Capítulo 26 - Violet

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Parece que, nos últimos dias, minha vida tinha sido devastada por um tsunami. Eu não sabia como as coisas haviam chegado a esse ponto e, tampouco, qual a melhor maneira para se administrar tudo isso.

Por mais que o meu desejo fosse continuar trancada no quarto — que havia se tornado o meu refúgio nesses momentos de sufoco —, obriguei-me a levantar e seguir em frente com minha vida. Não podia me entregar à tristeza que me assolava, mesmo sentindo uma dor tão intensa em meu peito, que chegava a me faltar as forças. Ethan traiu a confiança que o dediquei, independentemente de ter beijado aquela garota ou não.

Nunca escondi nada dele e esperava, no mínimo, que ele fosse sincero comigo e confiasse em mim, o que não aconteceu. A situação piorava ainda mais depois das insinuações maldosas que Thomas fez. Mesmo que eu não tenha acreditado nessas acusações no começo, não conseguia simplesmente ignorar tudo o que vi, de modo que as desconfianças em relação a ele eram inevitáveis. Thomas agiu com crueldade, envenenando-me contra Ethan, mas não foi ele quem o obrigou a ir até aquela mulher. Ethan foi por vontade própria, quanto a isso não tinha o que se questionar. Eu vi com meus próprios olhos.

Eu já não sabia se podia continuar confiando nele. Precisei relevar muita coisa em função do sentimento que nutríamos, ignorando todo o seu histórico. Achava que, com o tempo, ele acabaria deixando de lado o ódio que sentia por meu pai e, por mim, desistiria da vingança. Contudo, pelo o visto, isso jamais aconteceria. Ethan estava cego, dominado pelo rancor. Não havia nada que eu fizesse, que o demovesse da ideia de destruir a vida de Robert, e eu não poderia conviver com isso. Meu pai podia ter errado, mas todo mundo merece uma segunda chance, não é?

Tanto, que dei uma a Ethan.

Passei o dia perambulando pela casa, apenas me limitando a existir. As pessoas falavam comigo inutilmente, já que eu não as entendia, nem sequer me esforçava para escutá-las, presa em meu próprio mundo. Procurei me dedicar a ajudar nos cuidados com o meu pai, a fim de me distrair, só que nem isso foi suficiente. Papai passava grande parte do dia dormindo, de modo que não exigia grandes feitos. Além disso, o enfermeiro dele não saia de seu lado, o que só me deixava a tarefa de observá-lo e me perder em pensamentos nocivos.

O único momento que senti meu coração relaxar um pouco foi quando ele conseguiu se levantar para ir até o banheiro, utilizando apenas a ajuda do enfermeiro para andar. Sua primeira grande conquista desde que tinha vindo para casa. Apesar disso, eu já não aguentava mais ficar presa ali dentro, queria correr, quebrar alguma coisa, extravasar a tristeza e raiva que sentia, todavia, não podia. Sabia que no momento que colocasse um pé para fora da mansão, Ethan tentaria me obrigar a conversar com ele e eu não estava preparada para isso. Tudo era muito recente e eu queria mais tempo para pensar direito e tomar a decisão acertada, quando o momento de nos enfrentarmos chegasse.

Talvez, a noção de que não deveria confiar totalmente em Ethan tenha me abatido na hora certa.

Evitei o máximo possível entrar na cozinha, sabendo que no segundo que Mary colocasse os olhos em mim, saberia que algo não estava bem comigo. Só que não consegui fugir o dia todo e, como eu já desconfiava, enquanto jantava com os meus pais à noite, ela me lançou um olhar astuto, sem precisar falar nada para que eu entendesse que estava preocupada comigo. Enquanto ela recolhia os pratos, aproveitei a oportunidade e corri para o meu quarto, trancando a porta com a chave, para não correr o risco de ter que desabafar com ela. Eu sabia que seria bom dividir com alguém o que estava sentindo, só não era o momento certo. Provavelmente, depois, eu mesma a procuraria para conversar.

Thomas, infelizmente, não desistia de me atormentar e, vez ou outra, me mandava uma mensagem, perguntando como tinha sido ontem à noite. Claramente, queria debochar da situação, ao mesmo tempo em que tentava descobrir como iam os seus planos. Ele continuou tentando me envenenar contra Ethan, insinuando que eu estava sendo traída e que ele queria destruir a minha família e, se eu não o mandasse embora, acabaria me tornando cúmplice. Eu queria acreditar que ele estava errado, no entanto, uma vozinha dentro de mim gritava que, nesse sentido, ele tinha razão. Ao permitir que Ethan continuasse ali, eu estava permitindo que, a qualquer momento, ele atingisse o meu pai de alguma forma.

Libertada (Duologia Raptada #2)Where stories live. Discover now