⇝ CAPÍTULO 08: Aval

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   Meltar observava fixamente com seus olhos uma caixa de vidro que estava acima de uma das mesas do cômodo de vestes da realeza

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   Meltar observava fixamente com seus olhos uma caixa de vidro que estava acima de uma das mesas do cômodo de vestes da realeza. Havia cabides por toda a parte, armários gigantescos guarda-roupas empoeirados, inclusive.

Sozinho, ele encarava uma curiosa roupa que estava na parte interna do objeto. Era um manto grosso, robusto e de cor azul. Uma tonalidade forte, mas não se via mais detalhes devido posição e ângulo que se analisava.

A porta foi tocada lentamente, e seus olhos se direcionaram imediatamente.

— Entre, está aberta.

— Disseram-me que estava aqui. – comentou Eskkad, ao prestar reverência. — Também me foi dito que vossa majestade exigiu minha presença. O que houve? Algo sobre Luna?

Enquanto permanecia agachado em reverência ao Rei, Meltar retomou a sua posição anterior. De costas, com a cabeça posicionada contra a vestimenta.

— Tenho boas novas. – ele disse, sem sequer virar. — Mas não se trata de sua esposa.

— Entendo. Mas diga, então.

— Terra e Ar já solicitaram um soldado cada para o cargo de emissário ou mensageiro, como queira. O Fogo permitiu a entrada de um membro para cada Reino.

— Isso é realmente bom. Algum detalhe a mais sobre o Torneio desse ano?

— Não, nada de especial. Entretanto, a carta enviada por eles me parece bem positivista. Otimista até demais, eu diria. Eles querem entregar um espetáculo para o público.

— Também julgo como interessante! Posso vê-la? – perguntou ao erguer sua cabeça.

— Leia. – Meltar entregou uma amassada carta para o amigo, que se pôs a ler.

"Agradecemos a preocupação e aceitamos a presença de um membro solicitado de cada Reino para realizar a função de emissário ou mensageiro durante os dias de preparação do saudoso Torneio de Yngvarr. Compreendemos, também, o receio de alguns perante nossa nova liderança e o período em que vivemos, mas deixo claro nosso total interesse em compartilhar com todos vocês um enorme espetáculo, em nome da maior figura que já pisou neste mundo. Contamos com a presença destes três camaradas, e dias depois, de todos os envolvidos em nosso grande show. Zardan, Rei em Exercício do Fogo. Governante máximo."

— Bom, muito bom. É bem para cima. Alegre, sabe? Me parece empenhado a colocar um sorriso no rosto dos espectadores.

— Você acha?

— Não acharia por qual motivo?

— Esse tom, ora! Meu instinto não me deixa aprovar isso... Vejo motivos para não ficar tão empolgado assim.

— Não compreendo, meu bom Rei. Ele sabe que há um ponto de interrogação na cabeça de praticamente todos os reinos em relação a um homem que praticamente deu um golpe e assumiu um reino a força.

— Não é isso... Ele ocultou seu sobrenome. Em noventa e nove por cento dos casos, nós, autoridades máximas, temos a honra também de mencionar o nome de nosso pai e de nossa mãe em papeladas oficiais. Ainda mais para um outro Rei. É uma questão muito delicada. E outra, Eskkad. – continuou com um tom severo, mas agora virou seu rosto para o amigo. — Se auto intitulou Rei em Exercício, e logo depois Governante Máximo. Não me desce.

— Ele está começando nessa área. É um principiante. – disse com um sorriso no rosto.

— Tudo bem, mas e dar ênfase à um espetáculo, um show? Não me parece nada a agradável. É uma celebração à uma entidade. Digo, a entidade que iniciou todo o mundo. Que deu origem à Valerian como conhecemos. Cada palmo, cada chão de terra... É um evento digníssimo, de princípios. Que honra a dignidade do homem e dos quatro reinos com louvor. Ele me parece chulo! Eu não quero ir até lá e ver um teatro.

— Você esquenta muito a sua cabeça, homem! Desde quando éramos jovens. – comentou ao se levantar de vez, com as bochechas se movimentando e os lábios se abrindo em um sorriso ao se recordar dos velhos tempos. — Está mais preocupado que eu, que retornarei àquele lugar após tantos anos... E sozinho, para um trabalho que sequer sei se farei com êxito. Além de que, estarei com a cabeça a mil. Pensando a cada instante em meu filho que estará aqui sozinho e claro, em que local minha esposa estará. Eu acho que você deve relaxar um pouco. Fique tranquilo, eu estarei lá. Relatarei tudo a você a Água.

– Bem... Talvez você tenha um pouco de razão. Mas eu sou um Rei, devo me preocupar com essas coisas. Enfim! – o grande consumidor de álcool caminhou para o lado, em direção a um armário e o abriu, conferindo algumas vestes reais. — Antes que eu me esqueça. O que vai acontecer com seu filho? Você não me explicou.

— Contarei a ele. Mas não se preocupe. Virgo continuará com seus olhos acima dele. Agora me diga, homem! Quem foram os benditos escolhidos dos outros Reinos?

— Quase me esqueço de citá-los. Não os conheço, claro, mas aqui estão os nomes. – responde ao sacar de um bolso traseiro um pergaminho extremamente dobrado e de pequeno tamanho. — Kuné Khumalo. Esse é o convocado pela Terra. Take Kai, pelo Ar. Você vai identificá-los rápido.

— Certo. Quando devo viajar?

— Em alguns dias.

— Tudo bem. Me preparei até lá.

Meltar sacou um casaco de pele e o analisou por completo, e Eskkad reparou na caixa que estava frente ao Rei minutos atrás.

— Não tirou os olhos daqui. Motivo?

— Não sei responder. Talvez apenas sejam pensamentos de um Rei...

— Ah... Eu não havia percebido. É a manta dos Reis da Água. Eskkad já de pé, passava seus olhos azulados na caixa de vidro.

— Exato...

— E você nunca vestiu?

— Não tenho muita vontade. Tenho medo de colocá-la e as pessoas compararem-me àquele imbecil assassino.

— Rúbeo? Mas isso já tem anos. Esqueça-o.

— Ele foi um Rei errado! Ele realizou atos baixíssimos. Todas as suas atitudes eram irresponsáveis. Ele desgraçou tudo por aqui. Seu nome sequer merece ser citado e lembrado.

— Tivemos ótimos líderes. Não se preocupe com esse nome. Anastor, Novák, Karabec, Roman... E em breve, Meltar Silao! Já consigo imaginá-lo sendo tratado como um grande herói.

O Rei deu uma breve gargalhada, agora, logicamente, mas feliz e sorridente com a situação.

— Que Yngvarr me ajude nesta caminhada!

— É esse o ânimo que eu quero ver por aqui! O povo da Água merece grandes momentos!

— Menos, Eskkad. Menos, ora! – seu sorriso havia ficado tímido. — São Reis graciosos e Reis miseráveis, sejamos sinceros, também.

— Eu sei, você está coberto de razão neste ponto. Aliás, como Rúbeo faleceu?

— Não me recordo bem. Ele era muito próximo das Grandes Famílias à época, e os chefões disseram que a morte foi por causas naturais. Uma década após aquela lamentável Guerra. Sequer era Rei no momento.

— Acho que ele deixou poucos fãs por aí. – disse debochando. — Meu querido Rei! Eu preciso ir, o garoto já deve estar em casa. Preciso estar lá quando ele chegar.

Quando se dirigia à saída, o Rei ainda lhe fez um pedido.

— Não faça besteiras quando estiver no Fogo! Lembre-se disso.

Eskkad acenou positivamente com a cabeça e partiu.

Crônicas Elementais: Oliver e o Rei Louco (short version)Where stories live. Discover now