Capítulo Trinta e Dois

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Sebastian

Termino de me arrumar quando a porta do quarto se abre e vejo Charlotte, juntamente com a mãe de Kate. Elas vieram para que o terno pudesse ser ajustado. Assim que a mãe de Kate termina, sai, me deixando a sós com Charlotte.

— Filho — Charlotte me chama.

— Fala, mãe — digo, sorrindo.

— Eu gostaria de lhe pedir uma coisa, se não puder, tudo bem — Charlotte fala, nervosa.

São raras as vezes em que a vejo nervosa dessa maneira, o que me deixa um tanto intrigado.

— Eu queria que você entrasse comigo na cerimônia mais tarde — Charlotte fala e eu sorrio.

Não sei como reagir a esse pedido, mas não vou negar isso a Charlotte, principalmente quando ela foi a única que me apoiou quando decidi ir morar fora do país. Eu tomei essa decisão logo depois de Kate dizer que não queria mais me ver. Eu vi a aliança em seu dedo e quando ela confirmou que estava namorando, percebi que a vida dela seguiu e não tenho o direito de julgá-la. Eu não consigo mais viver aqui, principalmente sem a Kate.

— Claro, será um prazer — respondo, honrado pelo convite.

— Sinto tanto orgulho da pessoa que você se tornou. Seu pai sente tanto orgulho de você e tenho certeza de que sua mãe e sua irmã também estão orgulhosas.

Ela se despede e sai. O dia é uma correria total e estou tão nervoso quanto a própria noiva. A decoração esta incrível e não vejo a hora de parar e descansar.

Vou viajar na segunda pela manhã, ainda tenho que arrumar as malas e mais um monte de coisas.

A cerimônia começa. Eu já havia visto Kate por aí com o seu namorado novo e acho que entendo quando ela diz que ele traz segurança a ela, ele é o típico bom moço: estuda, trabalha e, acima de tudo, a ama.

Não consigo desgrudar os olhos dela, ela está linda nesse vestido que destaca a cor de seus olhos. Tenho certeza de que estou tomando a melhor atitude indo embora, ela merece uma chance de ser feliz.

Ela dança com ele durante a festa e me faz ter certeza da minha decisão. Eu não teria tido coragem de chamá-la para dançar se não fosse a insistência de meu pai. Ele me diz que todos merecem uma despedida.

É por isso que a convido para dançar.

Não imaginei que fosse tocar essa música, apenas fui. Sentir o seu corpo contra o meu, seu perfume, me faz querer tomá-la nesse momento. Quando digo que ainda a amo, sinto que a balanço, mas não posso fazer nada se ela não me quer.

A festa dura a madrugada inteira, os convidados se divertem. Estou absorto no chafariz, enquanto os outros estão na área da festa.

Não demora para que eu escute passos e me viro para ver quem se aproxima. Liccya, Lorenzo e Lucy vêm ao meu encontro.

— Você tem certeza de que quer ir mesmo? É uma decisão radical, Sebastian — Lorenzo diz. Disso não tenho dúvida, eu nunca tomei uma atitude tão drástica em minha vida como estou tomando agora.

Liccya fala e joga uma bola de papel em minha direção, sorrindo.

— Ele é egoísta, não pensa nos amigos — Lucy reclama.

— Isso não é verdade. Eu pensei muito e continuo pensando, mas agora estou pensando em mim — respondo em um sussurro.

— Sabemos, Sebastian, e já decidiu para onde você vai? — Lorenzo pergunta.

— Canadá. Partirei amanhã e, inclusive, preciso terminar de arrumar as malas — falo, querendo encerrar o assunto.

Um silêncio cai entre nós e ninguém fala nada por um tempo. Lucy me encara e sei que ela vai perguntar alguma coisa.

— Eu vi você e Kate dançando, pareceram completos e que tinham se ajustado. O que você disse a ela que a deixou tão desnorteada? Porque foi assim que ela saiu. Todos viram — Lucy fala, curiosa.

— Me despedi dela, simples assim — falo, dando de ombros. — Vamos voltar para a festa — digo e voltamos para a festa.

Os meninos decidem passar a noite comigo assim que a festa é encerrada, querem aproveitar o pouco tempo que temos antes da minha viagem. Ficamos acordados a madrugada inteira. Essa é uma das minhas últimas noites aqui. Não tenho previsão de quando retornarei para casa. Só sei que tenho que partir.

*

O domingo passa depressa e, ao contrário das outras vezes, ficamos vendo filmes até a noite, que é quando faço minha mala.

— Cadê Lucy? — pergunto quando chego à cozinha para tomar café. Pego o celular, disco sem parar, mas só dá caixa postal.

— Ela não atende — Lorenzo fala, todos estão tentando e ninguém consegue falar com ela.

Decidimos terminar o jantar tranquilamente, amanhã, pouco antes do meio-dia, meu voo sairá. Penso se Lucy estará aqui para me despedir dela. Aonde essa garota foi sem avisar? Espero que pelo menos ela tenha uma boa desculpa para sumir dessa maneira.

Porra! Eu não quero ir embora sem me despedir dela!

Verifico mais uma vez a minha mala, está tudo certo, desço até o escritório e encontro meu pai afundado nos papéis, como de costume.

— Pai? — chamo por ele, que desvia sua atenção do papel, retira os óculos e me encara, esperando eu falar.

— O que foi, Sebastian? — pergunta.

— Quero agradecer por tudo. Sei que muitas vezes não fui o filho que você gostaria e quero te pedir desculpas por isso — falo sincero.

Em seus olhos há um brilho diferente, eu sei que ele não esperava as palavras que acabo de pronunciar.

— Sebastian, naquele dia em que sua mãe e sua irmã morreram, eu também havia te perdido e não sabia como te encontrar novamente. — Os olhos dele ficam marejados. — Eu agradeço por ter você de volta. — Ele se levanta e me envolve em um abraço apertado. Eu, finalmente, consigo retribuir a demonstração de afeto, que nunca deixou de existir entre nós, e o abraço com força. Um abraço que foi postergado por tempo demais. — Agora vai deitar, que amanhã teremos um longo dia pela frente — ele fala, ainda emocionado.

*

Acordamos cedo na manhã seguinte e Liccya e Lorenzo decidem nos acompanhar até o aeroporto, Lucy não aparece e nem dá sinal de vida, eu queria tanto poder me despedir dela. Chegamos com duas horas de antecedência, sabe como são velhos, adoram chegar na hora.

— Pai, tinha que chegar tão cedo? — reclamo.

— Vai que acontece alguma coisa — fala e pisca para mim.

Sento no banco com os meninos. Enquanto cada um comenta seus planos para o resto da metade do ano, decido apenas observar conforme as horas passam e, pouco a pouco, vai chegando a hora do embarque.

SebastianWhere stories live. Discover now