capítulo 5

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Manhã da formatura

             Fui permitida a olhar no espelho. Tenho que admitir que foi meio estranho. Durante um ano, havia tido apenas vislumbres dele em vidros e janelas. Espelhos só eram permitidos em ocasiões especiais em nossa facção, que não aconteciam com frequência.

             A última vez tinha sido na manhã da formatura de minha irmã.

             Encarei minha reflexão tentando afastar o pensamento. Poderia meu rosto ter mudado tanto em apenas um ano? Pois ele parecia diferente do de minha memória.

             Parecia mais fino. Ou talvez estivesse assim apenas em razão do estresse dos últimos dias. Eu certamente esperava que as grandes olheiras que agora estavam abaixo de meus olhos, também fossem apenas em razão disso. Consegui também reparar um traço predominante entre as sobrancelhas onde costumo franzi-las.

             É. Talvez eu realmente não deva ter muito acesso a um espelho.

             Minha mãe arrumava meu cabelo em uma trança quietamente mas com carinho, como se pressentisse que algo iria acontecer. Foi da mesma maneira no ônibus a caminho do prédio da Cerimônia, ambos pareciam calmos, mas eu conseguia ver os olhares de preocupação que minha mãe me mandava. A cidade parecia mais quieta do que o normal, apenas com seu centro brilhando em festa,

            Descemos logo em frente aos degraus da entrada do prédio. Era o mais alto e bonito na cidade, e hoje parecia especialmente mais elegante colorido com as cores das cinco facções. Eu tinha que inclinar minha cabeça para vê lo, e mesmo assim, parte dele desaparecia nas nuvens.

              Haviam pessoas de todas elas na multidão, as diferentes cores das roupas de suas facções formando uma espécie de arco-íris. Milhares de pensamentos rondavam minha cabeça.

             Será que Alice era uma das pessoas ali? Vi uma menina de cabelo vermelho passando rapidamente, porém soltei a respiração ao ver suas roupas cinzas seguindo. Não. Alice estaria vestida Franqueza. Preto e branco. Não nas cores de uma facção à qual ela não mais pertencia. Mesmo assim, me agarrei à esperança ao observar o local em sua busca.

            Simultaneamente também pensei em Nate. Será que ele estaria ali? Talvez se o visse conseguiria me distrair um pouco...

            Entramos no elevador lotado, e quando ele começou a subir em direção ao vigésimo segundo andar, senti como se meu coração fosse saltar do peito a qualquer momento. O dia que vinha temido por meses. Qual pensava a todo momento. Havia finalmente chegado.

            O salão foi organizado em círculos concêntricos. No meio estava o palco e os formandos de 17 anos estavam sentados em cadeiras. Onde eu deveria ir. Fiquei mais tranquila ao ver que seus rostos também espantavam certa ansiedade, exatamente como o meu deveria estar.

            Olhei para trás, onde meus pais me olhavam carinhosamente. Teríamos que nos separar agora. Talvez essa seria a última vez que eu falaria com eles, por um bom tempo, porém fiquei me remoendo com a ideia de uma despedida, o que isso significaria. Não. Ainda não havia feito minha escolha. Mas...

            Eles apenas me abraçaram de volta quando coloquei meus braços ao redor dos dois. Minha mãe fazia carinho em meu cabelo levemente e pude jurar que via um brilho de tristeza em seu olhar.

            "Agora vá logo, minha menina. Já vai começar", disse meu pai, me afastando de seus braços com um sorriso no rosto. Tentei retribuir o sorriso, mas acabei não conseguindo.

             "Temos muito orgulho da pessoa que você se tornou, Sarah. Você também deve ter", completou minha mãe, e então eles sumiram na multidão, sentando-se em seus assentos junto com as outras famílias dos formandos, perto de outros membros da Abnegação. Suspirei fundo e também fui à procura de meu lugar.

             Fomos organizados em ordem alfabética, eu sendo uma das últimas da fila. Ao meu lado esquerdo estava uma menina também da Abnegação, e ao direito um menino da Amizade. Não sabendo se enxergava isso como um sinal ou não, preferi ignorar.

alice  e o coelho brancoWhere stories live. Discover now