t r i n t a • e • s e t e

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•Lara•

    Enquanto o sol se põe, observo meu irmão e seus amigos conversando e rindo ao longe. Não me lembro de, durante os 17 anos que passei ao seu lado, ver ele olhar para alguém como olha para Mel. Um olhar como se não precisasse de mais nada, e pudesse enfrentar tudo desde que ela estivesse ao seu lado. Solto um riso ao imaginar a sua careta se um dia viesse a dizer essas palavras para ele. Lucas sempre foi meio ogro quando se tratava de sentimentos e amor, me zoava toda vez que eu gastava de minhas economias para comprar novos livros de romance, e ria ainda mais quando eu o avisava que um dia, alguém ia amolecer aquele coração de gelo. Quando faço menção de levantar da cadeira e ir até ele, vejo Bruna agarrar meu braço, me puxando para baixo novamente.

    —Aonde pensa que vai?—pergunta com sua usual expressão esnobe.

    —Eu...—começo a me explicar, porém sou cortada com um aceno da mesma.

    —Deixa para lá. Não é como se eu realmente me importasse—diz ela, novamente sem nem notar o quanto suas palavras machucavam todos as suas voltas, e vivendo como se ela fosse o único ser humano que realmente importasse. Antes que eu possa dizer algo, ela continua—Preciso fazer algo. Logo estou de volta—diz rápido logo depois de olhar em direção ao meu irmão, que no momento se afastava de seu grupo e seguia em direção à trilha que leva ao hotel.

    —Espera...—começo, mas a mesma já estava fora do meu alcance.

    Paro para pensar em sua súbita saída observando-a se afastar murmurando incontáveis xingamentos com seu olhar fixado Melissa. Com uma vaga ideia do que poderia estar por vir, me remexo desconfortável, perguntando-me se devo ou não interferir.

    Vinte minutos se passam, e nada de qualquer um dos dois aparecer. Finalmente decido ir atrás, torcendo para estar errada sobre tudo o que pensei. Começo a andar em passos rápidos em direção à trilha, mas logo sinto uma mão em meu braço me impedindo de continuar.

    —Ei. O que houve?—Bea pergunta, me encarando preocupada.

    —Acho que Bruna possa estar fazendo alguma besteira—digo preocupada e Bea revira os olhos.

    —Eu não acredito que você ainda se preocupa com aquela cobra,
mesmo depois de tudo que ela fez—fala ela fazendo menção de ir embora, mas dessa vez eu que seguro seu braço.

    —Eu não estou preocupada com ela, e sim com o meu irmão—digo, fazendo-a parar e prestar atenção em mim—Logo depois que Lucas saiu Bruna foi atrás, agindo muito estranha, e você sabe como ela se sente em relação ao Lucas, como se ele fosse sua propriedade—explico e Bea segue meu raciocínio, logo me puxando para a trilha novamente. Avançamos por ela rapidamente e quando estamos no final, bato em um peitoral forte. Quando noto de quem se trata, abro minha boca para falar algo, mas ele é mais rápido.

    —Eu to vendo coisas ou vocês duas estão juntas?—Lucas diz com os olhos arregalados apontando para mim e Bea.

    —Não temos tempo para isso agora—é Bea quem fala—Onde estava? Por que demorou tanto?

    —Eu só fui pegar comida—diz estranhando a atitude da morena—demorei pois Bruna me parou no caminho, fazendo um longo discurso de como estava arrependida por tudo, e que já tinha me superado. Foi longo e estranho se querem saber, mas é a Bruna afinal. Não tem como ser normal. E não é como se eu tivesse acreditado em uma única palavra que saiu da boca dela, não depois da última vez—diz dando e ombros e fazendo menção de voltar a trilha, mas o empeço mais uma vez.

    —Então ela não fez nada de mais? Apenas se desculpou?—pergunto estranhando.

—Por incrível que pareça—diz ele—Agora licença que vou voltar para a água antes que o sol se vá de vez—avisa e sai correndo.

Antes de qualquer coisa, olho para Bea que me encara de volta. Como se conversássemos apenas com o olhar, começamos a correr ao mesmo tempo a procura de Bruna.

Finalmente a encontramos no corredor dos dormitórios, saindo de fininho do quarto de Henri e Lucas, com cara de paisagem.

—Bruna!—Bea grita séria, fazendo a loira pular de susto, mas logo sua expressão se torna de desprezo.

—Ah. É você—diz olhando para a morena cacheada, mas logo seu olhar se volta para mim—Vem Lara. Não vou gastar meu tempo com essa aí—no momento que as palavras saem de sua boca, não aguento e solto uma risada. Quando ela vai diminuindo, respiro fundo, tomando coragem para fazer o que vinha querendo a muito tempo, e quando Bea pega minha mão, foi como o apoio que precisava para isso.

—Não—falo firme, olhando para ela sem abaixar a cabeça. Não mais. Nunca mais—E você também não vai a lugar nenhum sua puta—digo, fazendo-a arregalar os olhos—O que você estava fazendo no quarto do meu irmão?

—O que deu em você menina?—diz ela, andando em minha direção—Cheirou foi?—quando ela estica a mão para me puxar, Bea entra na frente, impedindo-a.

—Você não respondeu minha pergunta—insisto—Porque estava no quarto do meu irmão?—falo, e logo quando termino vejo Melissa e Lucas vindo pelo corredor atrás de Bruna, e disfarçadamente faço sinal para ficarem em silêncio. Bruna, que ainda não sabia da presença do casal, continuava com sua expressão de superioridade.

—Eu plantei um sutiã no quarto deles e enrolei Lucas enquanto o mesmo veio pegar comida, a fim de ter uma história plausível já que ninguém viu ele por um tempo. Mas não adianta o que vocês falem, pois vai ser apenas suas palavras contra provas concretas. Melissa vai largá-lo, e eu vou ter o meu namorado de novo—diz convencida, mas antes que alguém fale alguma coisa, Mel bate palma.

—Falando assim até parece que você tem mais de um neurônio!—a morena diz debochada e o sorriso de Bruna murcha enquanto vira para encará-la—de verdade Bru, eu tenho pena de você. Se rebaixar ao ponto de querer acabar com a felicidade dos outros, apenas para se sentir melhor sobre a inexistência da sua—Bruna fica vermelha de raiva—De verdade, acho que você merece coisa melhor—Mel continua—Aprenda a se amar antes de amar outros, principalmente se for desse jeito possessivo seu. Isso não vai fazer bem algum em sua vida.

Antes que a loira tenha a chance de revidar, Bea, que até então eu não havia percebido que havia saído, aparece com dois seguranças que vão em direção à Bruna para escortá-la para fora da reserva, por arrombamento de propriedade privada. Enquanto a mesma é levada para fora a força, gritando todos os xingamentos possíveis, Bea chama a atenção de todos.

—Ela também perdeu a vaga no colégio, já que a diretora não admite alunos com ficha suja—ela diz, e logo abre um sorriso, passando um braço pelo meu ombro—Já vai tarde.

—Gente—Mel chama depois de um tempo—Vamos comer?—pergunta, ganhando risada de todos—O que agora?—diz impaciente, mas com um sorriso no rosto—Não pode mais ter fome?

—Você fala como se não tivesse comido um pacote inteiro de salgadinhos a menos de cinco minutos—Lucas diz cutucando sua barriga zoando-a, falando que havia um buraco negro ali dentro. Enquanto ríamos da cara fechada de Mel, vamos em direção ao restaurante do hotel, conversando e rindo de tudo o que se pode imaginar.

Colegas de Quarto ✔️Where stories live. Discover now