XIX. Planejamentos

10 3 1
                                    

Faltavam alguns dias para o ataque ao Orca Prateada. As preparações tomavam a maior parte do tempo de todas as tripulantes. Treinamento de luta em batalha, artilharia e entre outras coisas era o que mais se via pelo navio. Foi nesse momento que minha teoria sobre a verdadeira força das piratas se confirmou, todas tinham talento para algum tipo de tática de batalha.

Aprendi a lutar com espadas nos últimos dias, aparentemente aprendia as coisas com facilidade, ou talvez Jeanne e Aika eram boas professoras. Além desse tipo eu também treinava outros tipos de luta, como tiro com armas de fogo, luta corpo a corpo e coisas assim. A capitã fazia questão que todas soubessem um pouco de tudo, afinal ninguém sabia se precisaríamos no futuro. A tripulação de Eleonor deveria saber usar todas as armas que possuíam por segurança.

Nesse meio tempo me aproximei muito de Elisa, a moça era a mais inteligente entre as outras pessoas do navio. A morena entendia um pouco de tudo, desde navegação a atirar com armas de fogo, e era melhor estrategista que eu já vi. Isso me atraía para conversar com ela. Aprendi algumas coisa com ela. Apesar de ser mais nova tinha mais experiência em batalha que eu. Seu intelecto era impecável.

Por tudo isso ela foi uma das convidadas a reunião de hoje com o intuito de planejar nossos próximos movimentos. Por algum motivo fui convidada a reunião também. Não fazia ideia de como eram esses tipos de planejamentos, mas não iria perder a oportunidade de as ver em serviço.

— Se continuar nas nuvens desse jeito vai acabar perdendo. — Avisou Aika antes de me dar um golpe certeiro.

Ainda no chão girei meu corpo em direção as pernas dela, o intuito era a derrubar também, mas foi sem sucesso já que ela dominava a arte da luta.

— Desse jeito eu ainda vou continuar intacta Jade, se esforce mais, vamos.

Irritada comecei a atacar com o bastão que segurava, mas todos os golpes foram defendidos.

— Isso é meio injusto tendo em vista que você é quase intangível.

Sorrindo de satisfação a insinuação ela contra atacou, mas dessa vez consegui a defender.

— Está melhorando, mais um pouco e você consegue derrubar uma pessoa parada.  — Rindo caçoante ela diz — Vamos, eu sei que você sabe mais que isso, me mostra logo antes que eu desista e te jogue pra fora do navio.

— Você fala de mais Aika.

Respondi por fim, dando início a uma sequência de golpes. No início eram todos defendidos, mas com a velocidade que eu ia aumentando alguns passaram despercebidos pelo escudo da morena. E em um golpe de sorte, ou talvez de experiência, consegui acertar suas pernas a derrubando no chão logo em seguida.

— Parece que consegui derrubar uma pessoa parada.

Emburrada pela provocação ela se levantou, e com muita atenção veio para cima de mim. Tinha a consciência de que seria difícil fugir daqueles golpes, pela expressão que a adversária estava a intenção dela era realmente me jogar para fora do navio. Sem dizer uma palavra sequer nós começamos uma luta com bastões quase que impossíveis de acompanhar com os olhos, e dizia isso pela velocidade em que as espadas improvisadas se trombavam. Um longo tempo se passou assim, andávamos por todo o convés nessa luta, era exatamente como descreviam nos livros.

Infelizmente tudo aquilo terminou no momento em que tropecei numa caixa enquanto estávamos sob a borda do navio e cai na água. Podia escutar a risada vitoriosa da adversária de longe. Emburrada pela derrota submergi na água, encarando agora o casco do navio. Uma corda me foi jogada para subir a bordo novamente.

— Essa não valeu. — Disse por fim, indo em direção a um canto que pegava sol enxugar minhas roupas molhadas.

Fiquei um bom tempo escutando piadas e brincadeiras sobre minha luta, mesmo chateada não pude deixar de rir. Depois que a hora da reunião chegou eu e as outras convidadas fomos até a cabine da capitã.  Ao entrar finalmente pude reparar bem em toda a decoração do lugar. Haviam enfeites únicos e raros por lá, deduzi que fosse lembranças de navios afundados pela tripulação em questão. Eleonor tinha bom gosto.

Indo até a sala secreta da cabine conversávamos baixo sobre possíveis estratégias. Nos sentamos envolta da mesa principal e esperamos a capitã tomar a frente em silêncio. Jeanne estendeu um mapa mundi sob a mesa, enquanto Sadie pegou pequenas miniaturas de barcos e colocou num lugar qualquer do mapa. Uma das miniaturas era vermelha, uma representação perfeita do nosso navio.

— Pela descrição nas cartas o navio que procuramos seguiria uma rota paralela ao outro.

Tomou a frente Eleonor, nos informando tudo o que sabia sobre o navio que procurávamos, indicando no mapa com as pontas dos dedos.

— Seria mais ou menos por aqui.

— Calculando o tempo que demora para cruzar todo o percurso, acredito que em dois dias o Orca Prateada estará entrando em mar aberto, levando em consideração que iam dar a volta no continente antes. — Disse Elisa pensativa.

— Não estamos muito longe, conseguiremos alcançá-lo se pegarmos as brisas atlânticas — Respondeu Sadie mudando de expressão no decorrer da fala.

— Vamos chegar perto do barco inimigo durante a noite e atacamos ao amanhecer, é mais fácil para se camuflar. — Afirma a capitã.

— Quando estava presa ouvi rumores de que ele é mais protegido que o navio que eu estava.

Confusas elas se encararam.

— Jade não nos subestime.

— Atacaremos até conseguirmos baixar a guarda deles para conseguir pegar o dinheiro, não estou afim de gastar balas para mata-los, gastamos demais no último ataque. Alguma pergunta?

Pensei em perguntar se haviam matado um certo loiro insuportável, mas de longe era um boa ideia. Depois disso ficamos discutindo sobre tática de batalhas e coisas assim, logo tínhamos terminado. No fim estava tudo planejado. Sai da sala assim que pude, estava nervosa por encarar os guardas de novo. Pensava se teria coragem de matar uma pessoa caso precisasse, mas não sabia a resposta, talvez no momento eu conseguiria.

Fechei os olhos por um instante, tentando acalmar os nervos escutando o doce som de ondas quebrando a minha volta. Quando os abri encarei a paisagem harmônica das estrelas refletidas na água, nunca me cansaria de ver aquilo. Olhando agora diretamente o céu reconheci algumas das estrelas-guia que Elisa me apresentou, aos poucos eu estava começando a entender tudo sobre navegação nas estrelas.

Escuto sons de botas sob a madeira do convés, virando em direção ao som encontro Elisa levemente sorrindo me encarando. Ela apenas se econsta a borda do navio ao meu lado, observando agora a mesma  coisa que eu.

— A melhor parte de ser navegante, com certeza é ter o privilégio de ver isso com frequência. — Ela diz.

— Nunca vou cansar de ver isso. — Respondi, fazendo um comentário em seguida. — Não sei se consigo fazer isso, não sei se vou conseguir machucar alguém.

— Jade, você tem um coração puro, e eu admiro isso, mas o mundo não é assim, não é um paraíso, o mundo é uma batalha constante, somos obrigados a tomar atitudes fora do comum. — Depois de uma pequena pausa para retomar o fôlego, ela continua — O mundo é cruel, see você não for entrar para valer vai sair machucada. Nossos inimigos foram treinados para não ter compaixão ao nos ver, se não os derrotarmos, eles vão nos derrotar, sem compaixão alguma.

— Eu entendo.

— O dia está se aproximando, esteja preparada para tudo, não quero ter que parar minha luta para ter que ir te salvar milady. — Termina Elisa, em um tom brincalhão e irônico, dando ênfase ao me chamar de princesa e saindo andando em seguida.

Fiquei mais um momento observando a paisagem, ainda tinha minhas dúvidas. De um jeito ou de outro sabia que estava preparada. Sentia que ainda havia muita coisa para acontecer.

*Não se esqueça de votar*

Em um mar de estrelasWhere stories live. Discover now