Capítulo 4

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No dia seguinte, os irmãos Everblane acordaram antes mesmo dos pássaros. Eles visitaram o quarto do pai para ao menos se despedirem, mas ele continuava dormindo.

Espero que consigamos chegar a tempo — murmurou Rowan, observando Zariah dar um beijo suave na testa do pai.

— É claro que vamos — disse, mas não soou muito confiante. Agora, observando-o de perto, parecia que eles não tinham nem duas horas, apesar de Flitzen ter dito que ele sobreviveria por pelo menos uma semana.

Porém, ao observar as maçãs do rosto muito fundas e a testa coberta de suor da febre, sem contar com as marcas de expressões que se formaram com as caretas de dor frequentes, não inspiravam muita confiança nas palavras do médico.

Um frio percorreu a espinha de Rowan, fazendo-o tremer.

— Temos que conseguir.

Do lado de fora, eles ajustaram as armas ao corpo, selaram novamente os cavalos e partiram a caminho da floresta há muito evitada.

Eles não tiveram coragem de olhar para trás.

— É engraçado — disse Zariah, quando eles chegaram na margem das árvores altas e escuras. — Estamos prestes a entrar em um lugar que juramos jamais sequer comentar sobre.

Rowan engoliu em seco antes de deslizar para fora da sela. A única fonte de luz vinha da tocha que ele segurava com firmeza, e ela tornava toda a paisagem infinitamente mais assustadora, com as sombras enormes sendo projetadas para longe.

— Podemos continuar cumprindo nossa promessa se falarmos de outras coisas — disse, e Zariah riu nervosamente.

— Podemos fazer uma brincadeira pra afastar o medo. — ela pulou do cavalo. — Eu posso ser a caçadora Gretel e você o herbologista Hansel.

Rowan torceu o nariz.

— Como pode brincar em um lugar como esse?

Ela deu de ombros.

— Há nove anos, você era bem mais corajoso do que isso — apesar do tom descontraído, os nós de seus dedos estavam brancos com a força que estava fazendo para segurar o arco. Ela não podia deixar que o irmão percebesse, e, por isso, escondeu-o atrás do corpo, casualmente.

Se ele visse que ela estava com medo também, o garoto a mandaria de volta para casa, sem dúvidas. Rowan sempre tenta carregar tudo nas costas, pensou ela. E faz de tudo para tirar o peso das minhas. Com a culpa sobre Michail foi assim, e com papai não será diferente.

Por isso, ela fingiu estar tranquila.

— Você acabou de quebrar a promessa.

— Ó, perdão, grande sir Hansel — disse ela com uma voz caricata. — Vamos atravessar a floresta da escuridão logo e pegar.. anh... as amostras de seus estudos. Não tema, entretanto, pois eu o protegerei.

— Idiota — ele revirou os olhos e entrou na floresta, seguido pela irmã.

Zariah, porém, não desistiu de tentar acalmar o irmão que, apesar de não responder às perguntas de plantas para ela, estava agradecido por ter algo para distrair sua cabeça das sombras e da escuridão da floresta.

Entretanto, quando as árvores começaram a rarear enfim e eles escutaram o som das cachoeiras ao fundo, Zariah se calou, subitamente sem ânimo para inventar histórias.

Os cavalos relincharam e ergueram as orelhas, atentos como nunca antes. Zariah olhou para o irmão, que encarava o portal com o cenho franzido e com um olhar muito longe, através da casa de pedra abandonada que, eles sabiam, iria se transformar assim que atravessassem.

VerlusteWhere stories live. Discover now