Desesperado, ele notou que a irmã não tinha mais muito tempo. Precisaria continuar distraindo Geomi enquanto que, lentamente, tentava cortar a teia com a pequena faca que usava para esfolar caça.

Felizmente, ele sempre a guardava na bainha da espada.

Rowan respirou fundo para poder enfrentar o monstro de cabelos flutuantes sem deixar transparecer seu plano:

— Pelo menos alguma coisa que disse foi verdade?

Geomi olhou para o garoto novamente, esquecendo-se por um segundo de Zariah. Ele não era um especialista em analisar a expressão de aranhas, mas algo em seu rosto demonstrava que estava se divertindo.

— Quem pensa que eu sou? Uma mentirosa? — seu sorriso se esticou, mostrando sua fileira completa de dentes, mas dessa vez Rowan reparou que eles eram ligeiramente compridos demais. Como que ele conseguira beijar aquilo? — Não, posso não ter participado do circo, mas definitivamente a árvore está aqui. Veja bem, que lugar melhor para fazer de casa do que na base de uma das montanhas que protegem a árvore?

Seus olhos cintilaram e brilharam ao refletirem a luz da tocha trêmula que ela reascendera. Rowan não se deixou levar pelo pânico e continuou cortando fio por fio da teia gosmenta. Estava quase... e felizmente Geomi parecia ser orgulhosa:

— E, de fato, a comida depois do mar é realmente melhor... — continuou. — As pessoas parecem ser mais despreocupadas e saudáveis. Acho que é a água.

Plec. A teia arrebentara. Ele estava solto.

Em um movimento único, Rowan abriu um talho grande o suficiente para seu corpo girar e cair, de forma que, ao pousar no chão, ele não deu de cara no piso de pedra.

Geomi soltou uma exclamação de surpresa e tentou cortar o próprio fio que usava para enrolar Zariah. Rowan se aproveitou desse pequeno tempo e sacou a espada em um segundo. O casulo não estava tão alto e, por isso, conseguiu o cortar com facilidade. Com um grunhido, Zariah, seu arco e as flechas caíram em cima de Rowan. Ele estendeu os braços, mas só conseguiu pegar a irmã no ar apenas para amortecer a queda. Seu braço direito, privado de movimentos graças aos curativos de Geomi, não conseguiu fazer o movimento de gancho para que a irmã permanecesse em seu colo e ela simplesmente rolou para fora dele. Porém, assim que ela atingiu o chão, começou a lutar por ar, então devia estar bem.

— Ar..arco! — gritou ela, em meio às tosses.

Até mesmo o curativo fora uma armadilha, pensou Rowan, enquanto corria até a arma da irmã e a jogava em sua direção. Como eu sou burro!

Ele sentiu antes mesmo de ver: em um segundo, ele estava no meio da caverna e, no outro, já rolava para o canto perto de Zariah, puramente seguindo seus instintos.

Geomi pulou para o chão no momento em que estava começando a se levantar do rolamento: seus cabelos negros e lustrosos enrolavam-se e emaranhavam-se pelo pescoço e no colo como se um vento — que Rowan não conseguia nem tocar e nem sentir — soprasse sobre eles.

...ela também estava muito alta. A sua metade aranha tinha praticamente o tamanho dele.

Ainda com o rosto um tanto roxo, Zariah agarrou o arco e se arrastou para o lado do irmão, fugindo das patas dianteiras de Geomi que vinham em sua direção em uma velocidade voraz.

A aranha riu da situação e avançou novamente. Rowan, sabendo que não seria muito útil usando a espada na mão esquerda, correu para o lado oposto da sala. Quando passou por Geomi, esticou a espada e feriu de raspão uma das suas pernas.

VerlusteWhere stories live. Discover now