8 - Sob o céu escuro

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"Homens." Andrea revirou os olhos. "Parece que o cérebro deles parou de evoluir em algum momento da evolução da espécie. No mínimo, ele devia ter apoiado você e incentivado a reportar."

"E eu fiz isso. Reportei no RH e eles disseram que não poderiam fazer nada, a menos que algo concreto acontecesse. Depois disso as coisas só pioraram, ele chegou até mesmo a insinuar ter ciúmes do Paul, me olhava estranho enquanto eu falava com outras pessoas, dizia sentir minha falta quando eu passava muito tempo em algum departamento, e o estopim foi quando eu me aproximei da mesa dele para mostrar uma paleta e ele comentou que eu estava muito cheirosa. Eu o olhei com todo o meu desprezo e disse que estava lá para fazer o meu trabalho, que se ele fizesse o mesmo, talvez não teríamos tantos problemas na revista. Também deixei claro que não estava interessada em ouvir cantadas idiotas. Retirei-me da sala e fui para o banheiro, sufocando a vontade de chorar. Eu me senti tão sozinha, tão impotente. Eu precisava fazer algo, não sou o tipo de mulher que não se defende, mas eu estava tão sufocada… Falei novamente com Paul, ele disse que era normal atrair os homens, já que eu sou muito bonita e me visto de forma atraente."

"Cara, que idiota! Você continuou com esse babaca escroto?"

"Não por muito tempo. Louis não se intimidou com meu desprezo, continuava olhando para mim, olhando minhas pernas por baixo da mesa, como se eu fosse uma presa e ele um predador. Eu reportei mais uma vez, dessa vez falei com o supervisor que eu iria fazer uma denúncia, ele pediu que eu não fizesse, que não contasse para ninguém pois ele resolveria isso. Eu sabia que ele não faria nada, todos naquele prédio eram amigos, jogavam golfe juntos e aposto que conversavam sobre as funcionárias da maneira mais repugnante possível. Naquele mesmo dia solicitei uma transferência para outro departamento, e quando eu estava indo para casa, entrei no elevador e ele estava lá. Eu queria não ter entrado naquele elevador, queria ter seguido minha intuição quando vi aquele sorriso nojento dele."

Miranda parou e respirou fundo, fechando os olhos. Andrea assistiu uma lágrima escorrer lentamente na pele alva, fazendo seu percurso até o maxilar e pingando no decote de Miranda. O nariz dela, a área dos olhos e as bochechas ficaram imediatamente rubras, Andrea acharia fofo se não houvesse tanta dor naqueles olhos que se abriram tão tristes.

Naquele momento, ela estava se despindo para Andrea, como raramente fazia. E a jovem não tinha ideia do quanto aquilo significava, de como era jogar no chão o peso das armaduras que Miranda carregava.

"Você quer parar?" Ela ergueu suas mãos unidas e deixou um beijo nas costas da mão de Miranda.

"Ele usou uma chave e… parou o elevador…" ela engasgou e olhou para frente, buscando forças, tentando engolir o nó que passava dolorosamente por sua garganta. "Eu exigi que ele me deixasse sair, usei todo meu controle, toda a minha força para mostrar que não tinha medo dele. Ele disse que só queria conversar, perguntou se poderia me confidenciar uma coisa sem que eu ficasse brava. Eu neguei, mas ainda assim ele disse que eu o estava enlouquecendo, que não conseguia mais ficar perto de mim, que meu cheiro o acendia e não conseguiria mais se conter. Eu confesso que tive medo quando ele se aproximou demais, mas mantive meu queixo erguido, não abaixaria a cabeça para ele, não faço isso para homem nenhum. Ordenei que se afastasse, e o olhar dele… um olhar tão violento… ele me fez uma proposta, eu sairia para jantar com ele e ele assinaria minha transferência para o departamento de arte imediatamente... Aprenda uma coisa, quando um homem te oferece algo em troca de um jantar, nunca é só um jantar… Eu neguei, ele apenas disse que eu deveria pensar melhor e liberou o elevador em seguida. Eu saí rapidamente de lá, queria chorar mas não chorei, queria chegar em casa e contar para alguém de confiança mas eu não tinha essa pessoa. Minha amiga havia se mudado e meu namorado era um idiota. Tudo que eu fiz quando cheguei em casa foi sentar embaixo do chuveiro, articulando minhas próximas atitudes. A melhor forma de defesa para mim, é sempre o ataque e eu faria isso, eu iria até o fim para fazer aquele nojento pagar por cada lágrima, cada angústia, cada desconforto causado em qualquer pessoa."

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora