57. Vai correr tudo bem

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Os lábios de Jake fecharam-se numa linha fina por ouvi-la desvalorizar-se novamente, desejando ser real quando já o era. Depois de terem feito amor, da entrega carinhosa e despojada da morena, ele realmente pensava que o que faltava da confiança dela fora restituída. Ele assumiu que tudo o que perturbava Kim passava pelos seus medos, que ele apaziguara com a nova intimidade. Que tudo ficara bem durante a tarde, quando ele decidiu aceitar a identidade dúbia dela, e ela o perdoara por ser tão egoísta e por tê-la magoado de verdade.

Kim continuava quebrada e ele não sabia o que fazer com aquela versão dela, tão diferente da rapariga mais genuína e cheia de vida que alguma vez conhecera.

– Vem cá – convidou ele, puxando-a com delicadeza para si.

Kim depressa aceitou o abraço e deitou-se sobre o corpo quente, apenas coberto pela roupa interior. Ela escondeu o rosto na curva perfeita do pescoço masculino e aspirou o cheiro característico, que entretanto se misturara com o dela e tornava tudo certo de novo.

– Não sei se me deva sentir lisonjeado por conseguires pensar no Pinóquio agora... – Ele ensaiou um sorriso brincalhão para aligeirar o ambiente, enquanto ajeitava o corpo franzino sobre o seu. – Mas tu és muito de verdade para mim.

Ele sentiu os lábios femininos roçarem a sua pele e agradeceu por ainda ter a capacidade de a fazer sorrir com tanta facilidade. Jake aproveitou o suspiro da rapariga para enlaçar-lhe a cintura esguia e arrepiada, cobrindo-lhe a têmpora transpirada de beijos preguiçosos.

– E foi preciso bateres-me para eu perceber isso – admitiu, rindo com a memória recente e arrependendo-se de imediato, quando a dor forte regressou à sua cabeça.

– E estava a pensar noutra coisa – acrescentou Kim, aninhando-se contra o corpo rijo por baixo do seu. Jake continuava tão quente que ela sentiu a sonolência abrandar-lhe os pensamentos e as ações, que não passavam de carinhos vagos e distraídos.

– Hum... no Rei Leão? – tentou ele. A rapariga fez uma careta quando não percebeu a referência ao filme infantil e ele decidiu manter o ambiente leve pelo tempo que conseguisse. – Ou queres bater-me de novo?

– Eu não te bati – clarificou a morena, esmurrando o ombro dele sem força, o que o fez apertá-la até ela realmente ter que se debater contra o abraço que a mantinha cativa ao corpo quente. Demasiado quente. – Eu estava só a pensar se também foi para ti! Jake! – guinchou, cobrindo o rosto dele com a mão, para impedi-lo de a tentar assassinar com beijos retaliativos.

– O quê?

– A melhor coisa do mundo.

O contentamento óbvio diminuiu, e ele finalmente parou de estreitá-la com força. Jake não queria mentir a ambos, por isso manteve-se fiel ao que lhe dissera antes e repetiu-o:

– Desde que o tenha sido para ti.

Kim sentiu a pele colar-se à dele, abrasiva e humedecida de suor formado pelo contato entre ambos.

– Oh... – A rapariga pensou em todas as sensações que o corpo dele lhe propiciara, tão distintas que ela não soubera diferenciar a dor do prazer. – Foi... estranho, mas eu acho que gostei. Obrigada por me mostrares.

– Não foi um favor, Kim. – Ele deixou escapar uma gargalhada curta e ensonada quando pensou no muito que a quisera e ela não percebera. Ele continuava a querê-la. – E da próxima vez será melhor.

Provavelmente não iria haver próxima vez, no entanto Jake nem se apercebeu da continuidade e compromisso que vinham com a promessa. A sua mente começava a fechar-se pelo cansaço e tudo o que ele podia pensar passava por ter Kim de novo, na sua cama confortável do apartamento minúsculo que mantinha sobre o pub. Na sua Irlanda. Em casa. Pelas vezes que ambos quisessem, até deixar de ser uma novidade para ela e ele ter que reinventar-se para que o fosse sempre.

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