vinte e nove

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NATALYA

Adoraria que as coisas fossem diferentes. Que eu pudesse conhecer, me envolver romanticamente com alguém, sem medo dessa pessoa me jogar para escanteio assim que conhecesse a minha irmã.

Sempre acontecia.

Com Philippe demorou mais do que com os outros para acontecer, e por isso foi pior.

Gostava de estar com ele. Eu falei aquilo, eu disse que gostava do que tínhamos, de como estávamos indo. Ele também falou, mas mesmo assim fez como todos os outros.

Por que todos preferiam ela?

Soltei um soluço e me encolhi mais na cama, esperando que o travesseiro que eu abraçava me consolasse enquanto eu o encharcava de lágrima.

*

— Meu bem? — Ouço a voz do meu pai, depois de ter escutado algumas batidas na porta. — Está acordada?

— Sim. — Respondo.

— Sua mãe me falou que você não levantou para o café. Vim ver se está tudo bem. — Falou. — Você está bem?

Fiquei quieta. Não sabia como responder àquela pergunta.

Quer dizer, eu sabia. Passar a noite chorando como um bebê e sentindo dor de cabeça por aquilo não era estar bem.

O que eu não sabia era dividir aquilo.

— Naty? — Ele insistiu.

Eu senti vontade de chorar outra vez. Me levantei da cama e caminhei até a porta do quarto, abrindo a mesma e encontrando o meu pai, que me olhou preocupado.

— Aquele remédio, que você passava no meu joelho todas as vezes que eu caía de bicicleta enquanto tentava aprender, também serve para coração partido, papai? — Pergunto com a voz embargada.

— Não. — Respondeu. — Mas o abraço do papai, e uns socos no cara que te deixou assim, serve.

— Seria legal. — Murmuro e ele sorri, abrindo os braços para mim.

Me aproximei dele e o mesmo fechou os braços ao meu redor, me apertando e fazendo carinho em minhas costas.

*
PHILIPPE

Estalo os dedos da mão repetidamente, olhando para o teto do meu quarto enquanto pensava em como tudo havia dado errado com Natalya.

— Mãe. — Chamo, me levantando e caminhando até a sala, onde ela estava assistindo ao jornal da manhã.

— Deu formiga na sua cama, meu Philippe? — Perguntou brincando, mas mudou a expressão para confusa quando viu a minha cara de cachorro abandonado. — O que foi?

— Eu estraguei tudo com a Natalya. — Murmuro. — Mas eu não queria, eu juro.

Minha mãe pressionou os lábios e se ajeitou no sofá. Deu batidinhas no colo dela e eu me deitei, logo sentindo as mãos da mesma em minha cabeça.

[...]

— Gosto dela. — Murmuro. — Não queria que ela achasse o contrário disso. Também não queria a machucar ou fazer parecer que eu a troquei pela Nayara, porque não é verdade.

Minha mãe escutava quieta, enquanto eu explicava o que tinha rolado no dia anterior, no parque.

— A Nayara deu a entender que nós tivemos algo, mas não aconteceu nada. — Falo. — Eu estava com a Naty, não ficaria com a irmã dela!

— O que eu ainda não entendi foi o porquê de você ter dado um bolo na Natalya para sair com aquela insuportável da irmã dela. — Disse.

Suspirei e me sentei, a olhando. A mais velha me encarou com as sobrancelhas levantadas, esperando por uma explicação.

— Combinei de me encontrar com a mulher que converso pelo Twitter. — Começo. — Mas eu também combinei de sair com a Naty. Acho que eu coloquei tudo no mesmo dia, sem perceber, e como eu estava ansioso para conhecer a mulher que eu nunca havia visto o rosto, acabei me esquecendo do encontro com a Natalya.

— Tadinha. — Minha mãe murmurou. — Poxa, Philippe, ela deve ter ficado tão mal.

— Eu sei. — Sussurro. — Me odeio por ser o responsável por isso. — Resmungo.

— Eu devia te dar uns tapas. — Falou já me batendo e eu fiz careta, desviando dos tapas dela.

— Mãe, não foi por mal! — Falo. — Vamos voltar ao assunto aqui.

— Tá, vamos. — Disse, deixando outro tapa em minha cabeça e em seguida se ajeitando para me ouvir.

— A Nayara é a mulher do Twitter. — Conto.

Minha mãe franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado, me olhando.

— Não é não. — Disse.

— É, mãe. — Afirmo. — Marcamos de nos encontrar e quando eu cheguei lá era ela.

— Isso está errado. — Falou.

Suspirei e ignorei a afirmação, começando a contar como havia sido estranho o encontro.

Eu não imaginava a natcomy daquele jeito, sem contar que o papo que tivemos foi bem diferente dos que costumávamos ter pela DM. Ok que não era mais nada virtual, mas tinha algo diferente.

Nayara havia me explicado o porquê daquele user. Falou que era uma conta antiga de Natalya, uma que a irmã havia abandonado e então ela pegou, mas não mudou o user.

Começou a usar como uma forma de escape da vida real dela e dos problemas, então preferiu não colocar o verdadeiro nome.

— Philippe, essa garota não é a sua namoradinha, eu tenho certeza. — Minha mãe disse. — Eu sinto que não é ela. Deixe ela pra lá e se resolva com a Natalya.

— Queria mesmo me resolver com ela. — Murmuro, olhando para o teto da sala.

— Então o que diabos você está fazendo com esse cu no sofá ainda?! — Dona Esmeralda perguntou e eu voltei a atenção para ela. — Nada se resolve sozinho não, meu querido. Bora, bora!

Rio e deito a cabeça no colo dela outra vez.

— Philippe?!

— Só mais um pouquinho, mãe. — Peço e ela bufa, colocando a mão em minha cabeça e voltando com o carinho.

**

Twitter ━━ Philippe CoutinhoWhere stories live. Discover now