Capítulo 3

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— Você disse que é brasileira, então procuramos por Amanda Rodrigues na base de dados, mas não encontramos nada. — Casey olhou para Amanda, logo se lembrando da desconfiança de Severide, mas tentando logo afastar o pensamento ao olhar para Boden quando o ouviu perguntar.
— E aqui em Chicago? — Antônio apenas negou com o olhar preocupado. Voltou-se para Amanda, que parecia confusa e assustada.
— Não encontramos absolutamente nada, nenhuma Amanda Rodrigues, em nenhum lugar do mundo. — Ele fez uma pausa, os três homens se entreolharam, antes do detetive focar novamente em Amanda — É como se você não existisse.
O silêncio recaiu na sala e instantaneamente ela pareceu pequena demais, apertada demais… Amanda sentiu o coração acelerar e a cabeça girar, então se sentou na cadeira que havia por perto.
— Isso é um pesadelo, só pode ser… — Amanda conseguiu dizer, ouvindo a própria voz falhar.
O Detetive Dawson a observou por alguns segundos, até se aproximar e sentar na cadeira ao lado de Amanda. Apoiando os cotovelos nas pernas, ele a olhou fixamente, fazendo com que a garota o olhasse também.
— Isso tudo tem uma explicação… E a gente vai descobrir. — Ela focou nos olhos escuros dele e respirou fundo ao afirmar com a cabeça, confiando que encontrariam uma explicação para algo que parecia inexplicável. — Qualquer coisa que se lembrar, qualquer detalhe… Me avise. — Ele mostrou um cartão de visitas e Amanda o pegou.
— Certo. — Sorriu levemente — obrigada, Detetive. — Então ele se levantou e depois de cumprimentar Casey e Boden, saiu da sala.
Mas antes que Antônio fosse embora, Casey saiu atrás dele, deixando Amanda na sala com Boden.
— Antônio, só um minuto… — Casey se aproximou rápido, quando ele já estava perto da porta de saída. — Acha que ela pode estar mentindo? — Perguntou meio sem graça.
— Não sou nenhum especialista, mas já lidei com muita gente que mente sobre quem é… Não me parece ser o caso dela. — Respondeu colocando as mãos na cintura, lembrando-se dos olhos de Amanda, cheios de medo e confusão.
— Só queria confirmar que não estou louco em ver isso também.
— Qualquer novidade, eu aviso.

•••

— Pelo jeito, eu não existo. — Amanda comentou rindo, quando Mills a viu voltar para o refeitório com uma expressão triste e perguntou se estava tudo bem.
— Não encontraram nada? — Hermmann perguntou enquanto Amanda deu uma mordida num pedaço de brownie e encostou no balcão. Ela apenas negou com a cabeça.
— Bom, de qualquer forma, você tem o quartel. — Todos confirmaram o que Hermmann disse.
— Depois desse brownie, eu super aprovo você ficar aqui. — Otis disse levantando um pedaço do doce, fazendo Amanda rir.
— Pode até ficar com minha cama, eu durmo aqui no sofá… — Cruz disse ao apontar para trás, na direção do sofá que Mouch ocupava, em frente a TV.
— No sofá não, nem pense. — Mouch se pronunciou enfático levantando o indicador. Cruz rolou os olhos e Amanda riu ainda mais, colocando a mão no braço de Jhow Cruz antes de responder.
— Pode ficar com sua cama, Cruz. — Então olhou para todos ali — Vocês são incríveis, pessoal. Mas não quero atrapalhar também, pensei que seria coisa de apenas um dia, agora não sei quanto tempo isso vai levar…
— Você tem algum lugar que pode ficar então? — Shay perguntou e Amanda soltou um riso baixo, sem graça.
— Não… Pensei em procurar um hotel e… — se interrompeu, esquecendo de um detalhe importante — É, acho que isso não vai rolar, sem documentos ou dinheiro.
— E se você ficar lá em casa? — Shay convidou sem pensar duas vezes.
— E se quiser ganhar uma grana, pode ajudar no Molly's — Herrmmann sugeriu, olhando para Otis, seu sócio, que confirmou, aceitando a sugestão. — É nosso bar e estávamos mesmo procurando alguém pra ajudar.
Amanda abriu a boca, mas ficou sem palavras, olhando de um para outro. Eles mal a conheciam, estavam ajudando uma completa estranha que nem mesmo se lembrava direito quem era. Ficar em um abrigo, não era uma idéia atrativa, hotel era sem condições e um trabalho, além de ocupar sua mente, teria um dinheiro para passar os dias – sabe-se lá quantos – durante a investigação, até descobrir quem era e o que estava fazendo em Chicago, ou se tinha um lugar para onde voltar.
— E então? — Shay a cutucou empolgada, esperando pela resposta.
— Okay! Eu aceito, o trabalho e a hospedagem. — Abriu um largo sorriso e Shay a abraçou de lado.
— Será divertido uma colega de quarto, vamos deixar o Kelly doido. — Amanda a olhou com a testa franzida. — Esqueci de citar, eu e o Kelly dividimos um ap.
— E ele não vai…
— Que isso, ele não vai se importar! — Ela balançou a mão no ar, para Amanda ficar tranquila — ele vai é amar morar com duas gatas como nós! — piscou para a morena e as duas riram, Shay se afastou quando Gabby a chamou da porta.
Amanda olhou para todos ali, cruzando os braços, enquanto pensava em tudo que estava acontecendo. Torcendo para que suas memórias voltassem e não apagassem aquelas, pois estava amando conhecer eles. Tudo na vida acontecia por algum motivo, e talvez o motivo para aquilo não fosse dos piores. Sorriu sozinha enquanto observava cada um deles, até receber um cutucão de Peter Mills, que tinha um sorriso brincalhão nos lábios. Se virou e deu a volta no balcão quando ele a chamou, no exato momento em que Matt Casey passou na porta, para ir na direção de sua sala e a olhou por alguns segundos.

•••

— Esqueci meu celular na sala, vai indo pro carro, Shay — Severide avisou antes de correr para dentro do quartel novamente.
Shay esperava Amanda, que tinha ido ao banheiro e nem teve tempo de avisar o amigo que a garota iria para a casa deles. Amanda logo surgiu na porta e as duas se encaminharam até o carro de Severide.
— Certeza que ele não vai achar ruim? — Amanda perguntou ao encostarem lado a lado no carro.
— Claro — confirmou sorrindo para a outra. — E aí, gostou de conhecer o pessoal?
— Sim, muito! Todos são muito legais…
— Até o Otis? — A loira arqueou a sobrancelha e Amanda riu dando um tapinha no braço dela.
— Qual é, vocês pegam muito no pé dele… Ele é um fofo.
— É o maior passatempo do 51, Amanda! — Ela abriu os braços ao rir e Amanda balançou a cabeça em meio às risadas.
— Pronto! — Se viraram para Kelly Severide quando ele se aproximou e ambas perceberam a estranheza no olhar dele.
— Kelly, chamei a Amanda pra passar um tempo com a gente — ele parou na frente das duas, com o olhar confuso e franziu a testa, deixando claro que não gostou da ideia.
— Olha gente, não quero incomodar… — Amanda olhou de um para o outro e se virou para Shay — muito obrigada pelo convite, mas eu procuro um lugar ou fico aqui no quartel mesmo… — começou falar rápido.
— Não! Eu te convidei e não tem problema nenhum você ficar com a gente! — Shay afirmou, passando o braço pelo de Amanda e então olhou para Kelly, arregalando um pouco os olhos.
Ele ainda hesitou por um momento e coçando a testa, acabou abrindo os braços, vencido pela melhor amiga.
— Claro, sem problemas você ficar com a gente, Amanda. — Confirmou meio a contragosto e olhou de uma para a outra, quando elas sorriram empolgadas. Estava perdido com aquelas duas, só esperava que não estivesse todos entrando numa grande enrascada.
Shay abriu a porta do carro e deixou Amanda ir para o banco de trás assim que Severide entrou no lado do motorista.
Durante todo o caminho, Kelly Severide olhava Amanda pelo retrovisor, enquanto ela ria de algo que Shay dizia e olhava pela janela, admirando as ruas de Chicago.
Ao mesmo tempo que algo lhe dizia que não devia confiar tanto numa desconhecida em uma situação bem suspeita, Severide podia ver nela uma pureza de quem estava apenas confusa. Sentia-se em completo conflito, mas talvez pudesse conseguir alguma coisa enquanto ela estivesse no apartamento deles. Se ela estivesse fingindo ou escondendo algo, em algum momento a máscara iria cair.

Uma Nova Vida Real [One Chicago] - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora