Capítulo XV

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Acordei com um estrondo repentino do que parecia ser uma porta sendo fechada bruscamente. Abri os olhos com dificuldade e me apoiei com as mãos no que eu havia usado como travesseiro: a perna do professor. Assustei-me por um momento e ergui o corpo rapidamente.

-O que foi isso? - perguntei referindo-me ao barulho que me acordou.

-Era o Dave. - ele disse calmamente e esfolegando.

-Ele nos viu assim!? - perguntei tocando em seu braço.

-Viu.

-Como pode dizer isso assim, tão calmo? Com certeza deve ter sido muito estranho para ele... - afirmei nervosa.

-É... com certeza ele está desconfiado de algo - ele disse pensativo.

-Se acha isso, por que não parece nem um pouco preocupado, professor? - perguntei.

-Porque é o Dave, Emilly... - ele deu um sorriso de lado e me encarou. - ele me conhece, sabe que eu não faria nada de muito grave como desposar você não se preocupe com isso. - ele levantou com uma certa indiferença a mim.

-Des... des... posar? - repeti e gaguejei ruborizada com o efeito da palavra e com a remota possibilidade daquilo acontecer.

-Sim, não sabe o significado? - ele perguntou já na cozinha.

-É claro que eu sei! - exclamei nervosa, levantando-me também e indo ao seu encontro. - mas quem ainda usa essa palavra? - perguntei me aproximando.

Ele iniciava o preparo de algum prato envolvendo macarrão.

-Eu. - deu de ombros.

-Ah... - respondi pensando em supostas palavras que ele poderia conhecer também - e conhece também a palavra empáfia? - perguntei intimidadoramente.

-Sim. - ele respondeu concentrado na comida que preparava. - Soberba, orgulho, altivez, arrogância... - ele dizia o significado de um modo convencido e parou ao perceber minhas intenções. Encarou-me, sério. - Está querendo me dizer alguma coisa?

-Emproado - falei recostando-me no balcão a sua frente.

-Orgulhoso, pretensioso, vaidoso... - ele me olhou desconfiado. - Sabe o que eu acho? - ele soltou o garfo que usava para mexer o macarrão na panela e se apoiou no balcão, com o rosto perto.

-O quê? - perguntei com um sorriso divertido.

-Que você quer me dizer alguma coisa. - ele sorriu, claramente irritado.

Apenas sorri para ele e o vi retornar para perto do fogão. O silêncio se instalou e eu tornei a mexer com ele.

-Austero... - disse.

Ele soltou o garfo novamente que fez um barulho irritante ao tocar o balcão de mármore. Ele retornou para perto de mim e voltou a sorrir demonstrando irritação.

-Severo, rígido, sóbrio, sisudo... - citou contraindo os lábios. - acha mesmo essas coisas de mim? - perguntou franzindo o cenho e cruzando os braços.

Eu estava impressionada com o quanto ele conhecia as palavras e os seus diversos significados. Ele ficava lindo com aquela expressão irritada e desconfiada. Mantive minha pose de brincalhona e o encarei com um sorriso em resposta. Eu estava me divertindo e eu nunca esperei que isso fosse acontecer tão rápido. Não me sentia mais como a algumas horas atrás. Eu estava relaxada e me esforçando para não ficar triste de novo.

-Está bem. - ele levantou os braços em rendição. - eu também tenho uma palavra para você.

-Vamos ouvi-la, então. - falei convencida.

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now