1. A Pergunta

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Observação: Embora esta seja escrita no intuito de viver em esperança, trata de problemas reais. Se temas como distúrbios alimentares, drogas, luto e suicídio sejam sensíveis demais para você: não é recomendável.


PRIMEIRA PARTE: Narrado na 3ª pessoa (presente).

New York, 2019.

O silêncio ao redor do Centro de Reabilitação Transcent Recovery Home devidamente afastada das casas do bairro Chinatows não se desassossega em nada quando o carro do terapeuta Pedro Grogan ocupa uma vaga debaixo de um pinheiro modelado a tesoura.

Apesar do inverno que dezembro traz, o céu ilumina de modo gentil a manhã fria. Pedro, em suas vestes despojadas em tons neutros e uma mochila amarela nas costas, caminha em direção a instituição rústica e elegante de dois andares em passos lentos, como se nada jamais pudesse o abalar.

Após o segurança verificar seu crachá, ele atravessa a porta do portão automático, e com um sorriso calmo nos lábios atravessa o salão de recepção e sobe as escadas esperando ver seus amigos de trabalho como o habitual, mas isso não acontece.

Após verificar que a diretoria, a biblioteca e a enfermaria e ver que estavam vazias, ansioso avança em direção a sala de terapia em grupo; onde se reuniria com seus pacientes em vinte minutos.

Pedro sente as pernas timidamente e agira a maçaneta da longa porta branca e...

- Surpresa!

Todos os profissionais e pacientes de olhos fundos estavam ali, ao redor de uma mesa com bolos, frutas e sucos com sorriso amigáveis. Mas não é aniversário dele e apenas relaxa quando avista um balão no ar com uma frase escrita a piloto: 1 ano Terapeuta na TRH com um coração pintado de vermelho.


Apesar de Pedro imaginar que seu dia não poderia melhorar após aquela homenagem emocionante na instituição, ao estacionar seu carro na garagem da casa do bairro tranquilo do Brooklin em Kings County, e ser recebido pela sua pequena filha de quatro anos, bem, ele percebe que pôde melhorar sim.

- Onde está a mamãe? – ele pergunta a Emma e beija o topo da sua cabeça repleta de cachos louros.

- Zinha – a pequenina aponta em direção a cozinha, mas logo sua mãe aparece no corredor exibindo um avental engraçado no corpo.

- Que mulher linda – diz ele, sem ironia, aquela é a mulher que sempre amou.

Ela abre aquele sorriso irônico e pisca os olhos azuis delicados:

- Venha me ajudar querido – diz ela já sumindo pelo corredor.

Após pedir que Emma encontrasse o mais novo membro da família para brincar: um cachorro minúsculo que sempre se escondia e vivia dormindo, ele segue Rebeca.

A cozinha estava naquele caos e aroma de legumes como em todas as vezes que sua esposa cozinhava sopa para que ele e David doassem aos viciados e mendigos em certos becos de New York.

- Quem vai a Alphabet City com você hoje? – pergunta Rebeca após receber um beijo na testa e voltar a mexer a enorme panela sobre o fogão.

- Infelizmente ninguém da Transcent Recovery Home, mas David me garantiu que vai. Irei buscá-lo ás sete e meia – responde Pedro enquanto lava as mãos na pia de porcelanato preto.

- Não vai ficar muito pesado só para vocês dois? – ela indaga preocupada.

Pedro enxuga as mãos em um guardanapo e a abraça por trás. Rebeca já havia sido mais aventureira e sempre participava de ações como aquela com ele, mas após o nascimento de sua filha e o receio de deixá-la com pessoas que não fossem da família a noite a deixaram mais reservada e cuidadosa, e ele compreendia ela.

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