Reparei que Taehyung era o único ali além de mim que parecia sóbrio. Talvez fosse resistente à bebida, talvez tivesse aprendido a beber antes de seus coleguinhas. (Mais tarde, quando ele nos deu uma carona para casa, descobri que não estava bebendo naquela noite pois tinha vindo de carro)

Kookie se jogou no chão naquele draminha encenado no qual estava se tornando especialista. Virou-se para nós dois, apoiando um braço na perna de Taehyung e o outro na minha, o queixinho pousado nas mãos.

– Pois eu faço tudo que a noona e o hyung gostam e não ganho nada em troca.

– Do que você tá falando?

– Nem vou comentar isso – disse Kim, provavelmente se lembrando do nosso último encontro no meu apartamento, quando foi maltratado pelo dongsaeng supostamente submisso.

– Quero me divertir com vocês dois essa noite – piscou aqueles olhinhos pidões, uma das sobrancelhas bonitas erguendo-se em desafio.

– Você tá muito bêbado pra isso, bebê – respondi.

– Mas vocês não...

Percebi que Taehyung ignorou o comentário tanto quanto eu.

– Queria ver vocês dois – murmurou Kookie, sonhador.

– E não tá vendo? – Taehyung resolveu se fazer de desentendido.

– Você entendeu, hyung. Quero ver vocês dois juntos... Os dois são divinos, que cena lindíssima seria, praticamente celestial. Fico excitado só de pensar.

– Pois continue pensando – interrompi. – Vai passar vergonha no meio dos colegas e ninguém vai te ajudar.

– Por favor, noona... hyung... só um beijinho.

Enquanto eu ponderava se deveria ceder, a voz estridente do garoto de cabelos loiros, o namorado de Min Yoongi, se fez ouvir na sala inteira.

– Atenção, atenção! Como temos muitos muitos músicos na casa, vamos dar início ao nosso famoso Sarau Alcóolico Anual. Peguem seus instrumentos.

– Se conseguirem – alguém resmungou. A sala inteira caiu na gargalhada.

– Menos o Tae porque ele tá sóbrio – gritou Jungkook, se levantando de um salto. – E porque ele é chato.

– Vai tomar no cu – respondeu o violoncelista e eu nunca vi alguém xingar com tanta elegância.

– Ele adora – respondeu o namorado de Yoongi, que mais tarde eu descobriria se chamar Park Jimin e ser um amigo de longa data de Taehyung, e piscou pra mim.

Cobri a boca com a mão, numa tentativa de esconder minha cara, mas felizmente os garotos já estavam entretidos na movimentação que envolvia o tal sarau prestes a começar.

***

Kim Taehyung parecia um deus. E esse por si só já era motivo suficiente para me fazer querer pisar nele.

Sempre bem vestido, dava a qualquer ambiente um ar solene, ainda mais com o cello apoiado entre as pernas, aquele rosto glorioso perdido na música que partia de suas mãos. De fato, ele era o único sóbrio do quarteto de cordas, o que dava um destaque óbvio à sua execução musical. Olhou pra mim a todo momento, ainda que sua postura tivesse o ar desinteressado que se espera das divindades.

Meu Kookie se esforçava para não errar as notas e até isso nele era gracioso, tanto que fazia os colegas rirem propositalmente pelas caretas que fazia cada vez que se enrolava. Yongsun começou a ter uma crise de riso no meio da "apresentação" e sua namorada, que começou lhe reprimindo, terminou caindo na gargalhada junto, transformando toda aquela tentativa de sarau numa grande zoeira generalizada.

Good boy 2Where stories live. Discover now