v i n t e • e • o i t o

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    Os dias se passaram normais durante a semana, com as aulas indo tranquilas pela manhã, minhas tardes com Tina e Bea, e as noites com Lucas.

    Nós estávamos indo bem, ainda que sem rótulo. Ele alegou que Henrique havia descoberto, mas prometeu não falar nada até decidirmos o que faríamos.

    Mesmo lutando para manter a razão além da emoção, tudo evaporava quando um certo moreno de olhos mel estava por perto. E por mais que os sentimentos brotando em meu peito me assustassem, estava começando a me achar disposta a me arriscar. Já havia ultrapassado muitas barreiras desde a noite em que dormirmos (literalmente) juntos, então o que é um peido para quem já está cagado?

    No momento, estávamos na nossa última aula de quinta, onde Sr. Sanches nos explicava mais uma vez os detalhes da tal viagem da semana que vem, onde iríamos para uma reserva de uma ONG passar a semana. Todos pareciam muito animados, dizendo que não viam a hora de ir, alguns comentando das cachoeiras e cascatas naturais, e outros da grande fogueira que sempre acendiam.

Quando o sinal finalmente toca, todos nós levantamos e fomos em direção ao refeitório. Estava andando pelo corredor quando sinto minha camisa ser puxada e minhas costas baterem contra metal frio dos armários. Uma cabeleira loira aparece na minha frente, e logo reconheço Bruna com seus quinze centímetros a mais que eu e um olhar assassino no rosto. Ela chega mais perto, segurando meu braço, e abaixa o rosto para me encarar.

    —Eu te avisei mais de uma vez para ficar longe dele, e você foi lá e fez o que? Exatamente o que eu mandei você não fazer—sussurra entredentes, me apertando cada vez mais.

    —Você sabia que sua amiguinha Thaís que me fez dividir quarto com ele?—digo, ignorando a dor latejante de suas unhas em minha pele. Ela apenas me joga mais uma vez contra o armário, e aponta um dedo para meu rosto.

    —Você pode ir parando com esse deboche. Larga o escudinho e vira mulher—ela fala. Rapidamente nos viro, me soltando de seus braços e deixando-a com as costas no armário dessa vez. Fico na ponta do pé para igualar nossa altura.

    —Eu acho que a única que não está sendo mulher aqui é você, que não consegue segurar um homem e tem que ficar me ameaçando com medo de perder o lugar—sussurro—Ah, pera. Acabei de me lembrar que você nunca teve um—sorrio para ela e sigo meu caminho para o refeitório.

    —Meu deus Mel!—Tina diz preocupada ao me ver—Está tudo bem? O que aconteceu?!—pergunta levantando.

    Olho para ela confusa, mas sigo seu olhar para o meu braço, apenas para ver sangue escorrendo da onde as unhas de Bruna me apertaram. Começando a sentir a dor conforme a adrenalina abaixava, pego um guardanapo e sento na mesa.

    —Não é nada de mais, já já para—tento acalmá-los, porém seus rostos preocupados prevalecem—Ai, tá legal! Eu passo na enfermaria antes da próxima aula ok?—pergunto e meus amigos relaxam um pouco mais. Bom, pelo menos a maioria. Quando olho para Lucas, percebo claramente seu maxilar travado e ombros tensos, indicando o quão nervoso estava. Já sabia ler ele bem o bastante para saber quando algo o estava incomodando. Ele logo se levanta sem dizer mais nada e sai da cantina a passos largos.

***

    —Já começou a arrumar as coisas para a viagem da escola?—Tina me pergunta enquanto saíamos da enfermaria.

    —Não. Quando chegar o dia eu jogo algumas coisas—respondo dando de ombros.

    —Eu já comecei a arrumar a minha. A formatura do meu irmão é amanhã a noite, e como ele mora na cidade aqui do lado, vou passar o fim de semana com ele.

    —Verdade né. Você já tinha mencionado isso antes.

    —Sim. Bom, vou para o meu quarto terminar minhas coisas. Te encontro às cinco para irmos para a academia?—Tina para se virando para mim.

    —Sim! Horário de sempre—a respondo, seguindo meu corredor, enquanto ela segue o dela.

***

    A tarde se passa tediosa. Maratonei uma série qualquer para fazer hora, e Lucas não apareceu em nenhum momento. Quando finalmente ouço uma batida em minha porta, me levanto num pulo e a abro a mesma, avistando Tina à minha frente.

    —Deixa só eu pegar minha garrafa—digo a deixando na porta.

    —Cadê Lucas?—pergunta quando vê o quarto vazio.

    —Não sei. Não vi ele durante o final da tarde toda. Deve estar com Henri.

    —Não amiga. Henri ficou comigo a tarde toda me ajudando com a mala—Ela conta com as sombrancelhas juntas—Mas a gente deve encontrá-lo na academia, vem!—ela diz me puxando, e sigo seus passos, mas com um sentimento ruim instalado em meu peito.

Colegas de Quarto ✔️Where stories live. Discover now