-São oito da noite, você adora a noite, acorda um pouco. -ouvi minha mãe me dizendo, mas o sono era tanto e eu estava tão cansada e ainda com resquícios de meu sonho anterior que eu teimo em não lembrar. Entretanto fiquei imóvel na cama-quem sabe ela não ia embora?!- Ao fim de alguns minutos ela desistiu e eu ouvi a porta se fechando. Bom, eram oito horas? Ótimo, iria passear. E foi o que fiz. Abri os olhos no meu quarto de hospital, e repeti meu ritual da noite passada de mandar meus ossos colaborarem e meus nervos fazerem o serviço correto e acabei fora da cama, olhando para meus desenhos da noite anterior, engraçado que mamãe não comentou nada sobre eles. Abri a porta e fui dar uma volta por aquele enorme hospital.

O melhor de tudo é que se eu tivesse a sorte de viver eu poderia voltar a estudar e fazer minha faculdade de medicina e isso aqui eu já conheceria como a palma da minha mão. Andando por lá fui ao meu lugar preferido, o berçário e por sorte não tinha nenhuma enfermeira por perto, de modo que eu pude ver os bebês por detrás do vidro. Um deles, uma menina bem pequena agitava os bracinhos sobre a cabeça e eu fiquei pensando o quanto de tudo isso ela consegue entender. Nem só de fome ou dificuldades com algo é motivo de choro para um bebê, eles também choram assim de repente mesmo que esteja no colo da alguém porque se lembram de algo que viveram, porque não entendem esse mundo novo e grande que ele veio parar. É como quando ele se mexe muito ao dormir e não raras vezes parece estar pensando em algo em quanto dorme e isso também se deve a essa adaptação. É também por isso que eles parecem sorrir para o nada, os tais "amigos imaginários" famosos seres de luz.

Temos muito do que somos, somos muito do que seremos quando nascemos. Mas a quem pertence à civilidade e as emoções boas? Ate mesmo a sociologia presente em cada um, vem desde que nascemos ou apenas se cria com o tempo? Alguns diriam que o ser humano nasce ruim e a sociedade o torna bom, já outros diriam que não, e que nascemos bons e a sociedade que o corrompe.

De fato uma criança quando rouba um brinquedo de outra criança, não faz isso para se vingar de alguém ou porque têm sentimentos negativos em relação à outra criança, mas sim porque ela deseja ter o tal brinquedo, mas não pode. Quando essa mesma criança agride outra, ela não pretende matar ou ferir gravemente o outro, ela apenas quer se defender e estipular seu território, mesmo porque ela não entende o quanto isso é ruim para todos. Deste mesmo modo também pode ocorrer de alguns vícios ou medos ou mesmo traumas nasçam com o individuo e isso pode afetar sua vida e suas ações.

Despois de tempo andando pelo berçário eu resolvi andar mais um pouco pelo hospital a procura de algo interessante para se ver no meio da noite. Mandei um beijo para a bebê e desejei boa sorte.

-Selene? Que faz há essa hora  aqui? E ainda mais andando! Graças a Deus- Nem precisei olhar, já que conhecia tão bem a voz e sabia que era Maria

-Huumm- Na verdade eu poderia falar normalmente, mas eu gostaria que essa súbita melhora ficasse apenas entre mim e esta bebe do outro lado do vidro.

-Querida, deveria estar dormindo!

-Minha mãe me deixou passear- mas apenas franzi as sobrancelhas e ela entendeu.

-Tudo bem então, vou te deixar esticar as pernas, mas não mexa em nada e nem entre no quarto de outro, ok?

-Por que eu entraria em quarto alheio? Não sou psicopata!

Por sorte ela me deixou rápido, com um olhar de "se comporte" e eu pude voltar aos meus devaneios. Não raras vezes, penso que deveria haver algo de mim além de mim mesma, alguma coisa que contivesse um pedaço de mim e que eu tivesse a certeza de guardar internamente um pedaço de alguém. E é nessas horas que eu me sinto de uma maneira não sozinha, mas como se não existisse, preferindo existir longe do mundo ou apenas dormir até a vida acabar, querendo que o sol engula a Terra e que tudo o que está dentro da minha cabeça seja reduzido a coisas momentâneas como dor e desespero. E foi com esse pensamento e vaguei pelo hospital com aquela luz branca ardendo meus olhos. E foi desse jeito que eu descobri uma porta aberta no ultimo andar e sem nada a perder entrei por essa porta. Ela dava para um terraço alto em que o céu se abria para as estrelas e um vento fresco com cheiro de planta me invadiu por inteira, e assim eu me senti um pouco mais viva, com um pouco menos de coisas rodando na minha cabeça. O chão era todo cinza e mesmo tendo medo de altura aquela vista me acolhia como se dissesse dentro de mim que eu não deveria estar em outro lugar que não fosse este.

E toda essa alegria acabou quando eu vi que não estava sozinha, pelo contrário eu estava muito acompanhada por um estranho na beira do terraço, ele estava de costas com uma calça jeans larga e uma camiseta preta, seus cabelos pretos eram trazidos para trás pelo vento e de algum modo eu resolvi me aproximar daquele estranho, já que estava de noite e logo eu iria para o meu quarto voltar a fingir que dormia. Mas a cada passo que eu dava eu sentia que deveria dar mais outro e chegar cada vez mais perto daquela pessoa, porém, subitamente algo me puxava para longe daquela pessoa como se fosse errada eu a ver, e nesse momento eu tive medo dessa força que me puxava, tive medo de não ver quem realmente era aquela pessoa, até que ele se virou para mim, talvez me ouvindo gritar e nesse instante eu apaguei.


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