12 - Cristais brilhantes

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"Espera, não rolou nada? Tipo aquele clichê de encontrar um desconhecido e acabar no quarto de hotel dele?"

"Não." Miranda sorriu. "Bom, nos beijamos no elevador, antes de eu sair no meu andar, mas foi só isso. O beijo tornou tudo pior."

"Por que era bom?"

"Maldição! Era muito bom!"

"Sério, qual o problema desse cara? Por que ele não chamou você? Por que você não chamou ele? Por que não trocaram contato? Eu não teria perdido essa oportunidade."

"Claro que não, senhorita atrevida. Mas as coisas são como tem que ser, foi bom só aquele momento, pelo menos não começamos um relacionamento a distância apenas para estragar tudo depois."

"Eu não sei se posso concordar com isso, quero dizer, tinha algo, não? Poderia ter sido incrível, vocês simplesmente desistiram antes de tentar."

"Para quê? Cultivar algo que não tem futuro, quando os dois sabiam que nunca funcionaria já que viviam em países diferentes? Apenas nos magoaríamos adiando o inevitável." Andrea olhou para seu prato vazio, refletindo sobre tudo isso, Miranda suspirou e levantou, recolhendo a louça. "Eu entendo como é ter vinte e dois anos e acreditar que tudo é possível se tentarmos, mas pular de um prédio com os braços abertos tentando voar vai realmente te matar. Com um tempo você vai se acostumar a deixar algumas coisas irem, é o processo natural de nossa jornada."

"Você não acha que é por isso que nunca amou ninguém? Deixou as oportunidades antes mesmo delas se mostrarem?"

"Talvez… possivelmente. Mas não podemos ter tudo na vida. Sempre temos que escolher e mesmo quando não escolhemos, é uma escolha. Como Sartre disse, nós somos condenados a ser livres, assim como somos livres para escolher. Eu escolhi viver na França, escolhi focar na minha carreira, nos meus sonhos, escolhi ser independente, viver minha vida à minha maneira, sou responsável por estar onde estou e como estou."

Elas caminharam para a cozinha e Miranda colocou os pratos na lava louças, percebendo pelo canto do olho a inquietude de Andrea.

"O quê? Você pode simplesmente discordar, não estou sendo condescendente, mas ao longo da nossa vida discordamos de nós mesmos infinitas vezes."

"Não… não é isso." Elas continuaram, enquanto caminhavam para a sala de estar. "É que me fez pensar… quando escolhi estudar para ser jornalista, automaticamente deixei de escolher todos os outros cursos, quando escolhi vir para França, deixei de escolher todos os outros países, quando decidi gastar meu dinheiro com essa viagem, deixei de fazer uma cirurgia que realmente me traria ainda mais dor. De certa forma parece que estamos sempre deixando coisas para trás, enquanto caminhamos e fazemos nossas escolhas."

"Hum." Miranda murmurou, antes de deitar sobre Andrea no sofá, repousando o rosto em seu peito. "Mas viver é realmente isso, não é possível não ter alguma ação em relação às coisas. E é arriscado, tomar decisões sempre será arriscado, nunca sabemos para onde nos levará, mas você não precisa ficar pensando muito sobre isso, prender-se ao que poderia ter sido. O melhor é apenas seguir em frente."

"Você não se arrepende de nenhuma decisão?" Miranda ergueu o rosto para vê-la e Andrea deslizou os dedos entre as mechas macias do cabelo dela.

"Não, eu faria algumas coisas diferentes. Como, talvez não me afastaria tanto de minhas irmãs, embora às vezes eu acredito que nunca daríamos certo juntas. Uma vez eu tentei ajudar Donna, mas ela não aceitou, não me surpreendeu, as mulheres da minha família são muito orgulhosas. Então eu desisti de qualquer proximidade, talvez hoje eu fizesse diferente."

"Donna?"

"Sim, minhas irmãs são Donna e Dee Dee."

"Você é a adotada? A única com a inicial diferente." Miranda sorriu, e ergueu ligeiramente o corpo para beijá-la.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora