Capítulo XXIV

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Estava à meia hora encarando um café macchiatto que eu havia pedido naquela simples cafeteria no centro da cidade. Eu sabia que aquilo não melhoraria a minha enxaqueca, pelo contrário, eu estava começando a ficar enjoada também e isso nunca era um bom sinal. Mas eu precisava de algo para me aquecer, e ainda assim, não tinha coragem para levantar minha mão e levar a xícara até a boca. Suspirei. Pensei. Não havia solução. Eu estava perdida e indecisa, para aonde iria? Tudo que eu poderia fazer agora é tentar me afastar o máximo possível de todos esses pensamentos e de todas essas pessoas conhecidas, eu só quero esquecer tudo por uns minutos. Tinha minha resposta. Levantei-me pagando-o e deixando o café para trás. Eu sabia onde poderia parar de pensar em tudo aquilo.

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Cheguei a biblioteca do centro da cidade e entrei sem prestar atenção em quem recepcionava, eu só precisava estar entre os livros, eu precisava daquilo. Pensar sobre autores, ideias literárias, histórias e mundos que não são o meu. Eu precisava estar junto aquilo antes que eu enlouquecesse. Aquelas estantes altas, bem mais altas que as do colégio, me envolveram como em um abraço. Minha mão passeou naquelas fileiras de livros muito bem encaixados e parou nas costas de cor azul e letras douradas, Júlio Verne, puxei-o devagar e senti o peso de suas páginas douradas e letras delicadas. Cinco semanas em um balão. Uma travessia do continente africano desde a costa oriental à costa ocidental em um balão de hidrogênio. Li inúmeras vezes e viajei com o Dr. Samuel Fergusson em todas as vezes. Sorri voltando a ler algumas partes interessantes e sentei-me ali mesmo, no chão da biblioteca, me levantava apenas para procurar outro livro a fim de relembrar algumas leituras.

No chão frio daquela biblioteca, eu estava absorta relembrando uma cena de luta do livro Zorro de Isabel Allende, não havia escutado quando era chamada já fazia alguns minutos.

-Com licença? Jovem? - uma voz meio familiar meio avulsa me despertou.

-Sim!

Olhei para frente e depois para o lado onde se encontrava uma senhora que aparentava ter uns 50 anos. Ela tinha cabelos cor de mel com alguns fios brancos e sorria de modo singelo para mim. Levantei-me e coloquei o livro que lia exatamente no lugar, logo após, me aproximei da mulher.

-Eu estava observando você há um tempo. - ela começou - por acaso se chama Emily Dan-i? - ela perguntou.

-Sim, como sabe? - indaguei surpresa.

-Bem, você parece com a Emily que minha irmã recomendou. - ela suspirou - é bonita como na foto e está usando o uniforme do colégio em que Ana trabalha.

-Ana? - recordei-me por um segundo - ah! Está falando da Sra. Mary? - perguntei animada.

-Sim, sou sua irmã mais velha, Alicia Mary, prazer. - ela disse cordial.

-Sou Emily Dan-i e o prazer é meu. - sorri.

Começamos a andar juntas em direção ao balcão.

-Então, a Ana fez muitos elogios a você e vendo-a como uma leitora bem assídua, me pergunto se não gostaria de começar agora mesmo? - ela sorriu meio envergonhada com o pedido.

Nos recostamos no balcão casualmente.

-Agora? - perguntei incrédula.

-Sim. A observei desde que entrou e estou vendo que veio aqui não para trabalhar, mas para fugir de alguma coisa. - ela sorriu como se já soubesse de tudo e tocou meu braço amigavelmente. - reparei também que ainda estamos em horário escolar, então não vou começar a fazer perguntas eu preciso de uma ajuda e você precisa colocar a cabeça no lugar. O que acha? - ofereceu-me.

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now