dezenove

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DEZENOVE

Não vejo a brochura da Carter Spink de novo até duas semanas depois, quando estou entrando na cozinha para fazer o almoço.

Não sei o que aconteceu com o tempo. Mal o reconheço. Os minutos e as horas não passam tiquetaqueando em nacos rígidos. Fluem, refluem e redemoinham. Nem uso mais relógio. Ontem me deitei num campo de feno durante toda a tarde com Emma, olhando sementes de dente-de-leão flutuando; e o único tiquetaque era dos grilos.

Mal me reconheço, também. Estou morena de ficar deitada ao sol no descanso do almoço. Há fiapos dourados nas pontas dos meus cabelos. Minhas bochechas estão cheias e coradas. Meus braços estão ganhando músculos de tanto polir, amassar pão e carregar panelas pesadas de um lado para o outro.

O verão está com força total e cada dia é mais quente do que o anterior. Toda manhã, antes do café, Emma caminha comigo de volta pelo povoado até a casa dos Mitchell - e mesmo a essa hora o sol já está esquentando. Tudo parece lento e preguiçoso hoje em dia. Nada parece importar. Todo mundo está em clima de férias - a não ser Ingrid, que entrou num frenesi total. Vai dar um grande almoço de caridade na semana que vem, porque leu numa revista que é isso que as damas de alta classe fazem. Pela confusão que está fazendo, o negócio parece um casamento real.

Estou arrumando os papéis que Elsa deixou atulhados na mesa quando vejo a brochura da Carter Spink embaixo de uma pasta de papel. Não resisto a pegá-la e folhear as imagens familiares. Ali está a escada que subi todos os dias da vida durante sete anos. Ali está Daniel, mais admiravelmente bonito do que nunca. Ali está aquela garota Sarah, do departamento de litígio, que também era candidata a sócia. Nem ouvi dizer se conseguiu.

- O que você está fazendo? - Elsa entrou na cozinha sem que eu ouvisse. Ela me olha cheia de suspeitas. - Isso é meu.

Honestamente. Como se eu fosse roubar uma brochura.

- Só estou arrumando suas coisas - digo objetivamente, pousando a brochura. - Preciso usar esta mesa.

- Ah. Obrigada. - Elsa coça o rosto. Parece exausta ultimamente. Há sombras sob seus olhos e o brilho do cabelo sumiu.

- Você está trabalhando duro - sugiro mais gentilmente.

- É, bem ... - Ela ergue o queixo. - No fim vai valer a pena. Eles fazem a gente trabalhar muito no início, mas depois que a gente se qualifica, tudo se acalma.

Olho seu rostinho cansado, repuxado, arrogante. Mesmo que pudesse lhe dizer o que sei, ela não acreditaria.

- É - digo depois de uma pausa. - Tenho certeza que você está certa. - Olho de novo a brochura da Carter Spink. Está aberta numa foto do Archie. Ele usa uma gravata de bolinhas azul-escura e um lenço combinando, e está rindo de orelha a orelha para o mundo. Só de vê-lo me dá vontade de sorrir.

- Então você vai se candidatar a essa firma de advocacia? - pergunto casualmente.

- É. É a melhor. - Elsa está pegando uma Diet Coke na geladeira. - Esse é o cara que deveria me entrevistar. - Ela inclina a cabeça para a foto de Archie. - Mas ele vai sair.

Sinto uma sacudida de perplexidade. Archie vai sair da Carter Spink?

- Tem certeza? - pergunto antes de me conter.

- É. – Elsa me dá um olhar estranho. - Por quê?

- Ah, nada - respondo largando rapidamente a brochura. - Só quis dizer... que ele não parece ter idade para se aposentar.

- Bem, ele vai. - Ela dá de ombros e sai da cozinha, e eu fico olhando perplexa.

Archie vai sair da Carter Spink? Mas ele sempre alardeou que nunca se aposentaria. Sempre alardeou que duraria mais vinte anos. Por que sairia agora?

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ