Capítulo 11 | A música nos une?

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- Camila, tenha consciência de que isso não pode voltar acontecer - após o ocorrido com a Joice, eu contei tudo o que aconteceu para o pastor assim que o mesmo voltou - Você ainda é uma candidata a obreira entendeu?
- Sim senhor - assenti
- Bom, você estava sozinha também - ele sorriu - Só não se empolgue, tudo está esclarecido e agora eu sei que você e Ícaro não fizeram nada mas isso não diminuí o fato de que eu ainda estou de olho em vocês dois!
- Sim senhor pastor, obrigada pela atenção - me retirei e fui me sentar para aguardar a reunião iniciar.
Tudo tinha se resolvido, foi uma semana complicada, mas ainda existia coisas boas no meio de tudo isso:
- Oi Camis - Helena chegou usando sua nova camisa do FJU e se sentou ao meu lado, depois de se batizar ela fez questão de adquirir a sua. Na sua família as coisas começaram a melhorar, sua mãe vinha algumas vezes, seu pai veio alguns domingos mas seu bom testemunho em casa passou a chamar atenção deles e além disso ela começou a buscar o bem maior, o Espírito Santo e eu fazia questão de ajudá-la.
- Você ficou bem de FJU, está mais bonita - elogiei conseguindo um sorriso seu.
"Não há nada que glorifique mais a Deus do que o ganho de uma alma"

Um mês depois...

Era sexta-feira e faltava algumas horas para iniciar a vigília, e para melhorar e aumentar o nervosismo também, a nossa banda vai tocar a pedido do nosso pastor mas existia um grande problema:
- Vamos ter que ensaiar sem o violão base, a Jéssica está presa no trânsito - Pedro comentou.
- Tudo bem, ela sabe o reportório - falei terminando de arrumar tudo que precisava, ao fundo da igreja observei o pastor se aproximar junto de Ícaro.
- E então tudo certo pra hoje? - o pastor perguntou assim que estava próximo
- Sim senhor - respondemos.
- Vocês não tem tecladista? - perguntou ao notar a ausência do teclado.
- Não exatament- antes de responder, Ícaro que tinha se sentado na primeira fileira, levantou.
- Pastor, eu posso tocar - sorri.
- E eu nem sabia que você tocava, rapaz - o pastor o encarou - Por que não disse antes? Estamos sem tecladista a pouco mais de um ano.
- Eu estava um pouco enferrujado - comentou sorrindo - Mas agora estou de volta - me encarou e eu assenti discretamente. O pastor nos deixou e iniciamos o ensaio.
- E então, tecladista - me aproximei de Ícaro que já ligava o teclado - Eu disse que você iria tocar com a gente mas você jurou que não né?
- Eu vou me arrepender de ter dito sim - indagou dramático - Mas de verdade, obrigada por ter insistido em mim.
- Por favor, não chora aqui na frente de todo mundo - rimos - Não é nada, se não fosse pra isso nada disso teria sentido - Iniciamos o ensaio e Jéssica acabou chegando a tempo.
Mais tarde durante a vigília tudo deu certo, eu via o sorriso de Agnes da primeira fileira, mais atrás estava a dona Cíntia e seu marido olhando Ícaro concentrado no que fazia, com certeza orgulhosos por vê-lo daquela forma. Existia algo que o Espírito Santo estava me incomodando mas eu ainda não sabia o que era, mas sempre que falava com Ícaro isso aumentava, mas eu ignorei.

Dia seguinte...

Mesmo cansados da vigília, com direito a agito, ainda tinha o Encontro Jovem para tocarmos e naquele sábado cheguei mais cedo que o habitual, e até mais cedo que os demais. Como ainda estava cedo decidi ir até a central e verificar os instrumentos e talvez afinar se fosse necessário.
- Que susto! Não sabia que você estava aqui - exclamei assim que abri a porta que estava encostada e encontrei Ícaro sentado em frente ao teclado.
- Chegou cedo - indagou sério.
- Sim - o notei usando uma camisa do Cultura que ficava muito bem nele, eu não admitiria isso em voz alta - Não conhecia esse Ícaro cultural.
- Resolvi tirá-la do fundo da gaveta - comentou tocando algumas notas soltas do teclado.
- Que pecado - me sentei no chão e afinei algumas notas um pouco frouxas do violão - É a mais bonita de todas.
- Uma das, você quis dizer - ele começou a tocar algumas notas que pareciam familiar - Conhece?
- Humm - prestei bem atenção e a reconheci - Você não tem cara de que escuta Morada - ele riu.
- Só me acompanha - indagou e eu comecei a tocar como base.
- Ele abriu mão de sua glória, sangrou no madeiro por mim me conectou, salvou e curou - cantou de forma suave  - [...] pôs um anel em meu dedo me tirou o medo, novas sandálias pra suportar ide - eu admirava a forma com que Ícaro deixava as músicas autênticas em sua voz e na forma que tocava, existia maestria.
- [...] E eu me despedi dos meus pais, eu queimei minhas carroças e eu afundei meus barcos no cais - comecei a acompanha-lo e harmonizar nossas vozes - Pra onde eu irei?  Se eu não tenho pra onde voltar, só tenho você Deus. Palavra de vida eterna.
Tocamos outras músicas por mais um tempo, mas Ícaro não estava alegre como antes.
- Escuta, o que aconteceu? - perguntei ao vê-lo ainda distraído e ele se virou pra me encarar.
- Camila, eu preciso te falar algumas coisas - ele engoliu um seco e limpou as mãos no jeans, como fazia quando estava nervoso.
- Camis - Jéssica apareceu na porta junto de Agnes - Você sabe onde estão os microfones reservas? Eu olhei aqui e lá em baixo e não achei e da última vez quem guardou foi você - Agnes entrou e se sentou próximo a Ícaro.
- Mas estão no mesmo lugar de sempre - negou com a cabeça - Eu vou lá ver - Me levantei e segui Jess deixando os irmãos sozinhos.

(...)

Depois de uma longa busca aos microfones que pra variar não estavam no mesmo lugar, voltei para a central mas antes de entrar algo me chamou a atenção:
- Você precisa dizer pra Camila, Ícaro - ouvi Agnes falar.
- Eu sei, venho pensando muito nisso. Ela é a única que soube lidar com meu jeito, desde o início e até agora. Eu posso dizer que isso até me assustou um pouco, ela me fez voltar a amar a música. - Eu encostei na porta e novamente tive aquele frio na barriga, eu não estava acreditando - Agnes, eu não me sentia digno de usar essa camisa. Ele ainda é focada no que quer, se importa e obedece a vontade de Deus e foi diferente de qualquer outra pessoa que já conheci.
- Para de ser meloso, não é pra mim que você tem que falar essas coisas - ouvi Agnes rir - Mas você sabe que agora é um pouco tarde né?
- Vamos pegar os instrumentos? - Jéssica apareceu um pouco mais atrás de mim.
- S-sim - me atrapalhei com as respostas e a acompanhei.
Eu não poderia acreditar, Ícaro estava prestes a dizer o que sentia por mim e eu não percebi...

Um mês antes...

- É o fim da nossa rixa - Ícaro comentou enquanto estávamos limpando o salão.
- Rixa? Não temos rixa, você só é chato mesmo - ele me olhou boquiaberto, ofendido.
- Tá vendo? Nossa rixa começa aí e você não quer ver - ele sorriu e deu uma gargalhada em seguida, e de alguma forma o som da sua risada trazia uma sensação boa, e eu não iria admitir em voz alta.

(...)

- Camila eu sempre quis servir desde que me converti, mas teve um momento que eu não conseguia ver a importância e a necessidade do Espírito Santo - era o fim da evangelização e estávamos voltando para igreja caminhando - Eu ajudava o pastor nas reuniões meio que como candidato, ficava no salão, ajudava a fazer os propósitos e até dormia na igreja junto com os auxiliares mas quando eu perdi tudo isso eu enxerguei minha verdadeira condição - Ícaro me contava parte de seu testemunho, e sua mudança era tão nítida quanto suas palavras.
- É louvável hoje você poder dizer que reconheceu - comentei e sorri. Dado momento percebemos alguns olhares das pessoas na rua. - Ícaro, eu acho que as pessoas estão olhando muito para nós.
- Devem achar que somos um casal - ele disse e riu.
- Pois é - ri também
- Ainda não tive esse privilégio - disse simples.
- O que? - Eu não tinha entendido o que ele quis dizer.
- Deixa pra lá.

(...)

Tudo se encaixava, as piadas, os olhares e até nossos desentendimentos. O medo da ausência de reciprocidade havia sumido mas por que era tarde??

U n â n i m e sWhere stories live. Discover now