dezoito

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DEZOITO

Não há motivo para essa advogada reconhecer minha cara. Mas, só para garantir, opto por um disfarce simples. Depois de preparar o quarto de hóspedes na tarde seguinte, corro ao meu e prendo o cabelo no topo da cabeça com fiapos artísticos caindo e escondendo o rosto. Depois acrescento uns velhos óculos de sol que achei na gaveta da penteadeira. São dos anos oitenta e têm uma grande armação verde que esconde totalmente meu rosto. Também fazem com que me pareça com Elton John, mas vou viver com isso. O importante é que não me pareço com meu eu antigo.

Quando desço, Emma está saindo da cozinha, parecendo chateada. Ela me olha e para, surpresa.

- Regina... o que você fez?

- Ah, o cabelo? - Toco-o casualmente. - Só queria um estilo diferente.

- Esses óculos escuros são seus? - Ela me olha, incrédula. 

- Estou com um pouco de dor de cabeça. E então, como vão as coisas? - acrescento mudando rapidamente de assunto.

- Ingrid. - Ela faz um muxoxo. - Esteve me dando sermão sobre barulho. Não posso cortar a grama das dez e às duas horas. Não posso usar o podador sem avisar antes. Perguntou se eu poderia andar na ponta dos pés no cascalho. Na ponta dos pés! 

- Por quê?

- Por causa da porcaria dessa visita. Todos temos de ficar dançando em volta dela. Uma droga de uma advogada. - Ela balança a cabeça incrédula. -O trabalho dela é importante. Ora, o meu trabalho é importante!

- Ela está vindo! - A voz de Ingrid estrila subitamente na cozinha e ela sai correndo. - Estamos todos prontos? - Ela abre a porta da frente e ouço o som de uma porta de carro se abrindo.

Meu coração começa a bater no peito. É isso. Puxo mais uns fios de cabelo sobre o rosto e aperto os punhos ao lado do corpo. Se reconhecer esta mulher vou simplesmente ficar de olhos baixos, murmurar as palavras e fazer meu papel. Sou empregada doméstica. Nunca fui nada além de empregada doméstica.

- Bom, você vai ter muita paz por aqui, Elsa – ouço Ingrid dizendo. – Instruí os empregados a tratarem você com cuidado extra especial...

Troco olhares com Emma, que revira os olhos.

- Aqui estamos! Deixe-me manter a porta aberta...

Prendo o fôlego. Um instante depois Ingrid entra na casa seguida por uma garota de jeans e blusa branca justa, arrastando uma mala.

Esta é a advogada poderosa?

Olho-a depressa. Tem cabelos loiros compridos e rosto esperto, bonito, e não pode ter muito mais de vinte e um anos.

- Elsa, esta é nossa maravilhosa empregada, Regina... – Ingrid para, surpresa. – Regina, o que, diabos, você está usando? Está parecendo Elton John.

Fantástico. Só fiz atrair a atenção.

- Olá – digo sem jeito, tirando os óculos escuros mas mantendo a cabeçabaixa. – Muito prazer em conhecê-la.

- É fabuloso estar aqui. – Elsa tem um sotaque de colégio interno e um jeito de jogar os cabelos que combina. – Londres estava, tipo... me deixando tããão baixo astral!

- A Sra. Mitchell disse que a senhorita é advogada num... lugar importanteem Londres?

- É. – Ela me dá um sorriso presunçoso. – Sou da Escola de Direito de Chelsea.

O quê?! 

Ela nem é advogada qualificada. É estudante de direito. É um bebê. Levanto a cabeça cautelosamente e a encaro - mas não há sequer uma piscadela de reconhecimento. Ah, pelo amor de Deus. Não tenho nada que me preocupar com essa garota. Quase sinto vontade de rir.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora