17. Consolações

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Eu sabia que Lúcia estava chateada por eu passar pouquíssimo tempo em casa e a entendia, mas acredito que ela não percebia que eu não me sentia confortável no lar, que ainda não queria rever papai.

Estava perto do final de novembro, eu e Timotheé estávamos fazendo compras em uma loja do shopping, éramos os únicos clientes e lá estávamos a mais de uma hora tentando decidir qual casaco comprávamos porque não conseguíamos decidir qual o menos brega, ao fundo tocava uma musica melancólica quase inaudível, quando Tim virou para mim e fez meu coração bambear sangue mais rápido do que nunca.

- Amo você - aquelas duas palavras eram uma necessidade tão constante quanto piscar os olhos.

- Eu amo mais - digo enquanto ele enrolava uma mecha do meu cabelo curto no dedo.  

Após as compras, passeamos de carro escutando musicas intermináveis de uma banda que ele havia descoberto chamada Towr's, as letras eram bem metafóricas, e geralmente eu ignorava, mas por alguma razão aquela maldita estrofe grudou em mim:

"Nos braços da santidade há mil tempestades, rugem silenciosamente, mas ainda dando esperança, está é uma vírgula não um período. Curse os pássaros para cantar em um dia que nos machucarmos."


Quando escureceu, decidimos ir a uma cafeteria na Times Square antes de voltarmos para nossas casas, e pela coincidência do destino, esbarramos em uma garota. Bem ruiva. 

- Desculpe! - disse ela. Era Gizela, minha antiga colégio.

Ela abriu um enorme sorriso de surpresa ao me reconhecer abraçando a mim e a Tim  afetuosamente antes de se convidar para se sentar conosco. Ela estava muito bonita e atraente sem os óculos e as roupas em estilo europeu.

Assim que pedimos nossos cafés a garçonete, ela desatou a falar novamente:

- Fico muito feliz em ver que ainda estão juntos - ela observou.

- Como vão os estudos em Londres? - indaguei.

- Bem estressantes, mas bem. Amanhã já estou voltando com meus pais, viemos apenas visitar minha vó devido ela ter passado por alguns problemas pulmonares sabe - contou ela - Eu gostaria de ter vindo antes.

Minhas mãos estavam suadas, e meu coração apertado. Sabia que ela tocaria no nome de Niall a qualquer segundo e ao olhar para meu namorado, percebi que a sensação de agonia era a mesma.

- Fui visitar o tumulo de Niall hoje - ela comentou enfim, parecendo afundar em profunda tristeza - Quem visita o tumulo do namorado após meses da morte dele?

A voz dela embargou e ela agarrou a caixa de lencinhos. 

Não adiantava tentar nos enganar, jamais haveria consolações para a morte do nosso amigo, que em parte era culpa de todos nós.

- Ainda não consigo acreditar que ele morreu daquela forma cruel, repugnante - limpou os olhos molhados - Você suspeitava que ele estava usando drogas Maia?

- Não - respondi - Mas me culpo todos os dias por não ter percebido como ele estava infeliz.

- E eu me culpo por ter ido - disse ela.

Timotheé segurou minha mão e olhou em direção a vidraça, incapaz de encarar o olhar de Gi, sabendo que Henrique foi o principal colaborador daquela tragédia, mas conseguiu milagrosamente que mudássemos de assunto em poucos minutos e conseguiu uma forma de que ela focasse nele e não em mim, afinal quais novidades eu poderia contar a ela?

Ah então Gi, eu passei os últimos meses em reabilitação sabe...


Dia 30 de novembro.

VIVAWhere stories live. Discover now