Bem-vinda ao paraíso

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Angela a narrar

Fiquei a olhá-lo, vendo-o numa luta interior entre tirar-me e não me tirar a máscara, mas bastou um toque meu para ele se decidir, embora o fizesse com hesitação.

- Justin. – Chamei, ficando ligeiramente surpreendida quando a voz me saiu tão baixinha. Suspirei quando ele me olhou, deixando a minha mão na dele. – Não tens que ficar... - Repeti.

Claro que eu queria que ele ficasse comigo, quer dizer, estava à beira de morrer, queria que ele me desse a mão, mas não a este custo, não queria levar esta imagem comigo, a imagem de tê-lo visto a chorar durante horas a fio e a única vez que o vi e fiz realmente feliz foi quando fez amor comigo.

Ele fungou, pela milésima vez hoje, o nariz, lambendo os lábios e abanando a cabeça teimosamente, como uma completa criança.

- Não... Eu fico... - Murmurou baixinho, entrelaçando os dedos nos meus, mesmo que eu já quase não conseguisse senti-lo, e embalando-me. Só não sabia se era para me acalmar a mim ou para se confortar a ele próprio. Eu ia voltar a falar, mas ele foi mais rápido do que eu. – Não digas nada... - Sussurrou, olhando o pôr-do-sol, que parecia nunca mais acabar.

Voltei a fechar a boca, respirando fundo e aninhando-me nele, sem nunca lhe largar a mão, também observando o pôr-do-sol, simplesmente à espera que a dor no meu peito e no meu corpo fosse demasiada para suportar, a ponto de eu pedir a Deus que me levasse de uma vez.

Respirei fundo mais uma vez, sentindo um cheiro salgado e intenso que fez com que os meus pulmões ardessem ainda mais, mas não me importei, pois esta dor era uma dor boa, uma dor que me indicava que estaria prestes a morrer onde sempre sonhei: numa praia, à beira-mar, a ver um lindo pôr-do-sol.

- Então é assim que cheira o mar... - Sussurrei, com um grande esforço, respirando fundo mais uma vez antes de virar a cabeça para ver as pequenas ondas esmorecerem na areia, mesmo ao pé de nós.

Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, uma gargalhada triste e entorpecida pelas lágrimas fugiu dos lábios cheios do rapaz que me segurava com unhas e dentes, como se tivesse medo que, se me largasse, eu iria desaparecer de vez.

- Sim, é o que chamamos de maresia... - Murmurou baixinho, apertando-me mais contra ele quando começou a fazer frio e o vento começou a aumentar.

Esbocei um sorriso débil e cansado, fechando os olhos e respirando fundo novamente; desta vez, foi como se alguma coisa dentro de mim se rasgasse, tamanha foi a pontada que surgiu no meu peito e me percorreu essa zona até às costas, fazendo-me arquejar dolorosamente.

Podia sentir os meus pulmões encherem-se com sangue e sabia o que ia acontecer a seguir, pelo que, quase por puro instinto, rodei sobre mim mesma e cuspi, a custo, tudo o que subiu à garganta, conseguindo sentir a mão livre do Justin a passar para cima e para baixo, avidamente, nas minhas costas.

- Sai daqui... - Ordenei, numa voz quase sufocada, o que, apesar de tudo o que estava a acontecer no momento, me fez repreender a minha pessoa mentalmente.

Pude vê-lo, pelo canto do olho, a abanar novamente a cabeça enquanto me segurava firmemente, puxando-me para ele quando a tosse e as convulsões acalmaram e as bolsas de sangue finalmente pararam de me sair da boca.

Para minha surpresa, e apesar das dores que sentia, consegui manter-me extremamente direita enquanto agarrava, com todas as forças que me restavam, a manga da camisa que ele usava naquele dia.

- Não faças força... - Murmurou, acariciando-me a nuca e parte das costas quando, provavelmente, reparou que eu estava a tentar, literalmente, aspirar o ar para dentro dos pulmões. – Não forces... - Baixou o tom de voz para um sussurro, unindo a testa à minha.

ParaísoWhere stories live. Discover now