cinco

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CINCO

Caminho pela recepção no piloto automático. Saio à rua ensolarada e cheia de gente na hora do almoço, um pé na frente do outro, simplesmente outra funcionária de escritório andando.

Só que não sou igual. Perdi cinquenta milhões de libras de um cliente.

Cinquenta milhões. É como um tambor na cabeça.

Não entendo como isso aconteceu. Não entendo. Minha mente fica revirando. Revirando e revirando, obsessivamente... Como posso não ter visto... Como posso ter deixado de ver...

Nem vi o documento. Nem o registrei sequer por um instante. Deve ter sido posto na minha mesa e depois coberto com outra coisa. Uma pasta, uma pilha de contratos, um copo de café.

Um erro. Um equívoco. O único erro que já cometi. Quero acordar e descobrir que tudo é um pesadelo, aconteceu num filme, aconteceu com outra pessoa. É uma história que estou ouvindo no pub, boquiaberta, agradecendo aos meus deuses da sorte por não ter sido eu...

Mas fui eu. Sou eu. Minha carreira acabou. A última pessoa que cometeu um erro assim na Carter Spink foi Ted Stephens em 1983, que perdeu 10 milhões de libras de um cliente. Foi demitido no ato.

E eu perdi cinco vezes mais.

Minha respiração está ficando mais curta; minha cabeça está tonta; sinto como se estivesse sendo esmagada. Acho que estou tendo um ataque de pânico. Sento-me num banco, e espero até me sentir melhor.

Certo. Não estou me sentindo melhor. Estou me sentindo pior.

De repente dou um pulo horrorizada quando o celular vibra no bolso. Tiro e olho o identificador de chamadas. É o Daniel.

Não posso falar com ele. Não posso falar com ninguém. Agora não.

Um instante depois, o telefone me diz que foi deixada uma mensagem. Levanto o aparelho ao ouvido e aperto “1” para escutar.

Regina! - Daniel parece jovial. - Aonde você foi? Estamos todos esperando com o champanhe para fazer o grande anúncio da sociedade!

Sociedade. Quase quero explodir em lágrimas. Mas... Não posso. É grande demais para isso. Enfio o telefone no bolso e me levanto de novo. Começo a andar cada vez mais depressa, serpenteando entre os pedestres, ignorando os olhares estranhos que atraio. Minha cabeça está martelando, e não faço idéia de para onde vou. Mas não consigo parar.

Ando pelo que parece ser horas, num atordoamento, os pés se movendo as cegas pela calçada. O sol bate forte e o chão está poeirento, e depois de um tempo a cabeça começa a latejar. Num determinado ponto meu celular começa a vibrar de novo, mas o ignoro.

Por fim, quando as pernas começam a doer, diminuo a velocidade e paro. Minha boca está seca; estou totalmente desidratada. Preciso de água. Levanto a cabeça, tentando me orientar. De algum modo, pareço ter chegado à estação de trem de Paddington, imagine só.

Entorpecida, viro os passos em direção à porta e entro. O saguão está ruidoso e apinhado de viajantes.

As luzes fluorescentes, o ar-condicionado e os anúncios estrondeantes me fazem encolher. Enquanto vou até um quiosque que vende água, o celular vibra de novo. Tiro e olho a tela. Tenho 15 telefonemas não atendidos e outro recado do Daniel. Ele o deixou há uns vinte minutos.

Hesito, o coração batendo de nervosismo, depois aperto o “1” para ouvir.

- Meu Deus, Regina, o que aconteceu?

Ele não parece mais jovial, parece totalmente estressado. Sinto pontadas de pavor por todo o corpo.

- Nós sabemos - está dizendo ele. – Certo? Sabemos sobre o Third UnionBank. Charles Conway ligou.  Então gold encontrou a papelada na sua mesa. Você tem de voltar ao escritório. Agora. Ligue de volta. 

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennWhere stories live. Discover now