XXIX. Nunca longe

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Não tinham muitos prédios por ali, a maioria eram barracas para negociações, bordéis, pousadas que em sua maioria também eram bordéis e tabernas com bordéis. Era comum se ver marujos bêbados por ali, suas folgas sempre foram aproveitadas ao máximo com bebidas e mulheres. A pousada não era diferente, repleta de piratas bêbados e prostitutas. O cheiro do lugar combinava completamente com a aparecia e ambos eram ruins. A madeira manchada pela maresia dava um charme rústico para a instalação, os copos de prata jogados pelas mesas eram típicos e os castiçais elegantes pareciam feitos a mão. Tudo colaborava para uma única decoração.

Os rostos que ali se encontravam eram diversos, pessoas de todos os lugares possíveis agora descansavam com seus copos de room sentados enquanto viam as mulheres dançando e os enfeitiçando. Um rosto me chamou atenção por ser familiar de algum lugar. Seus traços eram incrivelmente calmos e seus olhos esverdeados atenciosamente rolavam por todo o lugar, até pararem em mim. O loiro agora me encarava confuso, e eu retribuía do mesmo jeito. Tinha certeza que o conhecia, mas algo nele era extremamente desconhecido. A minha frente Sadie, Zaya e a morena que as acompanhava se entretiam com a música curiosa que tocava no lugar, não iriam sentir minha falta tão cedo.

Me aproximei lentamente do loiro sentado na mesa próxima, o encarando a todo momento. Parecíamos ambos intrigados com a familiaridade. Foi aí que minha ficha caiu.

- Olha só se não é a cria do Valle da Prata, parece que você conseguiu sobreviver afinal de contas.

Não pude conter a emoção de finalmente reencontrar meu amigo, o abracei pulando em seus braços quase como desesperada. No começo o garoto estranhou, mas logo retribuiu.

- Carlos, que alívio. - Falei, soltando o abraço. - O que faz por aqui?

- Uma longa história, mas no fim só me lembro de ter acordado num navio cheio de gente feia.

Um homem sentado ao lado de Carlos que até então eu não havia notado se fez presente ao dar um tapa no topo da cabeça do loiro.

- Cuidado com o que fala rapaz. - O homem alertou num tom rígido.

Era possível de primeira notar seus cabelos pretos encaracolados, aparentemente não tinha tanta idade mas também não parecia tão novo. Seus traços me diziam um pouco de sua história, mas o que mais me chamava atenção era a seriedade em seus olhos. Passando os olhos por mim o ouvi voltar a falar.

- E a mocinha bonita quem é? Não me parece uma mulher típica faqui. - Perguntou, fazendo referência as prostitutas.

- Não ela não é daqui, e o senhor devia parar de tentar seduzir todas as mulheres que aparecem. - Respondeu Carlos impaciente.

Em resposta recebeu apenas reprovação em forma de olhar. Voltei a fitar o homem dos cabelos pretos, algo nele me intrigava.

- A mocinha tem nome, Jade Fonseca - Disse - Da tripulação do Sereia Escarlate.

Sem nenhum sinal de surpresa o homem levantou a mão para que eu a cumprimetasse. Receosa foi o que fiz, sempre com a confiança que aprendi a ter com minhas companheiras.

- Sam - O moreno disse - Sam Bellamy.

- Ou Black Sam se você for uma das fãs - Implicou Carlos de novo. - Aparentemente foi ele que me salvou depois do ataque ao navio.

- E depois convenceu a se juntar a tripulação.

- Não foi como se eu tivesse escolha Sam. - Voltando os olhos a mim o loiro pareceu curioso - E o que faz aqui?

Com um pouco de preguiça expliquei para Carlos tudo desde o início, atraindo a atenção de Sam durante toda a explicação.

- Uau, então no fim das contas somos criminosos piores que seu pai.

Em um mar de estrelasWhere stories live. Discover now