Capítulo VII

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Me aproximei um tanto hesitante e envergonhada.

-Professor... - chamei-o com cautela.

Ele levantou os olhos para mim e pareceu confuso no primeiro momento, mas logo a confusão passou.

-Srta. Dan-i... - voltou sua atenção ao livro - O que faz na rua a essa hora? - ele perguntou.

-Apenas, caminhando... - falei apertando as mãos uma na outra.

-Ainda assim, está muito tarde para isso. - ele responde sem me olhar.

-O que faz perto da minha rua, Professor? - não resisti aquela pergunta.

Ele parou o movimento que fazia para passar as páginas do livro e levantou os olhos para mim novamente.

-Acha que estou aqui porque é perto da sua rua? - Indagou friamente e seu tom foi de um modo provocativo e acusador, o que me fez ficar arrepiada.

-Não, não! Não foi isso que eu quis dizer... - olhei para o chão envergonhada e nervosa.

-Dan-i... - ele me chamou.

-Sim? - levantei os olhos para ele.

O Professor deu dois tapinhas na parte vazia do banco ao seu lado, indicando que eu me sentasse. Fui até ele um pouco tensa e me sentei há uma distância segura.

-Parece incomodada com alguma coisa e isso não é comum em você. - ele disse, novamente voltando sua atenção para o livro.

Me perguntei como o professor McWillians sabia que não era comum eu deixar expresso meus incômodos. Comecei a observar que ele ainda usava a roupa que fora ao jogo do irmão há algumas horas, entretanto, ele também usava um sobretudo comprido e marrom, parece que não terei nenhuma chance de vê-lo em roupas normais. Divaguei um pouco pensando na resposta que eu poderia dar a sua afirmação.

-O senhor, sendo um exímio leitor, entenderá minha metáfora... - mordi um pouco o lábio inferior e me encostei no banco, olhando para o céu. Estava tão escuro aquela noite. - sabe, sempre tem aqueles livros que lemos mais de uma vez na vida, apesar das frases nunca mudarem, mas, de repente, quando relemos nos deparamos com algum conceito ou alguma frase nunca vista ou entendida de uma maneira diferente antes... recententemente, aconteceu isso com dois dos meus livros favoritos e eu não sei o que fazer quanto a mensagem que eles passam agora. - retornei meu olhar para o Professor e ele me encarava atentamente, enrubesci e olhei para as minhas mãos que estavam entre as pernas.

-Me fale um pouco da personalidade desses livros. - ele pediu. Claro que ele sabia que não eram livros e sim, pessoas.

-Hum... - pensei um pouco - um é bastante carismático e divertido, sempre o leio quando me sinto triste porque é um bom amigo que sabe dizer a coisa certa para me consolar, é um livro especial. - dei um pequeno sorriso. - o outro... - maneei a cabeça - eu não costumava o ler tanto, mas agora o tenho pegado frequentemente, apesar de ser um livro com uma capa dura, tem um conteúdo interessante nele e recentemente, suas frases se tornaram bem mais complexas ou talvez eu só não tenha certeza do que ele quer me dizer. - olhei para os lábios do Professor, espontaneamente - eu sei que ele quer me dizer algo, mas eu ainda não sei o que é... o primeiro livro foi bem direto na mensagem que queria me mostrar, suas novas frases... não sei como lidar com elas. - suspirei e voltei a olhar para minhas mãos. - com nenhum dos dois. - murmurei baixinho.

-As vezes os leitores precisam de um tempo. Se você não consegue interpretar as novas frases que passou a ver, apenas deixe o livro de lado por um tempo e leia outros, quando você se sentir preparada volte a lê-lo e vai saber o que fazer. - ele falou com firmeza me fazendo encará-lo novamente. - talvez, algo na leitora tenha mudado e não só nos livros.

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now