quatorze

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QUATORZE

Chego à manhã de sexta-feira sem qualquer calamidade maior. Pelo menos nenhuma de que os Mitchell tomem notícia.

Houve o desastre do risoto de legumes na terça mas graças a Deus consegui um substituto de última hora vindo do bufê de entregas. Houve uma camisola pêssego que, pensando bem, deveria ter sido passada com ferro mais frio. Houve o vaso de Dartington que quebrei enquanto tentava tirar a poeira com o acessório do aspirador de pó. Mas ninguém parece notar que ele sumiu, por enquanto. E o novo deve chegar amanhã.

Até agora esta semana só me custou duzentas libras, o que é um avanço enorme com relação à outra.

Talvez eu até comece a ter lucro daqui a um tempo.

Estou pendurando as cuecas molhadas de George na lavanderia, evitando olhá-las, do melhor modo que posso, quando ouço Ingrid me chamar.

- Regina! Onde você está? - Não parece satisfeita e sinto um aperto por dentro. O que ela descobriu? - Não posso permitir que você continue andando por aí assim. - Ingrid chega à porta da lavanderia balançando a cabeça vigorosamente. 

-Perdão? - espio-a.

-Seu cabelo. - Ela faz uma careta.

-Ah, certo. – Toco a parte descolorida, fazendo uma careta. -Pensei em dar um jeito neste fim de semana...

-Você vai dar um jeito agora - interrompe ela. - Minha super cabeleireira está aqui.

-Agora? - Encaro-a. - Mas... Preciso passar o aspirador.

-Não vou deixar você andando por aí feito uma bruxa. Pode compensar as horas depois. E vou descontar do seu salário. Venha. Abigail está esperando.

Acho que não tenho escolha. Jogo o resto das cuecas de George na bancada e a acompanho escada acima.

-Bom, eu estava pensando em falar do meu cardigã de caxemira - acrescenta Ingrid séria quando chegamos ao topo. - O creme, sabe?

Merda. Merda. Ela descobriu que eu o substituí. Claro que descobriu. Eu deveria saber que ela não seria tão idiota...

-Não sei o que você fez com ele. - Ingrid sopra uma nuvem de fumaça e abre a porta do quarto. – Mas está maravilhoso. Aquela manchinha de tinta na bainha desapareceu completamente! Parece novo!

-Certo. - Dou um sorriso de alívio. - Bem... fiz parte do serviço!

Acompanho Ingrid entrando no quarto, onde uma mulher magra com enorme cabeleira loura, jeans brancos e cinto de corrente dourada está arrumando uma cadeira no meio do cômodo.

-Olá! - Ela ergue os olhos, cigarro na mão, percebo que deve ter uns sessenta anos. – Regina. Ouvi falar tudo sobre você.

Sua voz é grave, a boca franzida com rugas de tanto tragar cigarro, e a maquiagem parece ter sido soldada na pele. É basicamente Ingrid, 15 anos depois. Adianta-se, examina meu cabelo e se encolhe.

-O que foi isso? Tentou fazer uma mecha? - Ela dá uma gargalhada rouca da própria piada.

-Foi um ... acidente com água sanitária.

-Acidente! - Ela passa os dedos pelo meu cabelo, estalando a língua. -Bom, não pode ficar desta cor. É melhor fazermos um belo louro. Você não se incomoda de ficar loura, não é, querida? 

Loura?

-Nunca fui loura - digo alarmada. – Realmente não sei...

-Você tem a cor de pele certa para isso. - Ela está escovando meu cabelo.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora