Capítulo XVI

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Ele me encarou por uns segundos, depois ajeitou os óculos, retornando seu olhar para a lareira. O fogo estalava e queimava normalmente e estava freneticamente refletido nos óculos de Dener. O barulho da chuva lá fora não nos assustava nenhum pouco apesar de ser bem forte e estrondoso. Nunca pensei que me encontraria nessa situação com meu Professor de literatura, mas agora era inevitável, não havia como voltar atrás em tudo que já houve até aqui.

-Sempre me sento aqui e observo o fogo. - ele disse com seu olhar fixo na madeira que era consumida. - pude perceber a beleza dele. - ele deixa transparecer um pequeno sorriso. - é bonito, cintilante e aquecedor. - ele toca seu peito com expressão e uma certa admiração que me fizeram enrubescer. Ele não falava do fogo. - faz com que eu me sinta bem apenas em observar e sentir sua presença sem tocá-lo - virou o rosto para mim, ainda sorrindo.

-Dener... - aproximei meu rosto, entendendo o que ele queria dizer.

-Não se pode tocar o fogo Emily. - ele disse firme e contraindo seu rosto de forma soturna. - Não se pode tocá-lo, seria doloroso...

-Sim, ele pode ser tocado. - apressei-me em dizer - ninguém está prendendo suas mãos Dener. - encarei as mãos dele que apoiavam seu corpo no chão.

Virei-me para ele, ficando de joelhos e deixando meu cobertor cair no chão. Mesmo assim, o Professor ainda era um pouco mais alto do que eu. Ele me encarou com uma avidez aparente e fixou os olhos nos meus, sua camisa estava um pouco entreaberta e eu só havia notado agora, estando mais perto. Seus olhos caíram sobre meus lábios e depois retornaram para os meus olhos.

-O que quer dizer? - ele perguntou meio perdido.

Era a primeira vez que ele me fazia uma pergunta sem saber a resposta. Suas perguntas eram sempre objetivas, bem pensadas e ele sempre tinha as respostas antes de perguntar, mas dessa vez foi diferente.

-Você pode tocar o fogo só precisa estar preparado para enfrentar as consequências... precisa medir, se vale a pena tocar o fogo sabendo que irá se queimar. - falei, dessa vez encarando seus lábios com inquietação e pensando se tudo aquilo valia a pena para o professor tanto quanto eu estava sentindo que valia para mim.

Ele entreabriu a boca e pareceu realmente ponderar. O estalo do fogo quebrava o silêncio entre nós dois de uma forma atraente. Agora, minhas dores de cabeça haviam se amenizado, mas no momento em que a mão do Sr. McWillians tocou meu joelho gentilmente, as dores sumiram completamente. Uma sensação doce e assustadora percorreu meu corpo. Ele aproximou o corpo e o rosto, mas pareceu hesitar por um momento, foi quando o olhei febril e firme. Relaxei minhas coxas no chão, caindo um pouco para o lado e fiquei ainda menor do que o professor, seus olhos brilhavam em minha direção e me mostravam o quanto ele falecia de desejo. Nossos rostos lentamente ansiavam por um encontro e se aproximavam, estávamos em êxtase um pelo outro. Nossas bocas adiaram o encontro quando nossas bochechas se tocaram. Senti um choque imediato e quente. Sua barba arranhava minha pele e seu rosto emitia um calor confortável no qual me deleitei por um tempo. Eu arfei sentindo o desejo intenso do meu coração e não entendi mais por que o adiamento.

Assustei-me com seu toque repentino em minha orelha, a fim de afastar os cabelos do meu ouvido. Esperei por sua voz grossa e gentil que veio arrebatando meus mais profundos sentimentos:

-Vale muito a pena queimar-me por você...

Com o som poético e abrasador vindo de seus lábios, os mesmos ansiosos e macios, roçaram minha bochecha me fazendo suspirar e finalmente eles encontraram minha boca ávida e pequena. Então, suavemente seus lábios foram tocando os meus e aquele beijo, que se tornou profundo, me fez esquecer de tudo. Seus lábios grandes dançavam com os meus como as labaredas do fogo e quase sentíamos nossas bocas queimarem. Tinha um gosto quente. O toque de sua mão em meu joelho se apertou e sua outra mão segurou meu pescoço com cuidado, fazendo carícias com o polegar. O fogo ainda crepitava em nosso ritmo e meu coração se perguntava como aquilo era possível, como aquelas sensações eram possíveis? Se isso tudo é apenas um desejo adolescente e simples, por que não me sinto culpada? Por que sinto que isso não tem nada a ver com minha idade ou com o quão perigoso poderia ser? Só tinha a ver com o que eu sabia e sentia sobre Dener. Tem a ver com a primeira pessoa que me consolou quando minha mãe morreu e com a pessoa que escreveu pequenas observações sobre mim nas primeiras folhas dos livros que lia. Tem a ver com os olhares trocados e as preocupações silenciosas durante todo um ano.

Dener soltou os óculos no chão e logo percebi que ele também ficava encantador sem eles. Ele segurou meu rosto com as duas mãos encerrando o beijo com um mordisco suave no meu lábio inferior, depositando em seguida um selinho gentil, precisamente no mesmo lugar que mordeu. Ele colocou seus óculos de volta e acariciou meu cabelo duas vezes, parando sua mão em meu rosto, o segurando-o com todo o cuidado que podia ter. Naquele momento, meus olhos brilhavam em sua direção e eu me sentia amada por ele, me sentia correspondida e amada de uma forma completa, não só isso, de uma forma transbordante. Eu me perguntei o que Dener diria se eu dissesse o que estava pensando? Me perguntei o que ele diria se eu dissesse que o amava?

Repentinamente, fui tomada por um sono arrebatador, o carinho com que ele segurava meu rosto, contribuiu exponencialmente. Me desvencilhei de sua mão e engatinhei lentamente com as mãos no chão em sua direção. Ele parecia assutado com o avanço inesperado. Meu corpo estava pesado e eu queria lhe dizer algo antes de desabar por sono. Toquei seu rosto quando estávamos próximos novamente.

-Acho... - minha voz saiu sonolenta - que estamos encrencados professor McWillians.

Olhei uma última vez em seus olhos, sorrindo, antes de lentamente e com dificuldade, deitar minha cabeça em seu colo. Ainda escutei a risada aberta do professor com minha declaração e sua mão gentil acariciando meus cabelos curtos, logo após, apaguei.

Finalmente tínhamos confirmado algo que sempre deixávamos implícito em nossos encontros. Não queríamos falar sobre isso e achávamos que não era necessário porque nunca quebraríamos as regras dessa forma, mas lá estávamos nós, confirmando nossos sentimentos. Lá estava eu, deitada no colo do meu professor de literatura e eu sabia que as coisas mudariam dali em diante, com certeza isso me assustava, mas o que mais me assustava eram os sentimentos estranhos e fortes que eu tinha e saber que os sentimentos de Dener o assustavam também, me deixou menos apreensiva e mais confiante de que possamos vir a entender juntos o que sentimos um pelo outro.

 Lá estava eu, deitada no colo do meu professor de literatura e eu sabia que as coisas mudariam dali em diante, com certeza isso me assustava, mas o que mais me assustava eram os sentimentos estranhos e fortes que eu tinha e saber que os sentiment...

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Achei que essa música combinava com a cena. 😃 Espero que tenham gostado. ♥️🥺 Deixem a estrela e comentem o que acharam desses dois. 😁🥰

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