VIII. A mansão de A.B.

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O sol da manhã rapidamente tomou conta do cômodo. Abri meus olhos devagar para me acostumar com os raios que entravam pela janela. O sentimento de melancolia se fez presente quando lembrei de casa, eu sentia muita falta de lá. A visão da janela ficava ainda mais bonita pela manhã, isso me lembrava das manhãs no Valle.

Desci assim que terminei meus deveres matinais. Caminhei cautelosamente até a sala de jantar para tomar café. Minha refeição não teve a presença do anfitrião, de acordo com a governanta ele estava ocupado em seu escritório. Me espantava o quanto aquele homem conseguia ficar trancado no escritório.

Confesso que a comida estava extremamente deliciosa, ou pelo menos era o que a parte de mim que não gostava da comida de tabernas insista em dizer.
Eu não tinha muito o que fazer naquela casa então acabei escolhendo ir ao citado jardim para vê-lo mais de perto.

Ele era ainda mais bonito visto de perto. As diversas flores pareciam pintadas a mão, cada uma delas tinha o mesmo brilho. O caminho de pedrinhas que passava no meio do lugar fazia tudo ficar mais bonito. Cada detalhe parecia mágico ali. O cheiro da brisa do jardim era imerso de calmaria e beleza.  Eu com certeza poderia passar semanas aqui.

Sutilmente escolhi um pedaço do gramado para observar as nuvens. Seus inúmeros formatos e tamanhos se moviam lentamente pelo céu. Varri meus olhos panorâmicamente por todo o lugar, os parando no muro que indicava o término do terreno. De longe ele parecia baixo, mas quando cheguei perto pude ver o quão alto aquela parede era. Impossível de pular.

Passei horas explorando o jardim, a paz da natureza sempre me tirava suspiros de satisfação. Minha energia se renovava de uma forma incrível. O terreno do Sr. Brianchi ficava ainda maior quando eu caminhava sob ele.

Encontrei um banco amadeirado e detalhado em ferro que ficava exatamente no meio do jardim para me sentar. Precisava pensar no que faria em seguida.
Brianchi não queria me contar o que sabia, e mesmo que fosse frustante meus instintos repetiam que era melhor assim.

Ainda não sabia o exato motivo de estar foragida, era completamente inocente. Eu poderia me entregar e ir a julgamento na Espanha, era o que pretendia fazer, mas valeria a pena? Tinha medo que não acreditassem em mim, afinal, a justiça não é muito justa com as mulheres.

Entretanto ainda estava tentada a ir em busca da verdade. Eu estava gostando de toda essa loucura, e me repreendia mentalmente por isso. Estar perto de alguém tão suspeito como Brianchi apenas me isntigava a investigar mais.

Meus pensamentos são interrompidos quando vejo uma mulher vestida em um uniforme de trabalho cruzando o terreno. A beleza dela me chamava atenção. Via delicadeza na forma que ela andava, e a forma em que seus cabelos balançavam conforme seus passos aumentavam me enfeitiçava. Involuntariamente eu a segui.

A moça só parou de andar quando chegou a  uma horta nos fundos do terreno. Pegou uma das cestas empilhadas e seguiu para as fileiras dos morangos. Atenciosamente ela começou a colhe-los. A forma gentil em que ela os colhia me dizia muito sobre sua personalidade. O liso de seu cabelo preto era refletido pelo sol de uma forma que a fazia parecer brilhar. Sua franja quase que cobria seus olhos de uma forma extremamente harmônica. A moça me fazia querer a colocar em um quadro.

— A senhorita vai ficar me espionando?

Descoberta, saio de trás de um dos pilares da cerca em que me escondia.

— Desculpe-me, estava apenas explorando o terreno... Quer ajuda?

A mulher se espanta ao me ver, e mais ainda com a pergunta.

— Eu que peço desculpas, achei que fosse uma das meninas... Não precisa, esse é o meu trabalho... Mas obrigada. — A voz dela era como música de Beethoven para mim, e eu amava piano.

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