O1

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Xingamentos são muito comuns aqui em casa. Tudo é muito corrido, sendo parte da maior máfia do Japão - uma máfia perigosa lembrada por muitos devido ao tráfico de venenos especiais.

Mas eu não podia perder mais do meu tempo aturando xingamentos, críticas constantes. Eu detestava conviver com as pessoas dessa casa, minha mãe e meu pai exigem muito de mim, mesmo sabendo que eu sou doente. Eu sou doente, e a culpa é totalmente deles. Foi uma péssima combinação de genética e com erros mortais no parto da minha mãe que isso aconteceu.

Com minha individualidade especial, eu sou altamente perigosa, mas igualmente fraca. Eu posso morrer a qualquer momento, eu sinto o veneno negro correr em minhas veias. Sinto isso há muito tempo, sinto isso desde que eu nasci.

Suspiro, olhando agora minha porta amadeirada do quarto, o qual já cheirava a mofo. Minha mãe nunca fez questão de cuidar direito de mim, muito menos do ambiente do qual eu vivo.

Em algum lugar daquela enorme casa, estariam meus pais, provavelmente conversando sobre seus negócios. Principalmente partindo do princípio que eles fazem tráfico de venenos.

"Que entediante. Quanto tempo não converso com alguém..." Resmunguei, girando na cadeira. Olho minha janela enquanto mexo em minhas unhas. De vez em quando, debaixo delas saem veneno de minhas veias, enquanto quando saio ou vou falar com alguém, uso luvas.

Minha mãe, por sinal, reclama o quanto meu quarto fica cheio de veneno. O chão se alastra com o líquido negro e viscoso, causando um cheiro que para outros é ruim. Mas eu gosto do cheiro, apesar de ser quase igual ao que minha mãe expele ao usar sua quirk.

Bocejei, abrindo a janela de vidro, e vou em direção do armário com um espelho em sua porta. Me vejo e me sinto suja, decidindo tomar um banho breve.

Não demorei muito no banho. Caso o fizesse, talvez minha mãe me matasse. Literalmente.

Me vesti, coloquei as luvas e uma máscara (sim, uma máscara, meu veneno além de ser expelido pelas unhas, também é pela saliva). Caminho até a cozinha, passando por meus pais na sala. Ignoro completamente toda e qualquer coisa que saísse de suas bocas, e pego alguns biscoitos com sucos de caixinha. Eles não sabiam, mas estava me preparando para fugir de casa pela janela.

Eu sempre fico pegando comida na cozinha assim, até porque minha mãe controla a quirk, e eu ainda não. Mas acho que nunca chegarei a conseguir controlar. Ou seja, não suspeitariam de nada.

Vou novamente até meu quarto, fecho a porta com força e a tranco. Eu estava irritada de ter que viver presa, por um tempo indeterminado. Eu iria morrer ali dentro.

Ajeito a máscara no rosto, pego uma mochila e encho com os biscoitos e com sucos. Pensando melhor, tiro os sucos da mochila, poderiam vazar com movimentos bruscos. Coloco roupas pesadas de frio, e algumas poucas de calor.

Quando já estava tudo pronto com coisas de higiene pessoal adicionadas, coloco a mochila nas costas e abro a janela. Ela range durante o ato, e ao parar de abrir, pulo como um felino no chão na lateral da casa.

Apesar de termos um grande negócio, moramos no interior. Eu estaria me "mudando" para outro lugar. Mas especificamente Musutafu.

Sobre as quatro pernas no gramado, me senti segura. Não me feri - puxei levemente o físico de meu pai, que tem a individualidade de gato. Ou seja, possuo habilidades de um felino assim.

Começo a correr sobre duas pernas, seguindo caminho para o trem. Se eu tivesse sorte, minha mãe não perceberia até que eu chegasse na locomotiva. Durante uns bons dez minutos de corrida, senti o ar faltar levemente por conta da máscara e diminuí o ritmo.

Cheguei no trem, pago a minha passagem com uma identidade falsa - para minha mãe e nem meu pai nunca saberem em que cidade fui, e sem saberem se realmente usei o trem. Sentei em uma das cabines do trem, deixo a mochila sobre meu colo e observo a janela. Meus cabelos negros cortados na altura dos ombros de movem levemente com a brisa que recebo no rosto.

Uma garota se senta em minha frente, me encarando. Minhas pupilas cortadas diminuem levemente ao olhá-la, analisando-a. Esperava que ela não se recordasse de ter me visto. Então desvio meus olhos azuis cinzentos, voltando a olhar a janela da locomotiva.

Seria uma longa viagem até Musutafu, e eu esperava que tivesse uma vida melhor lá. Quero seguir meus próprios conceitos, e não seguir os da minha enorme família da máfia.

POISON; dabi  [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora