eu não desejo ser assim

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Pov Azriel

Eu estava finalmente subindo as escadas para meu quarto, mas não me sentia feliz. Como poderia? Um pequeno monstro em forma de mulher me amparava. Não havia nada que eu pudesse fazer sem ela no momento. Nem meus pensamentos eram inteiramente meus.
Aquilo me inquietava mais que a minha atual condição, de todos nós eu sempre fui aquele a ter a maior tendência de manter os pensamentos dentro da mente, e agora, um a um, eles eram roubados de mim.
Selene abriu a porta de meu quarto.
Paredes azuis, uma delas coberta de armas, a maioria presentes de Mor.
Uma cama de casal. Um guarda roupa. Um banheiro. Nada demais. Eu nunca fui dado ao luxo.
A pequena criatura me levou até a cama, me ajudou a deitar e me cobriu.

Selene: hum. Ok. Uma pergunta: onde irei dormir?

Sinceramente? Eu não fazia ideia. Sentia uma falta profunda da minha própria companhia. Estar rodeado de pessoas o tempo todo me fazia querer gritar. Mas eu não podia ser rude com ela. Então me mantive calado, de novo.

Selene: se importa em dividir a cama? Ela é enorme e eu sou bem pequena. Além de não caber outra aqui.

Eu não me importava, dividir uma cama não parecia grande coisa pra mim.
Então acenei com a cabeça em positivo.

Selene: quer tomar um banho?

Oh céus, sim. Eu morreria por um banho. Pra me sentir limpo de novo, embora soubesse que aquela sensação de sujeira não vinha só de meu corpo. Selene deve ter percebido a minha hesitação porque entrou no banheiro e eu ouvi o som de água caindo.
Perdido em pensamentos nem notei quando ela voltou.

Selene: venha, a água esta uma delícia.

Ela me ajudou a levantar, e fomos juntos até a banheira. Um estalar de dedos ressoou e então eu estava só de roupa íntima. Se eu deveria ficar envergonhado não sabia. Não via motivos para ficar. Selene não parecia dar importância alguma para a situação, nem sequer me olhou, apenas me ajudou a entrar na banheira.

Selene: acho que consegue fazer isto sozinho com uma ajudinha.

No mesmo instante, comecei a brilhar em verde, senti alguma força retornar ao meu corpo. Ela sabia,  sabia quais situações me fariam querer me enterrar na terra de vergonha. Sabia meus limites e não ultrapassava nenhum. Eu era grato por isso. Uma pequena benção em meio a isso tudo.

Selene: mas acho que precisará de ajuda com as asas.

Quando pensei em responder, ouvi outro estalar de dedos, hesitei em olhar, mas a curiosidade falou mais alto.
Ali estava ela. Completamente nua a minha frente. Seu rosto não mostrava nenhuma emoção. Entendi que para ela também não havia nada demais naquela situação. Eram apenas corpos.
Por mais que o seu fosse perfeito, pelo pouco que me permiti olhar. Eu tinha a sensação que ela brilhava da mesma forma que a Lua.
Selene então se sentou a minha frente, pegou um pano e começou a lavar minhas asas, era incrivelmente delicada, mas ainda assim me arrepiava. Era difícil não olhar para o seu corpo, eu podia não ver maldade na situação mas não quer dizer que não apreciava uma bela visão quando ha tinha.

Selene: você está olhando.

A encarei, não tinha a pretensão de mentir, mas também não queria afirmar.

Selene: não importo que olhe - disse rindo inocentemente.- eu também olhei pra você.
Aonde quer levar isso?

Azriel: a lugar algum. Não poderia nem se quisesse.

Selene: sabe, não costumo fazer as coisas sem pensar nelas primeiro. Quando estávamos em sua mente eu vi o vislumbre de uma cena. Você, uma garota ruiva, em um quarto. Não vi muito, mas minha imaginação completou o resto.

Azriel: não é o que imagina.

Selene: então me mostre.

Antes que eu pudesse recuar ela segurou o meu rosto com as mãos. E lá estávamos, eu, ela, e a garota ruiva. Seu nome era Bryce. Eu ainda me lembrava, embora séculos tivessem se passado.
Me lembrei do que aconteceria naquele quarto.
E lutei. Lutei com todas as minhas forças para nos tirar de lá

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Pov Selene

Tão rápido quanto entramos na lembrança, Azriel nos chutou pra fora. Não pude ver nada. Mas senti o cheiro, dor e prazer se misturavam.
E entendi, que havia ultrapassado um limite muito grande.

Selene: todos temos demônios. - disse apenas porque precisava dizer algo.

Azriel: pode até ser, mas não desejo ser assim. Desde que conheci Cassian e Rhys luto para ser como eles. Algumas vezes eu me perco no caminho.

Selene: a única pessoa que você pode ser é você mesmo Azriel. Se continuar fugindo de si mesmo, das suas próprias sombras, nunca vai se encontrar.

Azriel estava se sentindo sujo, não apenas em seu corpo, mas também em sua alma. E só agora eu podia entender, torturar e matar aqueles garotos, mesmo que fosse apenas dentro de sua mente mexeram com algo precioso dentro dele. Ele havia gostado, e se odiava por isso.
Comecei a entender então, Az não se sentia indigno de amor apenas porque nunca o teve, mas também porque se sentia corrompido.
Corrompido por um desejo doentio de causar dor.
E também de a sentir.

Healing (concluída)Where stories live. Discover now