Capítulo 6 - Pupilas dilatas

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No mesmo dia em que Antônio me passou a informação sobre o novo emprego, corri atrás de pedir minha demissão e nos últimos dias passei todo o meu tempo livre atrás de toda a papelada necessária para assumir meu novo emprego na segunda. Era sexta a noite a noite e eu estava jogada no sofá, contente. 

-Temos que comemorar - disse Ana da cozinha. 

Antônio, que estava sentado ao meu lado futricando nos canais da televisão, apenas concordou. 

-Não vejo que um emprego de secretária seja algo para se comemorar - eu disse, desanimada com as farras e bebidas que agradavam tanto Ana. 

Ela se aproximou de nós na sala. 

-Já que não quer comemorar o seu emprego, vamos comemorar a minha novidade - ela sorriu.

Encarei Antônio, confusa e ele parecia saber tanto quanto eu: nada. 

-Ninguém vai perguntar o que é? - ela disse saltitante. 

Eu e Antônio falamos um "não" em uníssono.

-Vocês são uns ridículos - ela falou. - Enfim, eu recebi uma proposta lá no meu emprego.

Vendo que ela não desistiria, nos viramos para Ana.

-Amanhã estarei indo para a filia de uma cidade no interior para cuidar da loja por essa semana - ela disse contente. 

-Vamos comemorar - disse Antônio. - Uma semana sem a Ana enchendo nosso saco. 

Ana acertou um tapa em seu braço e bufou. 

-Fico feliz por você - eu disse, ainda deitada. 

-Então vamos lá, gente - ela disse. - Só um drink. 

Eu conhecia essa história de 'só um drink'. Cai nesse conto várias e várias vezes, em todos eles esse 'um' se multiplicava inúmeras vezes até nos perdermos no calculo. 

-Por mim, tudo bem - disso Antônio. 

Não tinha como lutar contra Ana, principalmente quando colocava alguma coisa na cabeça. Então logo estávamos todos prontos.

Paramos no barzinho que conhecíamos e entramos, animados. Escolhemos uma mesa próxima a pista de dança, o que facilitaria para nós nos sentarmos assim que nos cansássemos. 

Ana e Antônio, como sempre, abusaram de suas produções. A mulher escolheu um vestido preto com lantejoulas e abusava de seus dons de maquiagem. Enquanto que o homem escolhera um camisa branca com caimento impecável e uma short escuro social. 

Diante de todo esse glamour, me obriguei a vestir um vestido preto de alça bem colado ao corpo, afinal era a roupa mais bonita que eu tinha.

Antônio se levantou e foi até o bar para pegar algumas bebidas, mas logo o rapaz foi abordado por uma dama nada discreta.

Admito que a beleza da mulher era imensa e ela carregava um sorriso sugestivo e cheio de significados. Mas o pior foi a pequena inveja que senti dela.

-Se ficar bobeando, vai perder o partido - Ana resmungou ao meu lado.

Ignorei o comentário e rodei o olhar pelo bar.

Me arrependi assim que vi Carlos e Larissa no outro canto do estabelecimento.

-Droga - eu indiquei o local pra Ana.

Ela ficou tensa.

Era notório que ela odiava Carlos tanto quanto eu.

Antônio retornou a mesa e ficou confuso. Provavelmente não entendendo o motivo das nossas carrancas endurecidas pelo ódio.

-O que rolou? - perguntou, entregando alguns drinks.

-O ex dela está aqui com a amante - Ana explicou.

Ele assoviou e se sentou ao meu lado. Próximo. Próximo até demais.

-O que pensa que está fazendo? - questionei, assustada.

-Para a Larissa eu sou seu namorado, se esqueceu? - ele deu de ombros.

-Não me lembro de ter concordado com essa ideia - eu disse.

Ele apenas sorriu, como se toda aquela encenação fosse gratificante para ele.

-Relaxa, baixinha, não vou te agarrar durante a festa - ele disse sorridente.

Fiquei um pouco triste. Mas não sabia bem o motivo.

-Por hora vamos apenas fingir que não vimos eles - Ana falou. - Não vamos estragar a noite por conta daqueles dois. 

Ela estava certa. Não compensava ficar irritada com o local, por conta da presença desagradável daqueles dois.

Minha amiga me puxou pelo braço e me arrastou até a pista de dança. 

Virei boa parte da bebida e embalei nos passos de dança com a minha amiga. Rebolamos a cada música que tocava, dominando a pista de forma sensual. Exibi meus melhores movimentos e tratei de extravasar todos os meus sentimentos naquele momento. 

Nós bebíamos incansavelmente, um drink após o outro.

Ao olhar para Antônio, notei que nos encarava. Seus olhos estavam com aquela mesma intensidade que eu tinha visto a alguns dias. Ele nos olhava como um leão, preste a atacar. Ele ficava lindo com aquela expressão. Poderia até dizer que sexy.

Algo em meu intimo se aqueceu e eu senti um rebuliço em meu estomago. 

O excesso de álcool estava agindo de uma forma inesperada em meu organismo. Mas não parei de beber os drinks e, também, não parei com meus movimentos. 

Depois de um tempo, eu e Ana retornamos para a nossa mesa. 

Antônio se aconchegou do meu lado e levou os dedos até os meus cabelos. Sua mão conduziu a mecha para atrás da minha orelha e o contato da ponta dos seus dedos na minha orelho provocou faíscas por todo o meu corpo.

Eu esta atônica. Com os olhos vidrados em seus lábios semicerrados. 

Ele sorriu e isso me despertou.

-Seu ex esta olhando em nossa direção furioso - ele disse em tom provocador.

Até a forma como ele pronunciava as palavras era encantador. Como eu não havia percebido isso antes? 

Chacoalhei a cabeça, me livrando daquele pensamento. Antônio era um otário. Eu não deveria sentir atração por ele mesmo que a desculpa fosse o álcool. Era tão... errado? 

Nossos olhos se encontraram e vi suas pupilas se dilatando.

Desviei o olhar e vi Ana nos encarando. Ela analisava nós dois e era possível ver seus neurônios trabalhando freneticamente.

Antônio se levantou e foi em direção ao bar. 

-Eu vi - Ana falou.

Olhei para ela fingindo que não sabia do que se tratava. 

-Não se faça de boba - ela sorriu maliciosamente. 

Dei de ombros e virei o restante do álcool que restava em meu copo.

-Você esta caidinha pelo meu irmão - ela riu. 

-Não seja ridícula - eu falei, apenas.

-Investe amiga, ele é um bom rapaz - ela falou.

O que Ana não sabia é que aquele rapaz amava outra mulher. Os sentimentos que ele tinha por aquela dama misteriosa era grandes demais para eu poder arriscar. Nunca vivi um caso, sempre fui muito intensa, então não tínhamos algum tipo de futuro.

-Não temos chance alguma de começarmos algo, amiga - falei sinceramente. 

Ela me olhou de forma acusativa. 

-Você sempre foi direta, é só chegar nele que tenho certeza que ele cairá de amores por você - ela falou.

Pela primeira vez em minha vida eu não queria ser direta. Eu estava com medo.



O Irritante do Quinto AndarWhere stories live. Discover now