Nas profundezas do Inferno, em um dos sete castelos que há nele, há mais de duzentos anos atrás, nasceu uma Lilim, um demônio, um dos mais temidos demônios pelo homem. Principalmente os infiéis.
Talvez, você ache isso estranho, mas ela não ficou no...
“Eu só quero vingança Sinto que alguém está tramando algo A traição está no ar, estou enlouquecendo Só mais outra faca em minhas costas As puxe e veja minha dor escorrer”
Revenge, And a Little More – Unlike Pluto
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Você já se pegou encarando o horizonte em silêncio, enquanto todos os outros a sua volta estavam com as cabeças deitadas em seus travesseiros, pensando em como tudo poderia ter sido diferente se você tivesse feito somente uma coisinha só diferente? Como não ter entrado em uma rua, ou então ter tomado suco de laranja ao invés de leite, ou simplesmente não ter nascido. Cada uma dessas coisas poderiam ter mudado o meu rumo, o rumo em que as coisas foram.
Mesmo tedo convencido a mim mesma que já havia superado tudo, eu ainda pensava em como eu poderia ter feito as coisas diferentes. Pensava nisso enquanto colocava as compras de um desconhecido em uma sacola plástica, enquanto tinha alguém entre minhas pernas, enquanto eu deixava pelo máximo de tempo possível minha cabeça debaixo da água fria da banheira, ou como neste exato momento: bebendo café em cima de um carro enferrujado e abandonado, numa rua também abandonada, com o sol nascendo timidamente atrás de solares antigos por Taebaek.
“Ah...doce.” murmurei descontente ao experimentar novamente o café no copo de papel em minhas mãos. Não sou fã de café com açúcar, prefiro amargo.
Eu podia sentir o frio da manhã nas pontas de meus dedos que estavam fora da manga longa e preta de minha blusa. No momento não ventava, mas até vinte minutos atrás eu fui obrigada a prender todos os fios de meu cabelo se não quisesse eles em meu rosto, atrapalhando a degustação de meu não-tão-querido café.
Eu sentia um gelado parecido em meu peito e barriga, como o anuncio de uma futura nevasca, e isso me fazia vizualizar por alguns milésimos eu abrindo meu peito para tentar me livrar desta sensação de desespero, ansiedade e inquietude.
Do mesmo jeito, eu continuava sentada no teto daquele velho carro vermelho apagado e triste, tomando meu café, como se eu não tivesse sentindo nada, eu continuava esperando-o. Normalmente ajo como uma criança birrenta quando o assunto se é esperar por algo, mas agora, agora eu preciso ser calma como um monje e aguardar o demônio em um sobretudo elegante, afinal, ele pode ter respostas que eu necessito, que eu busco nos últimos meses.
“Que horas devem ser?” questiono ao vento, tombando meu pescoço um pouco para o lado e suspirando em seguida. Não dormi bem a noite passada, então ainda sinto vontade de ir para minha cama e dormir.
Levo minha única mão livre ao bolso detrás de minha calça jeans, pegando o aparelho eletrônico guardado ali e o trazendo para frente. Enquanto eu colocava os números para desbloquear o celular, passei minha língua perto do meu lábio inferior, o debaixo, e pude sentir uma pequena bolinha que deve ter se formado de eu tanto morder ali.
