quinze

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NATALYA
dias depois

Me sento na grama e ajeito o meu vestido em minhas pernas. Pego o celular em minha bolsa e mando mensagem para P, que havia sumido.

*
natcomy
oi, p alguma coisa :(

p_algumacoisa
carinha triste?
o que foi, benzinho?

natcomy
ai.
benzinho. 🥺

p_algumacoisa
é, benzinho 🥺
o que aconteceu?

natcomy
é que você tá sumido, senti saudades
me trocou por aquela sua amiga? 😠

p_algumacoisa
KKKKKKKKKKKKKKKKK
eu não sabia que você era ciumenta, Naty

natcomy
eu não sou

p_algumacoisa
estou vendo
não troquei você, não sou nem doido

natcomy
você parece ser um pouco doidinho

p_algumacoisa
não a ponto de trocar você

natcomy
é engraçado como você fala
parece até que já nos conhecemos

p_algumacoisa
estou esperando você marcar um encontro, mas acho que vai demorar, não é?

natcomy
😶

p_algumacoisa
por que tem tanto medo de me encontrar?

*
Encaro a tela do celular, tentando pensar em uma resposta para aquilo sem ser "não me sinto suficiente o bastante para encontrar você, então estou enrolando o máximo possível".

— Oi? — Ouço e levanto a cabeça, encontrando Philippe na minha frente.

— Oi. — Digo e bloqueio a tela do celular.

— Tudo bem? — Perguntou.

Eu pisquei algumas vezes e olhei ao redor, voltando a atenção para ele em seguida.

— Sim. — Respondo. — E com você?

— Nhé. — Falou dando de ombros e apontou para o meu lado. — Posso sentar?

— Ah, pode. — Falo e tiro a minha bolsinha, deixando a mesma em meu colo.

Observo Philippe se sentar ao meu lado e me afasto um pouco, ficando um pouco nervosa pela aproximação.

— Fica muito aqui? — Perguntou olhando para o parque.

— Mais ou menos. — Murmuro. — Às vezes venho para fugir de lá de casa.

— Achei que ficava fugida na casa da minha mãe. — Riu e eu sorri.

— Na maioria das vezes. — Falo.

Ficamos em silêncio e eu brinquei com a barra do meu vestido, torcendo para que ele falasse alguma coisa.

— Desculpa por ter sido um amigo idiota quando éramos pequenos. — Disse e eu o olhei. — Isso faz mais de vinte anos, mas acho que você continua chateada, então... desculpa.

— Vinte anos depois?

— Antes tarde do que nunca. — Falou e sorriu amarelo.

Neguei com a cabeça e voltei o olhar para a barra do meu vestido.

Lembrei do que eu havia dito para P. Ninguém era o mesmo de anos atrás, principalmente Philippe. Éramos duas crianças.

Não o respondi. Não disse que tudo bem, que o desculpava e também não o xinguei e nem falei que queria que ele fosse para a merda com aquelas desculpas. Fiquei em silêncio.

— Seu pé é fofo. — Falou baixo. — Parece um pãozinho. — Completou e eu o olhei.

Eu já havia escutado aquilo. Ou eu teria lido?

*

— Viu? Sou um cara legal. — Philippe falou, estacionando na frente da minha casa.

Ele havia se oferecido para me pagar um sorvete, como um oficial pedido de desculpas, então eu aceitei. Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios, nada sobre nós dois ou como estavam as nossas vidas, e aquilo foi incrível.

Era agradável conversar com alguém que não perguntava como estava a minha vida. Se eu havia arrumado um trabalho, se eu tinha namorado, se eu já tinha própria casa e etc. Era bom só conversar bobeira por horas.

Tomamos mais do que um sorvete, até começar a escurecer e eu falar que precisava voltar para casa.

— Eu vou concordar, mas só porque você me pagou sorvete. — Falo e ele ri.

— Interesseira.

— Interesseira não, aproveitadora das oportunidades. — Digo, o que fez ele gargalhar.

— Não está errada. — Falou e eu sorri. — Você me desculpou então?

Me sentia uma otária. Poucos dias atrás eu dizia que não o desculparia, agora lá estava eu.

— Eu fiquei bem triste na época. Te considerava um amigo, de verdade, e ver que você não tinha a mesma consideração por mim foi bem ruim. — Falo. — Mas não vale a pena ficar me martirizando por algo que já passou a tempos, então... é, acho que desculpei você.

— Agradeço por me desculpar. — Disse. — E, bom... agora eu posso ser seu amigo de novo.

— Quem sabe, não é? — Digo. — Obrigada pelo sorvete e pelo papo. Foi... legal.

— Foi ótimo. — Falou e sorriu. — Podíamos fazer mais vezes. — Sugeriu.

— Talvez. — Falo e limpo a garganta. — Vou indo. Obrigada.

— De nada. — Disse.

Dou um meio sorriso e desço do carro, batendo a porta e dando a volta até o portão da minha casa.

— Naty. — Chamou e eu o olhei. — Eu gostei do seu vestido. Essa cor combina com você.

Eu sorri.

**
benzinhos
🥺

Twitter ━━ Philippe CoutinhoWhere stories live. Discover now