9. Fosso

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New York, 2014.

Havíamos terminado o colégio.

Diferentemente de Gizela e Niall, eu e Tim não havíamos nos candidatado a nenhuma faculdade, mas, até Tim tinha um plano.

Gizela rapidamente foi aprovada em uma dúzia de faculdades, inclusive em Londres; que rapidamente fez seus pais arrumarem as malas e a levarem embora direto para Londres, já que também haviam recebido propostas de empresas. Niall, além de estar triste com a partida da namorada, aguardava a resposta da NYU com completo desespero.

Meu Tim, havia começado a fazer um curso de socorrista de ambulância com duração de seis meses, já que acreditava ser essencial apresentar na carta a essa experiência, pois iria tentar qualquer faculdade de medicina que o aceitasse. E ainda, nos finais de semana, trabalhava com o sistema do prédio do irmão.

E eu continuava trabalhando na cafeteria, sem fazer ideia do que gostaria de fazer e se possuía capacidade intelectual de entrar em uma faculdade sem precisar pagar. Meu pai, Lúcia e Tomaz já estavam me pondo pressão já que eu havia recusado o dinheiro deles por hora.

Quando fevereiro chegou, apesar do inverno neves ensurdecedores, eu e Tim continuamos nos vendo frequentemente sempre que podíamos. No primeiro sábado do mês, quando eu e os demais funcionários começamos a fechar a cafeteria para irmos para casa, Niall desceu as escadas aos gritos falando no celular; aparentemente com pai. Depois de desligar baixou o aparelho rudemente no balcão ao mau lado e foi até uma das geladeiras e encheu um copo de água.

- Niall, o que houve? – indaguei virando-me para ele.

- Tudo uma droga – respondeu ríspido, mas logo fitou-me com os olhos vermelhos – Desculpe ser grosso.

- Problemas com seu pai? – escorei as costas no balcão e ignorei a mensagem de Tim avisando que estava indo me buscar.

- Já teve a sensação de que, quando finalmente acha que está se tornando livre, alguém começa a te controlar como se fosse um fantoche? - ele entornou o copo de água.

Nunca o havia visto tão infeliz, magro e com os olhos inflamados.

- Sim – respondi – Eu já passei por fases merdas e, ainda me sinto perdida na verdade – dei de ombros – Mas, compartilhar isso com pessoas que amo me ajuda.

- Estou cansado – ele desviou o olhar como se quisesse esconder a vontade de chorar – Perdi a Gi, não fui aceito na NYU e meu pai está me usando.

Aproximei-me dele e segurei seus ombros:

- Niall? Você é sensacional, mais oportunidades virão, e Gi, ama você. Sabe disso. – ele me abraçou e escondeu o rosto no meu pescoço.

Niall chorou em silêncio por um tempo. Eu não sabia mais o que podia fazer para ajudá-lo, principalmente sobre seu pai...

- Maia – ele afastou-se o suficiente para limpar o rosto molhado e vermelho - Eu gosto muito do Tim, ele é ótimo, mas ao acho uma boa ideia continuar perto dele e do irmão dele.

- Eu o amo – disse a ele, chocada pela forma como falou – Niall, o que Henrique está vendendo para o seu pai?

- Drogas – respondeu em um sussurro quase inaudível – Mas você já sabia disso.

Engoli em seco e continuei o encarando, com o coração apertado:

- Eu nunca conversei com Henrique.

- Ele é a família do Tim Maia, terão que conviver se forem continuar juntos. Ninguém merece você – sorrio e enxugou a lagrima que estava prestes a escorrer por seu rosto.

VIVAWhere stories live. Discover now