Capítulo 19 - Pedido de Desculpa

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Logo era horário do almoço e me apressei em encontrar a cafeteria do prédio.

Lúcia e Bruna disseram que logo me alcançariam, mas com a fome que eu estava não poderia esperar por elas.

//12:34: Já já te encontro para almoçarmos, compra um donut pra mim, xoxo (emoji de coração)

Okay, não estava preparada para aquela mensagem carinhosa do Antônio e me peguei rindo igual uma boba dentro do elevador.

Eu parecia uma adolescente dos meus filmes de romance. Eu, que as julgava e as chamavam de infantis, agora estava agindo igual a elas. Que ironia do destino.

A cafeteria ficava no térreo e demorei uns dez minutos para encontrar a entrada correta naquele enorme saguão.

A recepcionista que havia me atendido aquele dia me encarava raivosa e eu apenas a ignorei.

Na cafeteria comprei um donut e um suco para Antônio e para mim um salgado assado e uma lata de coca cola. Como o dia seria corrido, não tínhamos como almoçar em casa.

Marcos havia se ausentado e me deixado na função de acompanhar o desenvolvimento das equipes e rever as propostas de cada uma.

Pela manhã indiquei as correções nos relatórios e dei algumas ideias importantes para enriquecer os projetos.

No entanto, agora pela tarde eu teria ainda mais trabalho pois teria que organizar novamente as planilhas de acordo com as modificações que eram feitas nos projetos.

Antônio, eu deduzi, que estava em reunião assim como Marcos, pois também não teria tempo de almoçar de forma devida.

Me acomodei no meio da cafeteria, assim Antônio poderia me ver de qualquer lugar que aparecesse.

Comecei a mastigar meu salgado, mas antes que completasse a segunda mordida alguém se sentou ao meu lado.

Larissa exibia suas curvas em uma saia colada e uma regata neutra. Seu sorriso estava diferente, parecia apagado.

-Então você anda vivendo um romance de escritório - ela começou.

Respirei fundo pelo menos três vezes antes de dizer:

-Não é da sua conta.

Ela sorriu, sem emoção e mordiscou a maçã que trazia em suas mãos.

-Não se preocupe, não vou contar para ninguém - ela disse.

Eu a encarei por alguns instantes.

-Não preciso que fique me devendo um favor - eu disse em tom cortante.

-Nem se eu lhe fizesse mil favores pagaria a dor que te causei - ela falou tristonha.

Eu não conseguia acreditar em sua atitude, por mais boa que ela fosse. Já havia acreditado em Larissa uma vez e errei feito no meu julgamento.

-Nisso temos que concordar - eu disse, retomando a minha mordida.

-Não queria ter atrapalhado seu casamento, me desculpa - ela disse, os olhos cheios de lágrimas.

Eu a encarei, mais uma vez.

Eu mordia lentamente o alimento, até por fim o engolir e falar:

-Não fico triste pela porcaria do meu casamento - eu disse. - Não tínhamos futuro de qualquer forma.

Dei de ombros.

-Então pelo que eu deveria me desculpar? Por que sinto que te devo desculpas - ela disse.

-Talvez pela amizade que tínhamos? - perguntei ironicamente. - Por me fazer confiar em você e depois me apunhalar pelas costas? Eu te considerava minha amiga, você tem noção do quanto me magoou pegar mensagens suas no telefone do meu marido?

Ela tentou esconder o rosto, mas dava para ver que não conseguia conter as lágrimas.

-Me desculpa - ela disse, finalmente controlando o choro. - Quando eu entrei na empresa senti inveja de tudo que você tinha. Você sempre chegava sorrindo, tinha um cargo melhor que o meu e parecia que tinha uma família tão feliz.

-As aparências geralmente enganam - a interrompi.

-Descobri isso depois, mas no começo eu sentia raiva por você ter tudo aquilo e eu não - ela soluçou. - Eu não devia ter feito o que fiz, principalmente porque você me ajudou muito dentro da empresa e sempre me apoiou... Me desculpa mesmo.

Eu dei de ombros, tomando uma grande quantidade de coca cola.

-Sem problemas - eu disse. - Inclusive desejo toda a felicidade do mundo para vocês.

Ela bufou e deu uma mordida na maçã.

-Não estamos mais juntos - ela disse.

Não estava muito surpresa. Afinal, com a lista de mulheres que Carlos tinha era fácil deduzir que ele não pouparia esforços para ficar com todas. Mas mesmo sabendo disso perguntei:

-O que aconteceu?

Ela sorriu, novamente sem emoção.

-Quando você disse que ele não tinha só a mim como amante eu comecei a ficar desconfiada - ela suspirou. - Não demorou muito para que eu pegasse mensagens de outras mulheres.

Já esperava esse plot, nada surpresa até o momento.

-Ele disse que não tínhamos nada e que eu coloquei na cabeça que estávamos namorando - ela riu ironicamente. - Se quer saber, ele até citou sei nome.

-Meu nome? - aquilo me pegou de surpresa.

-Sim, segundo ele vocês só deram um tempo e logo você vai voltar para ele - ela riu ironicamente, mais uma vez.

Acompanhei sua risada no mesmo tom.

-Que ele espere deitado, para não se cansar - eu disse.

-Cuidado, mesmo assim - ela disse. - Ele é meio obsessivo quando o assunto é você.

Eu ri da forma mais sarcástica que consegui, mas entendia o que ela estava falando. A psicopatia daquele homem não era cálculavel.

-Estou falando sério, ele ainda não jogou fora as suas fotos e da última vez que eu fui lá na casa dele buscar minhas coisas ele tinha espalhado fotos de vocês dois pelo quarto - ela simulou um calafrio.

Aquilo era além do que eu imagina que Carlos fosse capaz de fazer e isso me causou certo receio.

-Enfim, eu só vim pedir desculpas e dizer que seu segredo está guardado - ela se levantou de repente.

-Obrigada, Larissa - eu disse, ainda desconfiada, mas um pouco mais aliviada.

Ela sorriu, mesmo que um sorriso fraco, era a primeira vez que eu via emoção no seu olhar.

-Qualquer hora dessa a gente almoça junto - eu disse e me virei para morder mais um pedaço do meu salgado.

Ouvi a voz de Antônio atrás de mim cumprimentar Larissa e quando me virei ela já tinha dado as costas e andava em direção a uma das saídas.

-O que ela queria? - ele perguntou irritado.

Eu sorri para ele, tentando conforta-lo.

-Pedir desculpas - eu falei.

Achei melhor não lhe contar sobre Carlos, preocuparia ainda mais Antônio.

Ele olhou desconfiado na direção que a mulher havia ido, mas resolveu deixar pra lá e começou a devorar seu donut.

O Irritante do Quinto AndarWhere stories live. Discover now