Capítulo XXVII

128 23 34
                                    

Acordei cedo e preparei o café da manhã antes que Dave colocasse fogo na cozinha por mim. Como será que ele sobreviveu com aquela comida horrível? Sentei-me a mesa ao mesmo tempo que ele apareceu na cozinha terminando de colocar sua gravata. Ele levantou os olhos para a mesa e se surpreendeu ao vê-la. Um sentimento de nostalgia invadiu seu rosto e seus olhos marejaram levemente me assustando de imediato.

-O que houve Dave!? - perguntei tentando identificar o problema.

-Não... É... - ele passou a manga da farda nos olhos e fungou se aproximando da mesa - não é nada, Emily. - sentou-se e me encarou - é só que eu não vejo uma mesa assim desde que meus pais morreram.

-Bem, está vendo agora, aproveite. - lhe lancei um sorriso consolador.

Ele sorriu levemente, fungou mais uma vez e colocou os braços sobre a mesa. Os irmãos McWillians tem a terrível tendência de parecerem crianças, tanto em ações como em palavras.

-Sabe garota, outras pessoas diriam sinto muito. - seu sorriso se torna brincalhão e estampa seu rosto.

-Eu não sou outras garotas Dave. - tomo um gole de café

-Eu sei, por isso está aqui. - ele diz mais animado.

Terminamos nosso café da manhã e entramos no carro para ir ao colégio. Dave olhava inquieto para o som e tamborilava os dedos na calça como se quisesse colocar uma música e estivesse em dúvida se eu concordaria.

-Você pode colocar uma música se quiser. - falei soltando um riso.

-Tudo bem mesmo? E a enxaqueca? - ele perguntou preocupado.

-Não se preocupe. Estou bem. - assegurei.

-Okay, então.

Ele rapidamente ligou o som e Rock Of Ages de Def Leppard começou a tocar. Não fiquei impressionada por ele gostar desse tipo de música, mas, com certeza, ele ficará quando souber que eu também gosto.

-What do you want, what do you want? - murmurei enquanto a música seguia.

-Conhece essa banda? - ele perguntou franzindo o cenho.

-Sim, um pouco. Só porque você é o "badboy" - fiz aspas com os dedos - não quer dizer que outras pessoas não conheçam esse tipo de música também. - falei convencida.

-Tudo bem espertinha, vamos ver se você me acompanha. - ele lançou um sorriso malicioso e começou a cantar alto: - Rock of ages, rock of ages still rollin, keep a-rollin Rock of ages, rock of ages still rollin, rock a-rollin... - depois gargalhou.

Ri com ele e me retrair um pouco, mas depois comecei a cantar sem me importar:

-Im burnin, burnin, i got the fever i know for sure, there aint no cure...

-So feel it, dont fight it, go with the flow... - ele completou.

Depois viramos um para o outro e terminamos juntos:

-Gimme, gimme, gimme, gimme one more for the road! - sua voz se sobressaía um pouco a minha por ser mais alta e grossa, nada delicada, mas de certa forma, atraente.

Sorrimos um para o outro e rimos compulsivamente. Então, me lembrei do momento em que o professor ditou a poesia de Cecilia Meireles comigo. Lembrei-me dos pequenos toques e sensações que aquele momento me proporcionou. Eu não tive as mesmas sensações dessa vez, mas cantar uma música com Dave foi divertido, como se eu não tivesse passado por tudo que passei até agora. Como se fossemos só dois adolescentes indo para o colégio.

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now