XVIII. Alianças

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A execução do capitão do navio anterior foi algo que eu não estava preparada para ver com certeza, principalmente depois de descobrir a verdade sobre meu pai. Minha mente estava cheia, um turbilhão de pensamentos passavam a todo instante na velocidade da luz. No fim, Estevan não era o monstro que me falaram que ele era, e isso me fazia sentir ainda mais a falta dele.

Com o passar do tempo me sentia cada vez mais encaixada entre as piratas, era quase como se eu fosse exatamente como elas. Bem, tirando o fato de que elas tem coragem o suficiente para matar qualquer um, não sei se consigo fazer algo assim. A harmonia do navio era contagiante. Aconteciam brigas como em qualquer outro lugar praticamente a todo momento, mas por algum motivo elas nunca davam em nada, ninguém era melhor que ninguém. Elas possuíam um respeito mútuo raro de se achar.

No geral, piratas não são nada como descrevem nos livros, ou talvez o bem e o mal dependem do ângulo em que se vê. São apenas pessoas que não tem nada a perder e vivem a vida guiados pela ambição. Desistiram de viver conforme o roteiro que lhes é dado ao nascer, afinal, o mundo virou as costas para elas. Todas tem uma história única de vida, assim como qualquer outra pessoa tiveram dores e perdas na vida. Mas muitas pessoas não entendem isso, por esse motivo tenho para mim uma teoria em que as pessoas só entenderão umas as outras quando sentirem as mesmas dores.

Lidamos com as coisas de modos diferentes, as dores doem de maneira diferente para cada um, por isso não podemos julgar a dor de outra pessoa como sendo fraca ou não.
Vejo nos olhos de todas nesse navio que já passaram por muita coisa que preferiam esquecer, é possível perceber que já abriram mão de muitas coisas para estarem onde estão. Assim como eu.

Nesses últimos dias penso bastante sobre o que vai vir agora. O fato de terem torturado o capitão antes de o executar me dizia que as piratas estavam querendo alguma informação, estavam tentando tirar algo dele com toda certeza. Ainda não sabia o que era, mas ia descobrir de algum jeito. Alguma coisa estava acontecendo no navio, Eleonor estava planejando algo.

De longe pude ver a ruiva conhecida me chamando, ela queria que eu a seguisse. Sultimente foi o que fiz. Vi Sadie entrar na cabine da capitã e entrei logo em seguida. Dentro da cabine andamos até uma porta que até então eu não tinha percebido a existência. Ao abri-lá era possível ver uma escada descendo até uma parte do navio em que eu não conhecia ainda. No fim da escada tinha outra porta, depois de entrar nela era possível ver uma sala espaçosa mas ainda sim pequena.

Rolando os olhos pelo lugar vi algumas manchas amarronzadas pelo chão, era sangue, e provavelmente sangue do capitão. Era aqui que ele estava. Ao fundo da sala tinha uma pequena mesa rodeada por cinco cadeiras. Três delas estavam ocupadas, uma por Jeanne, outra por Eleonor e a última por uma mulher até então desconhecida.

- Por que a chamaram? Ela acabou de chegar. - Reclamou a pirata até então desconhecida.

- Aika, Jade era filha de Estevan. - Eleonor disse. - Algo me diz que o tenho para falar aqui vai interessar a ela.

A moça surpresa desviou os olhos para mim, me encarando com uma expressão indecifrável. Ignorando suas encaradas furtivas me sentei a mesa junto com Sadie. Todas permaneciam em silêncio, com excessão apenas da capitã.

- Jade, você deve ter ouvido falar sobre os navios gêmeos. - Balancei a cabeça em sinal de concordância. - Bem, um deles levaria o dinheiro confiscado de Estevan e o outro aparentemente você. Estávamos atrás do navio que levaria o dinheiro, mas por algum equívoco das nossas fontes acabamos indo atrás do navio errado.

- E por que estão atrás do dinheiro da minha família?

- A morte de Estevan foi um ataque direto da coroa aos piratas como um todo, nada mais justo do que fazermos o mesmo pegando de volta aquilo que pertence a nós. - A loira então franze o cenho e endurece a coluna. - Com todo respeito, o que foi confiscado do Valle era o dinheiro conquistado por nós, seu pai ia nos pagar com ele.

Concordei com a cabeça. Este não me parecia um bom momento para bater o pé em discordância da capitã sobre o dinheiro pertencer ou não aos piratas, e também não me importava nem um pouco com dinheiro naquele momento, afinal não teria serventia já que agora eu não poderia voltar a viver como uma pessoa normal. Eu ainda era uma criminosa.

- Ter te salvado foi um engano, mas, talvez isso seja bom para todos nós afinal.

- O que está dizendo?

- Tenho uma proposta para te fazer Jade... A coroa te tratou como a criminosa que você não era desde o começo, você perdeu seu pai de um jeito um tanto estranho. Você não tem motivos e nem pode mais viver como uma pessoa normal. O que acha de se juntar a nós para vingar o que fizeram com seu pai? - Terminou a capitã, olhando para Jeanne em seguida para que ela prosseguisse.

- Interrogamos o capitão Ford, e descobrimos a rota do Orca Prateada. Estamos preparando um ataque a ele em alguns dias antes que chegue a Espanha. Depois disso iremos atrás do traídor na América do Sul.

- Estou te oferecendo um lugar na tripulação e um objetivo, nós te protegeremos desde que você jure lealdade a suas companheiras. - Cruzando as mãos em frente ao corpo sob a mesa ela terminou sua pausa. - Uma possível guerra se aproxima, prefere ficar do lado que te tratou como ninguém ou ter a chance de ser livre?

- Como assim uma guerra? - Perguntei.

A oferta que me foi concedida era irrecusável, não poderia mudar de lado nem se quisesse. Eu já havia feito minha escolha no momento em que pisei nesse navio.

- A coroa atacou diretamente Nassau, nós não deixaremos esse detalhe barato. - Suavizando a expressão ela disse por fim. - O que me diz Jade, jura lealdade por suas companheiras e escolhe lutar do lado que seu pai tanto defendia ou ficar do lado que o matou?

Sorri, não conseguia não o fazer diante daquela oferta. Eu finalmente teria o que tanto desejei, o que me foi tirado desde o começo, a liberdade.

- Parece uma pergunta meio boba, tendo em vista que estou aqui, na sua frente nesse exato momento. - Me endireitei na cadeira antes de terminar. - Minha maior ambição é a liberdade, não a terei se escolher ficar contra vocês. Minha decisão já estava tomada no momento em que pisei nesse navio. - Olhei fundo em seus olhos verde esmeralda - Juro lealdade a vocês e me junto a qualquer que seja o seu plano.

Todas sentadas a mesa sorriram, até a moça séria que reclamara no início tinha um sorriso de canto. Naquele momento eu fiz minha escolha. A reunião tinha acabado, me anunciariam logo depois como novo membro da tripulação. No outro dia planejariamos o ataque. Sai da sala confiante de ter feito a melhor escolha.
De novo ao convés me juntei a borda do navio para observar a paisagem. A noite já tinha caído, o céu estava repleto de estrelas. Eram refletidas pela água agora escura em minha volta. Vendo aquela cena e sabendo que poderia a ver todo dia tive a certeza de ter feito a melhor escolha. Eu estava em paz por finalmente estar livre.

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