⇝ CAPÍTULO 02: Rixa

19 5 34
                                    

   No dia seguinte, Oliver mal conseguia rir

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

   No dia seguinte, Oliver mal conseguia rir. Ele estava mais chateado que o que de costume, e obviamente pouco trocou palavras com seu pai. Sequer contou que agora fazia parte de um time na Academia, e Eskkad não o indagou ou puxou conversa, deu tempo ao tempo, acreditando que o silêncio nesse caso faria bem, e que poderia ajudar seu próprio filho não se metendo em sua vida, já que a maior tragédia até o momento havia caído em seu colo.

   Após uma refeição com pratos de ovos e mingau de aveia, Oliver não rumou para a Academia, como era o esperado. Continuou vagando pelo Reino, até que parou em uma praça que ficava bem distante do local de destino dos alunos. A Praça da Seda, que ficava entre a Rua do Gancho e a Viela Velha. Passou pelo menos duas ou três horas sentado em um banco de madeira, cercado por humildes plantações, onde também passavam muitos trabalhadores e pescadores. 

   Olhando o dançar das nuvens e deixando que o tempo passasse, Oliver praticamente repousou ao matar a aula, e refrescou sua cabeça, ainda que da forma errônea e contrariando muitas pessoas a sua volta.

   Ele, imaginando o tempo de aula ter tido seu término, recorreu ao local onde treinava com Virgo em outrora.

   Assim, se ausentando da aula de Ataque e Defesa, a preferida dos alunos, ainda mais naquele dia, pois houve maior entretenimento.

   Virgo levou os alunos até o pátio central, onde havia estendido placas de madeira nas grandes pilastras, e ao centro das mesmas, um grande círculo vermelho, formando um alvo.

   Ordenou que fosse feito uma única fila, e todos, um por um, realizava uma espécie de "água ao alvo" com o bastão, conduzindo o elemento pelo reservatório que ali se fazia presente.

   Foi, sem dúvidas, uma das mais divertidas aulas até então. Uma pena para quem faltou. Muitos se saíram bem, como Hazael, Megumi, Karla, Ravena e Aveiro. Outros, ficaram no meio termo, como Nevyl.

   Mya, se saiu bem, mas não na primeira prateleira, sejamos sinceros. Seu controle era razoável, o domínio estável, mas a mira infelizmente não foi das melhores, o que era surpreendente, já que sua família detém uma tremenda habilidade com as mãos e possuem grande visão.

   É claro que o aspecto mental também a atrapalhou, já que foi a única que se preocupou e notou a ausência curiosa de Oliver durante a aula. Recorrendo a Virgo, o professor a tranquilizou, e confirmou que ele próprio resolveria a situação.

   Oliver, entretanto, não estava sequer por perto. 

   Fora do Reino, próximo ao local onde o mesmo treinava com Virgo e seu próprio pai. Estava acompanhado por uma figura nada desconhecida. Salazar, que havia notado sua falta, escapou da Academia, e o vendo caminhar pela Praça da Seda, o seguiu cautelosamente.

   Primeiramente, ambos conversaram a respeito de poder, o que claramente era o maior objetivo de Oliver. Era desconfortável saber que era o único a não conseguir manejar a Água, seja para atacar ou defender. Se considerava um zero a esquerda perante outros alunos, mesmo tendo realizado tamanha missão gloriosa tempos atrás.

   A dupla trocava golpes ríspidos, e as roupas cinzas do inspetor já estavam manchadas de terra, enquanto o aluno coberto por algumas folhas. A roupa da Academia não estava nada limpa.

   Analisando o aspecto físico, aparência das vestes e expressões faciais de ambos, era claro que já estavam ali a um longo tempo.

   — Está cansado, não está? De tantas pessoas idiotas ao seu redor, dizendo o que fazer e o que não fazer.

   — Um pouco. - respondeu Oliver, enquanto se desviava de um jato de água oriundo da palma esquerda da mão de Salazar.

   — Ainda mais quando se trata de pessoas que falham com você. - engatou, saltando para frente e movimentando o punho. Oliver segurou, e ambos pularam para trás.

Tem um físico privilegiado, embora não pareça, pensou o profissional

   — Eu posso lhe ensinar muitas coisas. Posso torná-lo mais forte do que imagina. Você pode ser o melhor.

   Salazar esbajava agilidade, passando a perna por baixo, dando-lhe uma rasteira, mas não permitiu que Oliver fosse ao chão, o segurando firmemente pela gola do colete acadêmico.

   — Seria um grande pupilo. - disse ao olhá-lo nos olhos. — Um aprendiz e tanto.

   Um vento frio soprou no fim daquela manhã, e Virgo se aproximou por entre as árvores. Espaçadas, o amigo de Eskadd se sobressaia com as roupas negras e longas. Ele encarou a dupla por um instante, até dar alguns passos a frente entre os troncos.

   — A brincadeira está encerrada.

   Salazar girou o pescoço lentamente, enquanto segurava Oliver e secava Virgo com um olhar desprezível.

   — Nossa aula particular acabou. - disse em tom provocativo, soltando o garoto.

   O inspetor colocou sua boina na cabeça, apalpou as vestes cinzas, limpando-a, e passou ao lado de Virgo, sem sequer dirigir seu olhar ao companheiro profissional. É claro que Virgo também foi irredutível, e sequer deu atenção ao sarcasmo desprezível de Salazar.

— Por que não me deixa cuidar da minha própria vida?

— Será que pode?

— Não preciso da Academia para me tornar forte.

— Não percebe tamanha idiotice que fala? Um pobre coitado que mal consegue fazer com que a água de um copo se mova.

    Em um lapso, um momento de raiva, Oliver arremessou uma faca curta de seu bolso em Virgo, mas o mesmo desviou em segundos, deixando que a faca cravasse em uma das árvores.

   O professor suspirou, fechou os olhos por um momento.

   — Será penalizado pela Academia e Reino. - em tom sério, o professor reabriu os olhos, olhando diretamente para Oliver. — Aliás, não só você, claro. Hazael e Mya também sofrerão a devida punição por fazerem parte do mesmo time que você. Repense suas atitudes mesquinhas.

   Virgo deu as costas lentamente, e retornou solitariamente para o Reino. Sequer olhou para trás, nem para conferir se Oliver estava vindo ou não.

   Naquele dia, Salazar não mais foi visto, e o professor ainda pôde se encontrar com Meltar em um beco escuro, ao fim da tarde.

   — Vossa Majestade. – reverenciou enquanto desviava o olhar. — O garoto não tem o foco necessário que o Reino precisa.

   — Está passando por momentos ruins. – disse cautelosamente. — Essas coisas acontecem, devemos respeitar a situação. Continue vigiando.

   — Sim, vossa majestade. – respondeu, ainda agachado. — Mas acredito que Salazar não seja uma boa companhia.

    — Ele tem benefícios e certa autoridade por essas bandas... Bem, você sabe o que eu quero dizer. E infelizmente Godric confia plenamente nele, não posso me envolver nessa área.

   Virgo se ergueu, acenou com a cabeça e desapareceu.

Crônicas Elementais: Oliver e o Rei Louco (short version)Where stories live. Discover now