Que ela esteja bem.

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Dois dias sem informações já era o suficiente para me fazer ficar com olheiras enormes e precisar tomar alguns calmantes para dormir.

E eu estava começando a pensar o que poderia significar dois dias no escuro total mediante um sequestro. Ninguém havia ligado, nem mesmo enviado uma carta.  A polícia não sabia sobre nada, mesmo investigando tudo e todo mundo que tivesse contato com Alejandro.

Este parecia com os dias contados. Mais tarde eu descobri que a conversa de meus pais naquele dia, se tratava da prisão de Alejandro. Afinal, o Ministério Público precisou abrir um inquérito contra ele.

Imagino como Camila ficaria ao saber que o pai que ela tanto admira iria para a prisão. Isso a deixaria arrasada.

Minha mãe havia me contado que muitos delegados faziam isso, pagavam para ter informações sobre casos que ninguém conseguia solucionar, porque o crime sempre parecia ser mais forte do que a justiça.

Acho que Alejandro sabia que ia ser preso, porque ele parecia estar enlouquecendo cada dia mais. A culpa pelas filhas terem sido levadas era nítida em seus olhos.

E Sinuhe mal conseguia encará-lo.

Minha mãe voltou a trabalhar, mas passava todas as noites na casa de Sinuhe. E eu tentava passar os dias, mas estava ficando insuportável.

Na maioria do tempo eu ficava presa em meu quarto, vendo fotos e lendo meu caderno de anotações, nas páginas quais Camila havia respondido minhas dúvidas e cartas melancólicas.

Sua letra era linda e eu quase podia ouvir sua voz enquanto lia.

"Você é linda. Queria que pudesse se ver do jeito que eu te vejo."

Eu não sabia na época, mas Camila havia me tornado uma conquistadora. Sua conquistadora. Era irônica a maneira como as coisas haviam acontecido com a gente.

Eu odiava Camila, ou pelo menos eu pensava que odiava. E então ela foi chegando devagar e nunca mais saiu. E eu espero tanto que ela esteja bem, que ela volte para os meus braços, sã e salva.

[...]

Camila POV.

Eu conto os dias. Toda vez que a porta é aberta, geralmente quando amanhece e quando anoitece. Os seqüestradores não ficam aqui, eles trazem comida pela manhã e depois um lanche pequeno à noite. E água.

Garrafas d'água. E um pequeno banheiro. Estamos num galpão fedorento e mal acabado.

Sofia está com menos medo agora, não sei se é bom ou ruim. Pelo menos, meus braços foram desamarrados, assim como os de Sofia. E não voltaram a tampar nossa boca. Preciso admitir que me desesperei quando percebi isso, significava que poderíamos gritar até nossos pulmões sangrarem, ninguém escutaria.

Isso significava que estávamos longe da civilização. Talvez até em outra cidade.

Eu tentava não pensar sobre isso, mas era difícil. Sofi e eu passávamos o tempo trançando nossos cabelos e depois desmanchando e começando tudo novamente.

Eu tentava mantê-la ocupada com alguma coisa boba, mas ela sempre chorava quando comíamos a última refeição do dia. A comida era ruim e morna. Mas era melhor do que morrer de fome.

— Tem alguém vindo. — Sofia disse, interrompendo meus pensamentos.

Pisquei para a porta, soltando a trança no cabelo de minha irmã.

Dois homens dessa vez. Eles estavam sorrindo maldosamente sobre algum assunto estúpido.

— Hora da foto. — Um deles disse, o mais baixo e gorducho.

Conqueror  G!PTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang