão presentes todos os dias.

"Eu não consigo decidir o que é mais bonito; a vista ou a forma como você olha para ela." Uma voz rouca e suave soou ao fundo, despertando-me dos meus pensamentos e fazendo-me perceber que estava bem próxima do vidro, encarando a vista.

Me virei com hesitação e me deparei com a imagem alta de Payton, o rapaz tinha uma taça de vinho tinto nas mãos e estava somente usando calças, deixando que seu peitoral ficasse aparente, sendo possível ver suas tatuagens bem feitas no peito e nos braços. Eu sempre fui fascinada por tatuagens, apesar de nunca ter tomado coragem de fazer uma de verdade. Talvez eu tenha medo do arrependimento, ou talvez só não saiba ao certo o que tatuar.

"Eu sei que está muito frio agora de noite, mas aqui dentro está bem agradável. E está me dando agonia em te ver com esse casaco pesado." Comentou ele, aproximando-se da minha pessoa, pousando a taça sobre a mesa de centro entre o sofá e a vista, e vindo na minha direção. Suas palavras mal foram ditas e eu já comecei a sentir calor, tendo o rapaz de olhos castanhos a tirar o meu casaco preto de grosso e jogá-lo no sofá.

"Obrigada." Agradeci timidamente, encarando os olhos castanhos dele e esperando que ele dissesse qualquer coisa que quebrasse o silêncio pesado que se formou.

"Aceita uma taça de vinho? Eu tenho uma pequena adega lá trás, você pode escolher comigo." Sugeriu ele, mordendo os lábios rosados e me encarando fixamente. Mas logo de imediato eu tratei de cortar e não dar à ele as intenções erradas.

"Payton, não desvie do verdadeiro motivo por qual eu estou aqui. Isso não é para ser um encontro,e sim uma experiência de trabalho." Cortei o de cabelos encaracolados, que mesmo assim mantéu seu sorriso discreto rasgado no rosto.

"Certo, eu já imaginei que você iria dizer isso. Já quer começar então, apressadinha?" Perguntou ele.

"Por favor." Insisti, forçando um sorriso na direção dele. "Vamos ficar aqui na sala mesmo?" Questionei, pensando em cair deitada no sofá, que parecia extremamente confortável.

"Claro que não, Megan. Vamos para o quarto do fundo." Respondeu Payton, pegando na minha mão e me puxando pelo corredor lateral. Eu prendi a respiração ao me encontrar na porta do quarto com Payton, e assim que entramos não deixei de sentir medo em relação à qualquer tipo de história que eu iria contar a seguir. "Bem vida, Megan, ao meu paraíso particular."

𝐋𝐚𝐭𝐞𝐫  𝐒𝐭𝐨𝐫𝐢𝐞𝐬 - 𝐏𝐚𝐲𝐭𝐨𝐧 𝐌𝐨𝐨𝐫𝐦𝐞𝐢𝐞𝐫 Where stories live. Discover now