—Eu te dei um beijo na bochecha, Bakugou. Nós éramos amigos desde o nascimento, crescemos juntos, tínhamos planos juntos! Você destruiu nossa amizade por causa da porra de um beijo na bochecha!

—Eu era idiota, Izuku, fui um idiota. Você sabe, essa cidade...

—Não culpe a cidade por uma escolha que você fez! Você decidiu agir como um homofóbico fodido e quebrar minha mão! Você decidiu espalhar para a escola toda que eu sou gay! Você não tem noção das coisas que fizeram comigo por causa disso!

—Eu nunca pensei que iria chegar a tanto, eu fiquei com medo de...

—Ter sido queimado foi apenas uma das coisas que me aconteceu! — As palavras saíam, sem controle, me aliviando e afogando ao mesmo tempo —Eu apanhava todo dia, fui humilhado e ridicularizado por todos os garotos, inclusive você!

—Me desculpe, Izuku

-É fácil pedir desculpa depois que a merda já está feita. Eu fiquei três meses afastado da escola, você foi me visitar ou perguntou de mim alguma vez? Faz doze anos que eu saí desse inferno e você nunca procurou entrar em contato comigo. Eu tinha um plano, sabia? Me formaria e sairia de casa, quando alcançasse estabilidade contaria a minha mãe, viveria a minha vida. Você fodeu minha vida, Bakugou.

Ele não disse nada, caminhou até mim e segurou no meu braço, receoso de tocar na pele cicatrizada. Eu precisei lutar com as lágrimas, não daria esse gostinho a ele, não mostraria o tamanho da minha dor para a pessoa que deu início a tudo aquilo.

—Quando você me toca, minha pele queima, dói e me deixa fraco. Eu odeio isso.

Ele parecia chocado e magoado com o que eu disse, mas a verdade era essa, não podia deixar ele fazer o que quiser e achar que tudo ficaria bem apenas com palavras.

—Shoto acalma minha pele, seu toque me revigora. Por isso ele e não você.

—Me perdoe ,Izuku, eu — O loiro parecia a beira de lágrimas, desamparado — Por todos esses anos eu me culpei por tudo que te aconteceu. Eu deveria ter feito tudo diferente, se eu soubesse o que aconteceria...

—Você sempre soube, só não tinha consciência.

—O que eu faço, Izuku? Como eu posso me redimir com você?

—Eu não sei, Bakugou. Eu não sei.

—Izuku, está tudo bem?

Shoto apareceu na escada, sem camisa e um pouco desalinhado, mas bem desperto. Mesmo com a tensão daquela situação, perdi a concentração quando vi seus olhos intensos e belo corpo. Fiz um sinal para ele se aproximar e nos surpreendendo, Shoto ficou atrás de mim e me abraçou pelos ombros. Bakugou enxugou os olhos e se dirigiu para a porta.

—Seu pai está preocupado garoto, dê um sinal de vida antes que ele resolva revirar a cidade atrás de você.

—Farei isso.

Ele olhou de mim para Shoto, bufou e saiu para a porta — Se cuidem.

—Você ouviu? — Perguntei assim que Bakugou fechou a porta.

—Sim, me desculpe. O som se propaga aqui.

Eu segurei nos seus braços envolta de mim. Acordei com um sentimento tão promissor e agora me sinto debilitado. Odiava o preconceito e odiava principalmente a mim por ainda estar preso ao meu passado. Desabei de joelhos no chão, quando conseguiria esquecer tudo aquilo? Outra barreira quebrada e eu comecei a chorar sem controle. Pelo menos, não estava sozinho naquela vez. Shoto sentou na minha frente e me pôs em seu colo, um carinho preguiçoso em minhas costas enquanto eu chorava depois de dez anos sem derramar uma lágrima sequer.

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