Capítulo 3 - Meu docinho

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Assim como eu imaginei, Larissa estava ansiosa com a minha chegada e com o sorriso aberto de orelha a orelha como se tivesse ganhado um grande sorteio.

O prêmio eu sabia qual era: uma noite de prazer com o meu ex. 

Depois de Ana fazer uma palestra de como eu deveria mostrar superioridade, entrei sorrindo pela porta, como se eu também tivesse muito feliz com algum acontecido das ultimas horas. Mentalmente enumerei todos os acontecimentos das ultimas 24 horas, mas não consegui pensar em nenhum que me fizesse sorrir. 

-Oh, pobre menina - disse Larissa em um tom fingido de preocupação. - Seu marido me ligou ontem perguntando por você - ela se agarrou ao meu braço como se isso demonstrasse que fossemos grandes amigas. - Onde você estava? Fiquei tão preocupada. 

Seus olhos brilhavam de uma forma repugnante. 

Deus sabe o quanto que eu estava me segurando para não colar os cinco dedos da minha mão na cara daquela mulher, mas respirei fundo e apliquei a tática de Ana: fingir demência. 

-No cabaré - respondi sua pergunta em um falso tom de brincadeira. 

Ela me olhou curiosa. Mas deu para ver que a resposta a ofendeu. 

Larissa ainda não era acostumada com as minhas respostas, mas fingia muito bem que não se importava com esse meu jeito. Em alguns momentos eu até acreditei. 

-Mas não fica assim, logo ele vai te ligar - ela disse, aparentemente me consolando. 

-Mas eu não quero que ele ligue - eu disse, com sinceridade. 

Enquanto vivi naquela casa estava sufocada, sem ter como pedir socorro ou me desprender daquela situação. Agora que me via livre, não tinha desejo algum em voltar a levar aquela vida.

-Você fala assim, mas sei que esta ansiosa para que ele te ligue - ela disse risonha. 

Oh, que vontade de socar aqueles dentes brancos. 

-Na verdade não, fico até feliz que eu tenha saído daquela casa - falei novamente. 

Eu já estava na frente da minha sala, mas Larissa não havia soltado meu braço e entrava junto comigo para dentro do escritório.

-Ah, mas onde você passou a noite? - ela não escondia o descaramento. 

Olhei a insistente mulher que demonstrava que não iria sair dali enquanto não obtivesse respostas mais detalhadas. 

-Voltei para o meu antigo apartamento - falei apenas. 

Ela pareceu frustrada com as poucas informações, até por fim perceber que não receberia mais nenhum detalhe além daquele. Mas mesmo assim não foi embora, e ficou todo o expediente da manhã sentada no sofá da minha sala enquanto eu tentava me concentrar em organizar as planilhas orçamentárias. 

Ela falava sem parar sobre como conseguiu uma indicação em uma outra empresa e que amanhã já estaria pedindo as contas. 

Larissa me contava tudo como se quisesse jogar na minha cara suas conquista e eu apenas a parabenizava. 

Não sei quanto tempo ela ficou falando sobre o novo chefe e como todos diziam que ele era bonito, só sei que revirei os olhos com as futilidades e parei de ouvir as informações que ela me passava.

A horas se estenderam e eu já não aguentava mais ouvi-la falar. 

-Oh, já está no nosso horário de almoço - ela disse de repente. - Vou pegar minha bolsa. 

Suspirei aliviada. 

Nunca pensei que fosse pegar tanto ranço de uma única pessoa, mas ela conseguia me testar além dos meus limites.

Meu telefone vibrou e peguei para olhar a mensagem de um número desconhecido. 

11:55// Estou aqui na frente.

Abri o perfil e vi uma foto de Antônio no espelho, ele estava de short de praia e com o peitoral de fora, exibindo seu corpo escultural de forma descarada.

Outro bip.

11:56// Estou sem paciência.

Bufei, ignorando suas mensagens. 

Se ele não queria me esperar, então por que veio me buscar? Garoto irritante. 

-Vamos - Larissa disse, aparecendo no batente da porta.

Ótimo. 

Peguei minha bolsa e sai ao seu lado. 

O que eu não esperava era que Antônio estivesse sentado na recepção do escritório, com várias secretárias suspirando enquanto eram friamente ignoradas.

Ao me ver ele abriu um sorriso lindo. Estranho. Ele veio em minha direção como se aquilo fosse o momento mais feliz da vida dele. Mais estranho ainda. Ele me ergueu em um abraço apertado. Ali já era demais, alguma coisa estava errada. 

-Oh meu amor, estava com saudades - ele disse apertando minha bochecha. 

Eu o encarava sem reação, mas antes que eu soltasse um "Mas que porra é essa?", ele me puxou para outro abraço e sussurrou no meu ouvido. 

-Ideia da Ana, só entra no personagem. 

A frase já tinha começado errado com a parte do "Ideia da Ana". Quem raios seguia alguma ideia que aquela maluca falava? 

-Vim te buscar, vamos para casa? - ele disse carinhosamente. 

A vontade de vomitar era grande. Não estava acostumada com essa versão pegajosa de Antônio e isso me causava náuseas. 

-Casa? - Larissa perguntou, de repente, ao meu lado.

Já havia até esquecido da presença daquela naja.

-Achei que tivesse voltado para o seu antigo apartamento - ela alfinetou. 

Antônio olhou a mulher de cima a baixo, como se identificasse a maldade que emanava dela. Pela sua expressão, Ana já devia ter lhe contato alguma coisa.

-Você deve ser Larissa, correto? - ele disse. 

Ela estendeu a mão, animada pelo o reconhecimento, mas foi completamente ignorada pelo rapaz que tentava impressionar. 

-Vamos meu docinho, temos uma caprichosa lasanha esperando por nós no forno - ele disse.

Larissa recolheu a mão sem graça e me olhou de uma forma que eu não havia visto antes. Ela me condenava até a alma como se eu fosse uma bruxa que devesse ser queimada em praça publica. Não era difícil imaginar as atrocidades que passavam pela cabeça dela naquele momento. 

Respirei fundo, como que a amante do meu marido ousava me julgar? Era um descaramento enorme da parte dela. 

-Agora entendo porque abandonou seu marido - ela disse, agora sem aquele tom de voz amigável que sempre usava. - Você não passa de uma traidora - ela falou em um tom de indignação. - Eu esperava mais de você.

Eu ri, uma risada brutal e cheia de melancolia. 

-Pensa pelo lado bom, agora que abandonei meu EX marido, - dei uma ênfase no ex - você pode dormir com ele lá na casa dele, ao invés de pedir para ele visitar seu apartamento a noite. 

Eu juro (mentira) que tentei segurar a minha língua. Mas fiquei contente com a expressão de surpresa na cara de Larissa. 

-Do que.. - ela começou. 

Ergui minha mão e indiquei que não falasse nada. 

-Não precisa tentar desmentir, tenho vários prints no meu celular - eu disse séria. 

Todos os funcionários encaravam Larissa com o mesmo olhar que ela tinha me direcionado quando Antônio falou comigo. 

-Eu vou indo - falei para ela. Lancei minha melhor voz fingida para dizer: - Até amanhã, amiguinha. 



O Irritante do Quinto AndarOù les histoires vivent. Découvrez maintenant