Capítulo 7

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O cemitério estava praticamente vazio. Uma ou duas pessoas circulavam ali junto de mim e de Miwa. Seus rostos estavam inundados por tragédia e uma tristeza inconsolável. Minha irmã notou minha falta de interesse em prestar atenção na mulher que falava, e prestou atenção em minha determinação em encarar os rostos tristes.

Costumávamos vir aqui todos os meses visitar a lápide de nosso avô. E então, todos os meses se tornaram de três em três meses, dois em dois, até que simplesmente começamos a vir apenas em um mês, em um único dia do ano. Tudo por culpa da falha comunicação de irmãos que tínhamos. Nosso avô era o que mais nos unia. Uma pequena linha de barbante que nos juntava, e a morte de Kazuyo foi a tesoura.

Não nos falávamos muito desde então.

O único dia em que éramos realmente obrigados a fazer isso era nesse fatídico dia. E nem assim falávamos muito.

Miwa e eu fomos até onde estava nosso avô e encaramos o quadro com a foto dele. Eu a vejo fechar os olhos e as lágrimas começarem a escorrer descontroladamente pelo seu rosto. Sinto elas queimando em meus olhos azuis também, e a sensação não me abandona até que eu derrame tudo que necessito.

A tristeza não se esvai tão depressa assim. Por onde eu ande eu a vejo, se arrastando atrás de mim esperando tomar conta de minha alma, como se fosse um demônio. Eu odeio esse sentimento. Odeio que isso me persiga sempre. E odeio não falar tanto com minha irmã.

Odeio me sentir culpado por sentir um vazio imenso na minha mente desde a morte do meu avô.

— Miwa. — O nome dela vaza de minha boca como um murmúrio. Ela me encara, limpando o rosto com as costas da mão. — Por que... por que não nos falamos mais?

Vejo a frustração presente em seu olhar exaurido. Ela sorri, triste. E eu a encaro, arqueando as sobrancelhas.

— Você quis assim.

— O quê?

— Você se fechou para tudo, Tobio. — As memórias parecem estar sendo reorganizadas, estruturando-se pela minha mente. — Eu fiz tudo para tentar me aproximar, mas você só falava de vôlei e só queria saber de vôlei. E isso me lembrava nosso avô e eu não queria... eu não estava pronta ainda.

— Isso não...

As peças do quebra-cabeças finalmente se montam.

Não, repito em minha mente.

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

— Eu juro por tudo — pronunciou, a voz arrastada. Tentava não chorar de novo. — Eu só queria meu irmão.

Não é só Miwa que está tentando segurar o choro.

— Fiquei tão preocupada, Tobio.

Ela soluça, levando as mãos trêmulas até os lábios.

Eu abro a boca para tentar falar algo, mas não sai. As palavras não surgem, e estou tentando assimilar tudo o que minha irmã disse.

— Me... desculpa...

Miwa desaba e eu caio junto dela, tentando a segurar. Há quanto tempo não a encostava. Há quanto tempo não a abraçava tão apertado desse jeito. Há quanto tempo isso a perturbava por dentro, e eu sempre achava que ela era a culpada. Sempre achei que fosse ela. E no final, era eu.

Como sempre sou eu.

Sou eu quem afasta as pessoas.

Sou eu quem as destrói.

Sou eu quem as abandona.

Eu não posso cometer esses erros de novo.

Não posso deixar que as pessoas vão embora.

Não posso deixar que ele vá embora.

Não posso afastar ele.

(...)

Hinata está encarando por longos minutos um DVD de um jogo de vôlei. Eu entro dentro do quarto e ele o joga em cima da mesa, dispensando.

Estreito os olhos e pego o DVD.

— Não quer assistir?

Hinata balança a cabeça, antes de tossir e encarar o outro lado do quarto. Não entendo o que está acontecendo, mas sento na cadeira ao seu lado e ele é obrigado a me ver.

— Eu fui ver a lápide do meu avô.

O.k. Talvez não tenha sido uma boa forma de puxar assunto.

Mas Hinata me encara, abrindo um sorriso aos poucos.

— E como foi?

E então me pego pela primeira vez tagarelando com ele. Falo sobre como fiquei triste com a ida à lápide. Falo sobre como eu me senti quando Miwa desabafou comigo. Sobre como fiquei feliz ao voltar a falar com a minha irmã novamente, mesmo que seja aos poucos. Pelo menos, estamos voltando.

Os olhos de Hinata brilham e ele está sorrindo tão lindamente que me perco algumas vezes até lembrar o que estava falando e retomar. Quando eu paro de falar, Hinata está tão feliz que acho que sua energia retomou ao corpo.

— Não fazia ideia de que você tinha uma irmã mais velha — disse, depois de um tempo em silêncio apenas analisando meu rosto e me deixando levemente corado.

— Ah, é. Acho que quase ninguém sabe disso na verdade.

— Ninguém deve saber disso, Kageyama. — E eu fico ainda mais vermelho por ter dito algo tão pessoal. — Você sabia que eu tenho uma irmãzinha também?

— Eu sei, Hinata.

A boca dele se abre, descrente que eu sabia disso.

— Sua mãe me contou, idiota.

— Estraga prazeres você. — Ele cruza os braços e eu arqueio uma sobrancelha, querendo entender. — Você é mesmo uma porta!

— Cala boca, boke! 

Era só uma doença - KageHinaWhere stories live. Discover now