Quero construir uma história contigo

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Justin a narrar

- Porque eu amo-te, porra! – Gritei, arrependendo-me logo a seguir ao vê-la petrificada e assustada a olhar para mim. Respirei fundo, acalmando-me. – Angie, desculpa... - Sussurrei, sentando-me na cadeira e pendendo a cabeça para a frente, entrelaçando as mãos na minha nuca e descansando os cotovelos nos joelhos.

- O que é que queres? – Ouvi-a sussurrar, o que me fez levantar a cabeça e olhá-la, esperando em silêncio que ela desenvolvesse. – Diz-me o que queres com isto tudo, porque, sinceramente, eu não estou a perceber...

Ri-me em desdém e voltei a encarar o chão.

- O que é que eu quero...? – Sussurrei, mantendo um sorriso nos lábios. – Queres mesmo que eu diga a verdade? – Perguntei, olhando-a novamente, vendo-a assentir. Respirei fundo e respondi rapidamente. – Quero-te a ti... – Deixei de a ouvir respirar, mas ela ainda me olhava fixamente, por isso continuei. – Eu quero construir algo contigo, algo que mude a minha vida, eu quero... - Suspirei, reorganizando as minhas ideias. – Eu quero ter uma história contigo... é isso que eu quero... - Voltei a suspirar, controlando uma torrente de lágrimas que teimava em cair. Eu sei que a vou perder muito em breve, mas não me interessa, eu quero ficar com ela, pelo menos enquanto posso.

- Justin, por favor... - Ela lambeu os lábios, olhando para o chão. – Não faças isto; já te disse, isso é a dor da perda a falar. – E ela a dar-lhe!

- Não é! – Acho que acabei por falar mais alto do que o necessário, mas ela já me está a irritar com esta conversa. Porque raio é que é assim tão improvável que alguém a ame só porque sim?! – Não tem nada a ver com a dor da perda nem nada que se pareça. Eu amo-te, ok? E acredita em mim, eu pensei muito e perdi muitas horas de sono por causa disto e não podia estar mais certo do que sinto por ti, portanto, ou me dizes agora se sentes o mesmo ou calas-te, porque se tudo o que vais fazer é fazer-me acreditar numa mentira, então não vale a pena.

Olhei-a e vi o lábio inferior da sua pequena e pálida boca tremer, logo depois algumas lágrimas caíram dos seus olhos e escorreram pelas suas bochechas pálidas e aveludadas. Quase imediatamente, o meu coração pareceu encolher até ficar do tamanho de um mísero grão de areia, tamanho era o arrependimento que eu sentia ao falar com ela desta maneira, mas eu tinha que lhe dizer o que sentia de uma vez, e isto tinha corrido muito melhor se ela se tivesse limitado a ouvir-me e tivesse colaborado comigo. Parece que, faça eu o que fizer, as nossas conversas vão sempre acabar com ela a chorar e a odiar-me e eu a implorar-lhe por perdão.

- Justin, eu... - Baixei a cabeça, sabendo o que aí vinha. – Eu peço muita, muita desculpa... - Sussurrou, o que me fez olhar para ele de imediato. O que se passou aqui? Trocámos de papéis e eu não me apercebi? – Eu só...

- Angie... - Interrompi-a; não queria que ela continuasse, se tudo o que eu iria ouvir era «eu não sinto o mesmo».

Ela respirou fundo.

- Não, por favor, deixa-me continuar... - Suspirei e assenti, dizendo-lhe silenciosamente que podia continuar. – Justin... A verdade é que... Não és o único nesta sala que sente algo novo, algo com o qual não sabe lidar. – O coração quase me saltou da boca. Ia perguntar-lhe onde é que ela queria chegar com aquilo tudo, mas ela ergueu a mão, pedindo-me silêncio. E, claro, obedeci de boa vontade. – Sabes, o que eu sinto, surgiu no momento em que entraste por aquela porta pela primeira vez e desde aí só veio a crescer... e... eu nunca senti isto antes, por ninguém, e sentir-me assim, tão perdida, tão confusa... - Vi-a engolir em seco e o som da sua respiração profunda, trémula e hesitante preencheu o ar e chegou a mim, fazendo com que os meus tímpanos vibrassem. – Tão apaixonada por alguém que acabei de conhecer... não sei, não me parece muito correto, nem muito natural... e eu não sei onde é que isto vai parar.

Neguei com a cabeça, sem conseguir dizer nada. Os olhos dela fixavam-me, implorando para que eu dissesse alguma coisa, mas eu estava petrificado. Sim, ok, eu já supunha que ela gostava de mim, mas supor é uma coisa, ouvir da boca da pessoa é outra completamente diferente.

Angela a narrar

Eu sei, fiz mal em dizer-lhe isto, e mereço que me chamem de tudo, mas eu senti-me obrigada a fazer isto. Ele estava a ser tão frontal comigo... Ele vai ajudar-me a morrer, caramba, devo-lhe, pelo menos, um pouco de honestidade.

- Não vais dizer nada? – Sussurrei, respirando fundo. Minutos depois, vi-o negar com a cabeça, mantendo uma expressão apática no rosto e entreabrindo a boca. – Justin?

Pensei que ele tinha morrido de um ataque cardíaco fulminante e juro que estava prestes a chamar alguém para o ajudar, quando o seu peito moveu-se repentinamente, o que, confesso, me fez suspirar de alívio.

- Eu também estou assustado, sabes? – Engoli em seco, suspirando e olhando para o chão. – Quando penso no final que isto tudo vai ter... Quero dizer, eu estou a menos que 4 meses de te perder... mas... quando isso me vem à cabeça, eu tento convencer-me que, se calhar, perco mais se me recusar sequer a tentar. – Voltei a olhá-lo e absorvi as suas palavras. Vendo bem, o que ele dizia até fazia algum sentido. – Só te peço isso, que, pelo menos, me deixes tentar... Tu já admitiste, está tudo bem, não tens nada a perder...

Suspirei.

- Mas tu tens... - Sussurrei, voltando a baixar a cabeça. – É só disso que eu tenho medo... de morrer e de te deixar aqui, a sofrer com isso...

O som da sua gargalhada jovial e abafada pelas lágrimas que outrora caíram chegou aos meus ouvidos, fazendo-me olhá-lo com um ar intrigante.

- Vamos combinar uma coisa... Não vais pensar mais nos "e se's" e vais desfrutar do que eu te puder dar e, quando a hora chegar, vais deixar que eu me preocupe com a gestão dos meus sentimentos, está bem? – Ri-me das palavras dele, mas acabei por assentir, concordando com o que ele dizia. Vi-o aproximar-se ainda mais da parede de plástico e, instantaneamente, imitei o seu gesto e aproximei-me dele, dando o meu melhor para me aproximar o mais possível dele. Encostei a testa à nossa pequena barreira e fechei os olhos; podia imaginar o calor do seu corpo a envolver-me, os seus braços a abraçarem-me e os seus lábios contra a minha cabeça, beijando-me suavemente e murmurando palavrinhas de apoio. – Esta é a minha menina... - Sussurrou, fazendo com que o meu sorriso aumentasse ainda mais.


ParaísoWhere stories live. Discover now