Capítulo 4 - Violet

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Não consegui dormir direito naquela noite. Passei a madrugada inteira remoendo os acontecimentos daquelas últimas horas, completamente atormentada. Eu não entendia como Ethan tinha conseguido se infiltrar mais uma vez em minha vida. Apesar de ele ter me explicado que tinha entrado no lugar do antigo motorista, era coincidência demais que logo ele tenha sido o escolhido.

Como eu poderia conviver normalmente com ele, depois de tudo o que passamos? Depois de ele ter partido o meu coração em um milhão de pedacinhos, quando me mandou embora daquela forma tão inesperada...

Desde que Ethan apareceu na minha vida, não tive sequer um segundo de paz, e cada dia que passava era uma constante provação. Quando voltei, tive que lutar contra os olhares hostis dos meus pais, a revolta deles por eu ter estragado um negócio tão importante, além de toda impressa me atormentado com suas mentiras, por acharem que sumi, fugindo do casamento. Foi difícil ter que lidar com isso, principalmente por não ter Thomas ao meu lado no início, já que ele ainda estava magoado comigo. Mas, mesmo com todos contra mim, nada se comparava a dor que dominava meu coração por estar longe de Ethan.

Esquecê-lo — ou, pelo menos, tentar — foi a coisa mais difícil que eu já precisei fazer na vida. Mas eu estava conseguindo. Até ontem, quando ele voltou e virou meu mundo de cabeça para baixo novamente. Porém, eu não podia permitir que ele chegasse e bagunçasse tudo dessa forma. Tinha que lutar até esgotar as minhas forças, afastá-lo daqui e mandá-lo embora para o lugar de onde ele nunca deveria ter saído.

Se Ethan achava que me conhecia, ele estava muito enganado. Eu não era mais aquela garota frágil e boba de outrora. Sua rejeição me transformou, e não tenho certeza se foi para pior ou para melhor.

Desci as escadas e me dirigi diretamente para a sala de jantar, onde sabia que meus pais me esperavam.

Queria falar com papai sobre Ethan; colocar um ponto final em todo esse absurdo que as últimas vinte e quatro horas se transformaram. Iria convencê-lo a demiti-lo, e, por mais que soubesse que não seria uma tarefa tão fácil, não iria desistir. Sabia que papai me questionaria, por isso já estava preparando algumas desculpas para justificar o pedido de demissão.

Quando entrei na sala de jantar, encontrei-os já sentados à mesa, em seus típicos lugares — meu pai, como sempre, na cabeceira, e minha mãe, na primeira cadeira ao lado direito dele.

Dirigi-me ao meu lugar, em frente a ela, e me sentei.

— Bom dia — cumprimentei-os educadamente.

Papai, que lia seu jornal, sequer desviou o olhar para minha direção, mas deu seu breve bom dia. Mamãe fez o mesmo, porém de forma animada, já despejando todo seu contentamento pelo fato de eu "ter dado uma chance a Thomas ontem". Nem fiz questão de explicar; seria perda de tempo, afinal.

Servi-me com as diversas iguarias ali oferecidas e comecei a tomar meu café da manhã. Mamãe continuava tagarelando sem parar, dessa vez falando sobre o quanto estava ansiosa para fazer compras com suas amigas à tarde. Enquanto isso, papai continuava com sua carranca habitual, mas não nos dava atenção. Quando finalmente o silêncio se fez presente, aproveitei a oportunidade para colocar meu plano em prática.

— Papai, será que o senhor tem um tempo para conversarmos, após terminarmos de comer?

— Não. Tenho uma reunião — foi incisivo, levando sua xícara de café aos lábios.

— E à noite?

— Vou trabalhar até tarde. Não tenho tempo essa semana.

Bufei, irritada, e só então ele desviou os olhos do seu precioso jornal, com certeza para repreender minha "birra". Procurei disfarçar, tentando evitar o sermão que viria a seguir, mas fui salva por Mary, que entrou na sala carregando uma bandeja.

Libertada (Duologia Raptada #2)On viuen les histories. Descobreix ara