7. Maia Sofig, O Começo

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TERCEIRA PARTE: Narrada na 1ª pessoa (passado).


New York, Manhatten, Upper East Side, 2008.

"Todos os dias você tem páginas em branco para escrever uma nova história, não viva na mesmice."

Quando meu pai me disse essa frase eu pensei que era no sentido literal, sentar todos os dias com caneta, papel e escrever histórias diferentes. Eu só tinha dez anos de idade na época.

Quando eu comecei a fazer perguntas sobre minha mãe, contaram que ela faleceu quando eu tinha dois meses de vida. Só descobri que ela morreu de depressão pós parto com dezoito anos, e sinto-me sensata por não ter sido uma dessas crianças e adolescentes que ficam fuçando o passado, já que eu era problemática sem saber que matei minha mãe.

Continuando...

Tinha meu pai, e Lúcia minha irmã, meu porto seguro, apesar de entender desde muito cedo que eles não podiam passar muito tempo comigo devido o trabalho. Passei a maior parte da infância em escolas particulares de idiomas repletas de idiomas repletas de infindáveis regras. Havia meu refugio: O Central Park, que felizmente ficava bem ao lado da nossa casa.

Então, em um belo dia, meu pai conheceu uma mulher "extraordinária". Eu nunca o tinha visto apaixonado antes, e sem nenhum prévio aviso, ele começou a se organizar para se mudar para uma cidade minúscula chamada Abingdon na Virgínia. Ele estava tão seguro de que eu iria com ele... Estava enganado.

Eu era só uma criança, mas era decidida e tinha uma personalidade peculiar. Passei semanas sem falar com ele, na tentativa inútil de fazê-lo mudar de ideia, e até cheguei a pedir que ele a convencesse a vir para New York, mas não deu certo.

Eu estava feliz por ele, e pela mulher que o teria ao seu lado, mas o fato de ele estar me abandonando para construir uma nova família perfeita tão longe me machucou demais.

Nossa despedida foi chorosa, mas neguei-me a fazer escândalos.

De repente a casa ficou mais quieta. Não havia mais o som de jogo de futebol americano na televisão aos sábados pela manhã, o cheiro das panquecas que ele fazia, nem Lúcia pendurada no celular tagarelando com suas amigas da faculdade; havia recentemente se formado em estilista e não ficava em casa. Rose nossa secretária, era um amor de pessoa e cuidou de mim, mas nossa interação era resumida em "o jantar está pronto pequenina" e "estou indo".

Quando completei doze anos, comecei a acompanhar minha irmã para a butique exclusiva com vestidos de noiva que ela gerenciava com uma sócia localizada no Chelsea.

A ideia era que eu ficasse menos tempo sozinha. E até deu certo por um tempo.

Com quatorze anos, infelizmente, Lúcia me convenceu da tola ideia de participar de um desfile juvenil exibindo as roupas de algumas butiques vizinhas. Não demorou muito para que eu começasse a desenvolver distúrbio de autoimagem e alimentares por me comparar com super modelos esqueléticas.

Devido praticamente ter parado de comer para perder peso, minha imunidade começou a falhar e comecei a faltas constantemente na escola por estar doente. Quando voltava não conseguia interagir com meus colegas, e os idiotas tampouco conseguiam esconder os olhares abomináveis, devido minha aparência.

Centenas de milhares de pessoas passam pelos mesmos problemas todos os dias e engolem o veneno destrutivo como se fosse água: todos os dias, como eu fiz, é assustador. 

Quando tinha quinze anos, Rose a secretária faleceu por um aneurisma que ela nem sabia que tinha. A partir dai começamos a passar a vida toda trocando de secretárias e empregada inconstantes.

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