Capítulo XXXV

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Estávamos em um pequeno parque de sequoias que ficava um pouco longe do colégio. Caminhamos um tempinho entre elas. A noite estava bem iluminada pela lua, mas o frio era intenso. O professor me deu seu sobretudo preto sob o pretexto de conseguir se manter com o suéter de mangas longas e tecido quente que estava usando, ele tinha uma gola rolê que ajudava, mas ele ainda estava com frio, dava para perceber. Porém, não ofereci o sobretudo de volta para não machucar o "ego masculino" que com certeza, o professor tem em uma quantidade duvidosa.

-As sequoias costumam ter 80 metros, não é? - perguntei parando de frente para uma e tentando enxergar seu topo.

-Sim. - ele disse com a respiração cansada já que havíamos andado consideravelmente demais. Eu sabia que ele não pararia só no sim. - a maior sequoia que existe tem entre 85 e 115 metros. A mais velha que existe tem 4.650 anos... ela... - ele ofegou profundamente - é daqui mesmo da Califórnia. - ele se apoiou na sequoia que eu tentava ver o topo.

-Você está bem? - perguntei me aproximando.

-Vou sobreviver. - ele disse me lançando um sorriso - não sou acostumado a andar tanto.

-Você que sugeriu que caminhássemos. - lembrei.

-Eu sei. Eu queria chegar a clareira, mas acho que não sei mais aonde fica. - admitiu apertando os olhos para as outras sequoias e rindo. Eu ri, mas de seu estado.

-Então? A sequoia é considerada um fóssil vivo, certo? - perguntei ainda curiosa.

-Sim, é. - ele se recosta na árvore e me puxa, assustando-me. Nossos corpos se juntam, e ele aperta minha cintura. - elas tem um valor histórico muito grande. - disse. - mais alguma coisa que queira saber? - perguntou de modo convencido.

Encarei seus óculos, depois seus olhos e seu rosto pretensioso. Lembro-me que foi a primeira coisa que mais me chamou atenção nele. Essa expressão pretensiosa e esses olhos talhados de um castanho esverdeado escuro, que me arrancam sensações profundas e hipnóticas.

-Hum...

-Seria esse o momento apropriado para algum tipo de promessa? - indagou de repente, mais irônico do que sério.

-Como nos livros de romance? - perguntei. - aquela parte em que tudo parece bem e o casal faz uma promessa que provavelmente não vão cumprir? - ri com escárnio.

-Esse momento mesmo, mas você acaba de deixar tudo mais... - ele contraiu o cenho e os lábios - real. - rimos juntos.

O assunto me fez lembrar de uma promessa que minha mãe fez com meu pai, na verdade, conosco. Sinto uma nostalgia em meu peito e uma vontade que não entendo de compartilhar aquilo com ele.

-Minha mãe... - começo olhando para um ponto fixo na árvore, lembrando dos cabelos castanhos de minha mãe e seu olhar alegre - ela fez uma promessa assim.

-Fez? Com seu pai? - ele pergunta.

-Conosco, com nós dois. - sorrio. - era aniversário de casamento deles. Não sabíamos da doença, mas provavelmente ela já estava com ela e eu sempre pensei que de alguma forma ela já sabia. Naquele ano, comemoramos juntos em um restaurante e depois voltamos para casa como se nenhuma coisa ruim no mundo pudesse nos atingir. - olhei nos olhos do professor e afastei o corpo do dele, correndo as mãos pelos seus braços e entrelaçando-as nas dele. - chegamos em casa e minha mãe correu para cozinha, pegou uma garrafa de vinho, que aparentemente, parecia comum aos nossos olhos.

-E não era? - ele perguntou com um riso preso.

-Não. - respondi soltando um riso curto. - era um vinho tinto caro, ela comprou diretamente da França. Quando meu pai descobriu o preço... - comecei a gargalhar lembrando da reação do meu pai. - era um vinho de mais de 8 mil dólares, meu pai surtou, minha mãe só conseguia rir e ele não podia fazer mais nada nem mesmo jogar o vinho fora, ele não desperdiçaria o dinheiro assim, apesar dele achar que o dinheiro já havia sido desperdiçado. - suspirei - acho que minha mãe já não se importava com o preço das coisas naquela época. - desviei do foco um pouco e devaneei.

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now