Ela segurou na curva da cintura de Miranda, e elas se moveram lentamente, com os olhares intensamente conectados. Era possível sentir a respiração uma da outra, o calor que emanavam dos corpos, a tensão latente. As bochechas de Miranda enrubesceram e ela sorriu afetada, comprimindo os lábios e desviando o olhar do de Andrea. 

"Eu não me recordo a última vez que me diverti tanto." Miranda revelou. "Ou que bebi tanto." Completou, rindo graciosamente. "Acho que foi em '91, com uma amiga."

"Onde ela está agora?"

"Nova Iorque. De alguma forma esse estado me rouba as pessoas."

"Houve mais de uma?"

"Eu tinha um... não sei se devo chamá-lo de amigo, talvez aliado seja a palavra ideal, enfim, ele trabalhava comigo, chegou depois de mim, não tinha metade do meu currículo e foi promovido primeiro. Ganhou um cargo em Nova Iorque e agora faz parte da diretoria. Depois minha amiga foi estudar lá e acabou ficando também."

"Essa merda é tão fodida." Andrea proferiu, mas se arrependeu no segundo seguinte. "Sinto muito, você se importa se eu falar assim?" Miranda negou e deitou sobre o ombro dela. "Em meu terceiro ano como editora do jornal da faculdade, eu estava pronta para ser chefe, então apareceu um garoto com o cabelo carregado de laquê e quase ficou com minha vaga, ele nunca havia tocado os pés no jornal. Depois descobri que o pai dele havia feito uma enorme doação para o jornal e havia um prédio com o sobrenome dele. Publiquei um artigo afiado sobre o patriarcado e o jogo de interesses nas instituições e entrei com um recurso."

"Deve ter causado uma boa agitação. Você conseguiu a vaga?" Miranda ergueu o rosto para olhá-la.

"Sim, inventaram uma história de que ele desistiu da vaga, somente para não assumirem que o processo seletivo era uma farsa total."

Miranda sorriu com certo reconhecimento, seus olhos brilhando com algo como orgulho, então mordeu o canto do lábio inferior e tentou lutar contra os pensamentos que disparavam em sua mente.

"Eu tenho uma proposta para você." Sorriu de forma angelical, uma espécie de sorriso que ela só usava quando queria convencer alguém de algo. "Você disse que está desempregada, suponho que se houver um meio de ganhar algum dinheiro será bem vindo."

"Hum" A jovem murmurou, receosa. "Prossiga."

"E se você posasse para mim? Eu te pago uma boa quantia e definitivamente nunca exporia ou venderia as imagens."

"Não." Andrea soltou um riso nervoso. "Você não vai querer me fotografar."

"Como não? Estou propondo, não estou? Penso sobre isso desde o domingo. Escute, não preciso fotografar seu rosto, você pode mostrar o quanto estiver disposta."

Os olhos castanhos vagaram para cima, depois encontraram novamente o rosto sereno e o sorriso meigo de Miranda. Mal sabia Andrea que a manipulação era uma arte dominada pela mulher mais velha.

"Você tem que prometer não reagir ou tecer qualquer comentário sobre meu corpo."

"Prometo que serei profissional. Eu já fiz isso antes."

"Com certeza não foi com uma mulher como eu."

"Minha querida, eu também sou mulher, nada do que você tenha aí será uma novidade para mim.

Andrea riu, negando com um manear de cabeça. A música acabou mas elas não se separaram, outra começou e Miranda abraçou Andrea ainda mais firme. Ela se sentia tão confortável, que sequer se dava conta de que estava mantendo a outra em seus braços. Todo o constrangimento inicial parecia ter se dissipado.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Where stories live. Discover now